Uruguaios resgatados de trabalho escravo foram tatuados para “marcar posse”
Três pessoas foram presas em flagrante e vão responder por tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, cárcere privado e outros crimes
-
Duas vítimas uruguaias resgatadas de trabalho análogo à escravidão no Triângulo Mineiro foram obrigadas a tatuar as iniciais de seus patrões como marca de “posse”. O caso foi descoberto durante a Operação Novo Amanhã, uma ação coordenada pela Polícia Federal (PF), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério Público do Trabalho (MPT), que libertou os estrangeiros no município de Planura. Três pessoas foram presas em flagrante e vão responder por tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, cárcere privado e outros crimes.

Segundo a Operação Novo Amanhã, as vítimas, um homem homossexual e uma mulher transexual, foram aliciadas com falsas promessas de emprego, moradia e acolhimento. Elas foram forçadas a viver em condições degradantes, sem remuneração, e sofreram ameaças e isolamento social. As investigações indicam que o grupo criminoso tinha como alvo principal pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade socioeconômica, utilizando plataformas digitais para atrair as vítimas.
📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp
Cárcere privado e tortura física
Uma das vítimas passou quase nove anos em cárcere privado, obrigada a realizar trabalhos domésticos e serviços em um estabelecimento comercial sem qualquer remuneração. Marcas de agressões físicas foram confirmadas por testemunhas e peritos. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), também havia indícios de exploração sexual, extorsão e abusos psicológicos.
Além do trabalho escravo, o homem resgatado foi coagido a fazer uma tatuagem com as iniciais dos patrões, um ato simbólico para representar a propriedade que os exploradores alegavam ter sobre ele.
Leia Mais
Resgate e prisão dos Suspeitos
Uma semana após o primeiro resgate, uma segunda vítima foi identificada: uma mulher transexual uruguaia, que também foi levada ao local sob falsas promessas e explorada em trabalho doméstico. Durante o período em que esteve na casa dos empregadores, sofreu um acidente vascular cerebral.
Os suspeitos foram encaminhados a um presídio da região. De acordo com a Polícia Federal, eles são um contador, um administrador e um professor, que mantinham um relacionamento poliafetivo. Já as vítimas estão sob cuidados da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), onde recebem suporte médico, psicológico e jurídico.
Minas Gerais lidera casos de trabalho escravo
Minas Gerais lidera como o estado com o maior número de empregadores envolvidos em práticas de trabalho análogo à escravidão no Brasil. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o estado concentra 21% dos casos registrados, totalizando 159 dos 745 empregadores listados no país.