Agressor muda versão após ser preso por espancar namorada com 60 socos
Preso por tentativa de feminicídio, ex-jogador Igor Cabral agora culpa drogas e “instabilidade emocional”; antes, alegava surto claustrofóbico
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Após espancar namorada com 60 socos dentro de um elevador em Natal (RN), o ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral apresentou diferentes versões para justificar o crime. Primeiro, afirmou ter tido um surto claustrofóbico e, na sequência, disse que agiu sob efeito de substâncias e instabilidade emocional. Já preso, divulgou uma nota pedindo perdão e mencionando um processo de “cura e recomeço”. Igor Eduardo está preso preventivamente e foi indiciado por tentativa de feminicídio.
O crime aconteceu no dia 26 de julho e foi flagrado por câmeras de segurança. A vítima, Juliana Garcia, sofreu fraturas múltiplas no rosto e no maxilar, e passou por uma cirurgia de reconstrução facial. Ao todo, foram mais de 60 socos, segundo as investigações da Polícia Civil, que indiciou o jogador por tentativa de feminicídio. O inquérito já foi encaminhado ao Ministério Público.
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Preso na Cadeia Pública Dinorá Simas, em Ceará-Mirim, o ex-atleta de 29 anos teria afirmado à polícia, logo após a prisão, que perdeu o controle devido a um surto causado pelo confinamento no elevador. Já em nota assinada e divulgada por seu advogado, Igor Eduardo mudou o tom:
“Lamento profundamente que minha conduta, influenciada por um contexto de uso de substâncias e instabilidade emocional, tenha contribuído para essa situação”.
Leia a carta na íntegra:
Nota à imprensa e à sociedade
Eu, Igor Eduardo P. Cabral, venho com profundo respeito, me manifestar diante dos acontecimentos recentes que abalaram tantas pessoas. Reconheço que houve dor, angústia e sofrimento, especialmente para Juliana, sua filha, sua família, bem como para os meus pais e demais entes queridos.
Lamento profundamente que minha conduta, influenciada por um contexto de uso de substâncias e instabilidade emocional, tenha contribuído para essa situação. Embora as circunstâncias ainda estejam sendo apuradas, sinto a necessidade sincera de expressar meu pedido de perdão a todos que, de alguma forma, foram afetados.
Não tenho intenção de justificar nada, tampouco minimizar o impacto dos fatos. Apenas desejo que Juliana consiga encontrar força para seguir em frente, com serenidade, coragem e paz. A ela, sua filha e sua família, envio minhas orações e meu mais genuíno respeito.
Enfrento o momento atual com humildade e esperança de que, com o tempo, todas as partes envolvidas possam encontrar caminhos de cura, reflexão e recomeço.
Com arrependimento e respeito,
Igor Eduardo P. Cabral
A defesa afirmou que apenas transcreveu para o papel o que foi dito por Igor Eduardo durante uma visita no presídio. Apesar do pedido de desculpas, a tentativa de justificar o crime com questões emocionais e dependência química foi encarada com indignação por movimentos de defesa dos direitos das mulheres e por usuários nas redes sociais.
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A Polícia Civil informou que essa não foi a primeira vez que Juliana Garcia foi vítima de violência praticada por Igor Eduardo. Em um formulário preenchido pela própria vítima, constam relatos de agressões anteriores, inclusive empurrões e violência psicológica. Ela também teria sido incentivada por ele a cometer suicídio. No dia da agressão mais recente, Juliana escreveu um bilhete aos policiais dizendo que permaneceu dentro do elevador porque já sabia que seria espancada, e que o agressor disse que iria matá-la. Ela não conseguia falar devido às lesões.
Atualmente, a vítima está internada e sem previsão de alta. A advogada dela, Renata Araújo, afirmou em nota que Juliana Garcia está se recuperando, mas em condição delicada. Flores e visitas externas estão proibidas por orientação médica.
Além da investigação pelo crime de tentativa de feminicídio, a Corregedoria do Sistema Prisional do Rio Grande do Norte também apura uma denúncia feita por ele próprio, que afirma ter sido agredido por policiais penais na cadeia. Segundo o jogador, ele foi colocado nu em uma cela isolada e agredido com socos, chutes, cotoveladas e spray de pimenta. Um exame de corpo de delito foi solicitado.
Agora, o caso está nas mãos do Ministério Público, que decidirá se formaliza a denúncia por tentativa de feminicídio. A pena para esse tipo de crime pode chegar a 30 anos de prisão.