Denúncias recorrentes de abandono em Uberlândia: a culpa é [só] da mãe?

Abandono em Uberlândia traz reflexões sobre o sistema de proteção da criança e do adolescente na cidade

31/07/2024 ÀS 12H02

- Atualizado Há 2 meses atrás

As denúncias de abandono em Uberlândia, envolvendo crianças, não é algo incomum na cidade. Mas o caso reportado no fim de semana, da mãe que abandonou as duas filhas, de seis e sete anos, sozinhas, sem alimentação e uma delas doente, chocou um pouco mais.

Meninas brincando com bonecas
Abandono em Uberlândia, de irmãs no bairro Pequis, foi relatado outras vezes – Foto: TV Paranaíba/Reprodução

Depois que o Paranaíba Mais divulgou a primeira informação sobre o resgate das crianças, inúmeras testemunhas procuraram a reportagem para informar que essa situação era recorrente.

Em julho de 2023, a Polícia Militar também precisou arrombar a casa para retirar as meninas de lá. Outros boletins de ocorrência envolvendo a família, bem como relatando o consumo de drogas e bebidas por parte da mãe, também foram registrados.

A coluna recebeu imagens dos bastidores desse abandono em Uberlândia. Em um dos vídeos, que me recuso replicar, as irmãs conversam com um dos vizinhos por uma fresta do portão. Ali elas contam que ficaram sozinhas a noite toda e que estavam famintas. Contam ainda que a mãe saiu, sem dizer para onde ir e quando voltar.

Na minha opinião, essa nem foi a parte mais triste de toda história. O difícil é saber que por várias vezes isso aconteceu e ninguém impediu. Ou melhor: tentaram impedir, mas houve omissão ou, no mínimo, alguma falha no acompanhamento do caso. De qual parte?

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Abandono em Uberlândia e as falhas no sistema de proteção

Algumas pessoas próximas a essa mãe alegam que ela não quer ser ajudada e também não aceita que ninguém cuida das crianças. Tanto que o Conselho Tutelar deixou as meninas com a avó, que, sob pressão e ameaças, disse que acabou devolvendo as meninas um dia após receber a guarda temporária.

Por outro lado, a mãe nega todas as acusações, embora assuma ter deixado as meninas algumas horas sozinhas. Justificou que não achava a atitude errada.

Relatos ainda informam que meninas abandonadas já ficaram até 5h na rua – Foto: TV Paranaíba/Reprodução

Se as denúncias de abandono em Uberlândia, envolvendo essas duas crianças, são recorrentes como as testemunhas alegam, eu me pergunto quando falharam os órgãos de proteção em resguardar essas meninas?

O Conselho Tutelar diz que a mãe estava bem e por isso o acompanhamento foi suspenso, porém, ela recaiu. Apuramos que todos esses casos também são repassados para a rede de proteção de crianças e adolescentes e a equipe multidisciplinar do Creas passa a acompanhá-los de perto.

O promotor de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente, Epaminondas da Consta, disse que já houve casos em que houve realmente falha nesse acompanhamento e as vítimas voltaram a ser expostas à violência ou outra situação de vulnerabilidade doméstica. Em um deles, a Promotoria chegou a processar a rede para reparação de dano moral da vítima por causa do que ele chamou de “ação desastrosa do Conselho Tutelar”.

Agora que a imprensa está em cima do caso, se espera uma atenção maior para garantir a segurança e a integridade física dessas crianças. Eu não tenho dúvidas que Conselho, Ministério Público e Judiciários vão dar uma resposta justa e à altura. Neste momento, está claro que a guarda materna não é saudável, nem responsável.

Para essa mãe eu desejo, do fundo do coração, que reconheça o quanto seu comportamento aos finais de semana tem sido nocivo para essas crianças. Que ela possa procurar ajuda, se cuidar, se restabelecer, preferencialmente, contando com uma boa rede de apoio.

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