Um mês após morte do gari, processo corre sob sigilo e delegada é investigada
Medida foi tomada após o vazamento de mensagens entre Renê e sua esposa, a delegada Ana Paula, que revelam o uso recorrente da arma dela por ele
Há um mês da morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, assassinato em Belo Horizonte após uma briga de trânsito, novos desdobramentos surgem. Parte do processo corre agora em sigilo judicial, a Corregedoria da Polícia Civil obteve acesso a dados do celular do assassino confesso, e a esposa dele, a delegada Ana Paula Balbino, é investigada por suspeita de envolvimento.

Sigilo decretado
Na última semana, a juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do Tribunal do Júri, determinou sigilo sobre as provas do processo, atendendo pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A medida foi tomada após o vazamento de mensagens entre Renê e a esposa, a delegada Ana Paula. Nas conversas, ele pede que ela entregue outra arma à polícia, revelando que usava o armamento dela de forma recorrente e irregular.
Segundo a magistrada, a restrição busca proteger o andamento das investigações, sem comprometer os atos processuais.
Delegada investigada
Ana Paula Balbino já havia sido indiciada por porte ilegal de arma de fogo, ao ceder a pistola usada no crime. Agora, a Corregedoria da Polícia Civil apura se ela deixou de agir ao saber do homicídio cometido pelo marido ou se tentou protegê-lo. A Justiça autorizou o acesso da Corregedoria a dados do celular de Renê Júnior, como ligações, mensagens, fotos e vídeos, inclusive os apagados.
A delegada está afastada do cargo desde 13 de agosto, sob licença médica, e poderá retornar às funções se não houver decisão judicial em contrário.

Linha do tempo e indiciamentos
Dezoito dias após o crime, Renê foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, ameaça e porte ilegal de arma. A Polícia Civil também apontou que, após matar Laudemir Fernandes, ele fez buscas na internet sobre as consequências de um assassinato, ouviu rádio para acompanhar a repercussão e seguiu a rotina normalmente. Vídeos mostram o empresário indo à empresa, passeando com os cães e falando ao celular como se nada tivesse ocorrido.
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Memória de Laudemir
Laudemir trabalhava na Localix Serviços Ambientais e era descrito por colegas e familiares como trabalhador, pacífico e dedicado à família. Ele deixou esposa, uma filha adolescente e duas enteadas.
O advogado Tiago Lenoir, que representa a família, destacou que o sigilo não deve prejudicar a busca por justiça. “A família quer apenas a verdade e a responsabilização dos culpados. A sociedade mineira clama por respostas diante da brutalidade do crime que vitimou um trabalhador honesto em pleno exercício de sua profissão”, disse.
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Próximos passos
Agora, o processo aguarda denúncia do Ministério Público, que definirá os próximos passos. Até lá, as investigações seguem em curso, com foco não apenas na responsabilização de Renê, mas também na apuração da conduta da delegada Ana Paula, sua esposa. Um mês após o crime, familiares, colegas de trabalho e moradores da região ainda clamam por justiça.
Como foi o crime
Na manhã de 11 de agosto, Laudemir Fernandes realizava a coleta de lixo quando o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, se irritou com o caminhão que estava parado na via. Testemunhas relataram que ele ameaçou a motorista e, em seguida, disparou contra o gari, que chegou a dizer “acertou em mim” antes de cair. Mesmo socorrido, Fernandes não resistiu ao ferimento no tórax.
Poucas horas depois, Renê foi localizado em uma academia no bairro Estoril e preso sem reagir. Ele confessou o crime dias depois, alegando discussão de trânsito.