Dia do Livro: ações e autores que resistem pelo cenário literário, em Uberlândia

No Dia Mundial do Livro, celebrado nesta terça-feira (23), Uberlândia se destaca com ações e nomes relevantes na literatura, como a escritora uberlandense Martha Pannunzio. Autora premiada e defensora da formação de leitores desde a infância, ela integra uma cena literária que segue ativa, apesar dos desafios enfrentados por bibliotecas, editoras e livrarias em todo o país.

Em meio aos desafios do cenário nacional de leitura, especialmente entre o público infantil, iniciativas voltadas à formação de leitores têm ganhado importância. Com o avanço das telas e a queda no acesso aos livros, ações  mostram que é possível despertar o interesse das crianças pela literatura desde cedo.

A escritora mineira Martha Pannuzio alerta para a necessidade urgente de fomentar o hábito da leitura desde a infância, destacando que a formação de leitores é essencial para a construção de uma sociedade mais crítica e participativa. “A formação cultural do povo brasileiro é urgente e necessária. E começa pela escola pública, com jornada integral e valorização do educador.”

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Graduada em Letras e em Comunicação Visual e Artes, Martha Pannuzio foi professora por mais de 30 anos e criou, no ano 2000, o projeto Cerrado e Letras, que recebe estudantes em sua fazenda para atividades de leitura, rodas de conversa e contato direto com suas obras. Para ela, a leitura é essencial, mas vem perdendo espaço na infância.

“Crianças de dois anos já sabem usar celulares e fazem birra para tê-los. Enquanto isso, o livro de papel é caro e não está presente nas casas de camadas menos favorecidas. Aqueles que têm mais acesso muitas vezes não precisam ler: o mundo já é deles”, critica.

Pannunzio acredita que o cenário atual é preocupante. “A leitura é minha segunda natureza. Mas hoje, nem livros, nem leitores. Nem editoras, nem livrarias. As bibliotecas públicas estão às traças”, lamenta. Ainda assim, ela mantém a esperança: “No Dia do Livro, presenteie uma criança com um livro de papel, bonito, inteligente. Talvez ali esteja nascendo um leitor.”

Entre suas obras mais conhecidas da autora estão Veludinho (1978), que lhe rendeu o Prêmio Jabuti na categoria de autora estreante, Os Três Capetinhas (1980), Bicho do Mato (1986) e Era Uma Vez Um Rio (2000). Seus livros exploram com profundidade o universo das infâncias, sempre dialogando com a natureza, a fantasia e os afetos.​

Entre suas indicações de leitura para o público infantil, estão clássicos brasileiros como:

• História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado
• O Reizinho Mandão, de Ruth Rocha
• A Reforma da Natureza, de Monteiro Lobato

​A literatura infantil é reconhecida por especialistas como uma ferramenta essencial no desenvolvimento integral das crianças, que influencia positivamente aspectos emocionais, sociais e cognitivos. Ao se identificarem com personagens e tramas, as crianças conseguem elaborar dúvidas e sentimentos, desenvolvendo empatia e habilidades socioemocionais. Além disso, a leitura estimula a criatividade, a concentração e a memorização, promovendo o interesse pelo mundo letrado e formando adultos criativos.

Dados que confirmam o cenário preocupante

A pesquisa “Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC” mostra a realidade crítica citada pela escritora. Apenas 45% das turmas de Educação Infantil no Brasil realizam atividades de mediação de leitura, e apenas 5% dessas ações são intencionais e pedagógicas. Embora 83% das unidades de educação possuam livros de histórias, apenas 10% oferecem acesso livre às crianças. A pesquisa também revela que 39% das turmas não incluem atividades literárias na rotina, e apenas 27% promovem momentos de leitura compartilhada.

Além disso, um estudo com crianças menores de 5 anos divulgado pelo Ministério da Saúde, aponta que 33% delas passam mais de duas horas por dia em frente a telas de TV, tablet ou smartphone. Os números fazem parte do Projeto Pipas, Primeira Infância Para Adultos Saudáveis.

Leitura em movimento: bibliotecas e eventos municipais

Em Uberlândia, a resistência à diminuição do hábito de ler segue resistindo por meio de ações e iniciativas culturais. A Biblioteca Pública Municipal Juscelino Kubitschek, por exemplo, oferece à comunidade mais de 40 mil títulos para empréstimo, além de oficinas, palestras, cursos, exposições, contações de histórias e apoio pedagógico.

Um dos seus diferenciais é o atendimento a pessoas com deficiência visual, por meio da Sala de Braille Inhazinha Vilela, que disponibiliza acervo em língua tátil, promove atividades de alfabetização, desenvolvimento motor e oferece óculos ORCAM MyEye2, com tecnologia de inteligência artificial que auxilia na leitura de obras físicas.

A cidade conta ainda com a Biblioteca Sucursal do bairro Presidente Roosevelt, primeira sucursal da biblioteca municipal, criada em parceria com o Sesi. Com um acervo de mais de 7 mil títulos, a unidade oferece também uma gibiteca, brinquedos pedagógicos, computadores para pesquisa e atividades culturais como contações de histórias, hora do vídeo e oficinas criativas. A rede de incentivo à leitura se estende por meio de 11 minibibliotecas, distribuídas por diferentes bairros.

Eventos como o Sarau Gotas Poéticas e o Sarau de Escritores, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura, também têm papel fundamental no estímulo à leitura e escrita. A Universidade Federal de Uberlândia colabora com esse cenário através da sua Livraria da Edufu, que oferece publicações da editora universitária e títulos de editoras parceiras.

Destaque ainda para a Parada Literária, promovida pela Prefeitura por meio da Secretaria Municipal de Educação, que em sua primeira edição mobilizou todas as 122 escolas da rede municipal, com atividades lúdicas e literárias, e mais de 20 mil livros adquiridos para fomentar o hábito da leitura entre crianças e adolescentes.