Saiba o que pode desencadear ataques de cães; especialistas analisam comportamento de pitbulls
Dados do Corpo de Bombeiros apontam que, somente na região do Triângulo Mineiro, 333 pessoas foram vítimas de mordidas em 2025, envolvendo cães de todas as raças
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Dados do Corpo de Bombeiros revelam que, apenas em 2025, 333 pessoas foram vítimas de mordidas de cães no Triângulo Mineiro. As ocorrências, envolvendo animais de diversas raças, foram registradas em cidades como Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Araguari, Araxá, Frutal, Iturama e Ituiutaba. Em entrevista exclusiva, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Allisson Benatti Justino, e o adestrador comportamental Gustavo Marques analisam os fatores que influenciam o comportamento dos cães, incluindo os casos envolvendo pitbulls.

As ocorrências de ataques de cães foram registradas em Uberlândia (132), Uberaba (92), Patos de Minas (28), Araguari (21), Araxá (19), Frutal (16), Iturama (8) e Ituiutaba (7).
Embora a raça pitbull costume aparecer em destaque quando o assunto é violência canina, uma pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, publicada no Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, mostra um panorama diferente.
O estudo analisou 20 mil casos de ataques por cães e entrevistou 594 pessoas. O resultado mostrou que o vira-lata ou cão sem raça definida (SRD) foi responsável por 48,4% dos ataques, seguido pelo poodle (7,4%), pitbull (5,9%) e pastor alemão (5,7%).
Ainda segundo o levantamento, 57,6% dos casos ocorreram dentro de casa e 56,2% envolveram pessoas conhecidas ou da própria família. Em 80,4% das vezes, os ataques causaram lesões leves e as vítimas mais comuns foram crianças e adolescentes entre 5 e 14 anos.
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Ambiente pesa mais que o DNA
Segundo o professor Allisson Benatti Justino, os pitbulls compartilham características genéticas como músculos bem desenvolvidos, alta energia e grande resistência física; por exemplo, variantes de genes como MSTN (miostatina), que regula o crescimento muscular.
“Quanto à agressividade, apesar da fama, não há evidências científicas sólidas de que os pitbulls sejam geneticamente mais propensos à agressividade do que outras raças. O comportamento canino é um traço complexo, influenciado por muitos genes e, principalmente, pelo ambiente em que o cão é criado”, cita Justino.
O professor também destaca que a ciência já identificou alguns marcadores genéticos associados à impulsividade e reatividade.
“Estudos já identificaram alguns genes (como o MAOA e o DRD4) que estão ligados a impulsividade e reatividade em cães, mas essas variantes não são exclusivas dos pitbulls e, sozinhas, não determinam se um animal será agressivo. O que mais pesa, segundo especialistas, é a forma como o cão é socializado, treinado e tratado. Ou seja, a genética contribui, mas não condena.”
Comportamento de pitbulls
De acordo com o adestrador comportamental Gustavo Marques, cães de pequeno porte também podem causar danos graves a crianças, mas isso é pouco divulgado.
“O principal erro dos tutores é não entender sobre limites, hierarquia e treinamento. Estimular demais um cão energético, achando que ele vai se cansar, tem o efeito contrário: quanto mais estímulo, mais ele quer — porque foi feito para o trabalho.”
A recomendação dos especialistas em comportamento animal é que todos os cães, independentemente da raça, podem apresentar comportamentos agressivos se estiverem sob estresse, dor ou negligência. A prevenção está no cuidado contínuo, educação dos tutores e promoção de ambientes equilibrados.
“O pitbull é como qualquer outro cão. Se crescer sem regras ou autoridade, vai agir como quiser — como faria um shih tzu, poodle ou bulldog. A diferença é a potência: ele tem uma capacidade lesiva muito maior que cães de raças pequenas,” diz Gustavo Marques.
O que diz a lei?
Em janeiro de 2025, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promulgou recentemente a Lei 25.165, que reforça a proibição da entrada e procriação de raças como pit bull, rottweiler, dobermann, fila brasileiro e similares.
A legislação estabelece ainda que cães dessas raças que já vivem no estado só poderão circular em espaços públicos com focinheira e coleira com identificação, sendo conduzidos exclusivamente por pessoas maiores de 18 anos.
O descumprimento da lei pode gerar multa de R$ 553,10 — valor que pode subir para mais de R$ 15 mil em casos de ataques com lesões corporais graves, de acordo com a gravidade e os danos causados à vítima.
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Indícios de ataque
Cães geralmente dão indícios antes de atacar, e identificar esses sinais pode ser fundamental para prevenir uma situação de risco. Postura rígida, rosnados baixos, exposição dos dentes, pelos eriçados e orelhas para trás ou eretas são alertas clássicos.
Outros sinais, como bocejos frequentes, lambidas excessivas no focinho e olhar fixo, também podem indicar desconforto ou estresse.
Conforme os especialistas, vários fatores podem levar um cão a agir com agressividade. A dor, por exemplo, é uma das principais causas de reatividade.
Um cão que sofre de algum problema de saúde ou sente dor pode atacar como forma de autoproteção.
Situações de medo ou insegurança, falta de socialização com outros animais ou pessoas, frustração, estresse acumulado, experiências traumáticas e instintos protetores também são gatilhos comuns.
Como evitar e reagir a ataques de cães
Para evitar ser alvo de um ataque, o ideal é manter a calma e não fazer movimentos bruscos ao notar que um cão está agitado. do. Jamais tente encurralar, gritar ou agredir o animal.
O recomendado é desviar o olhar sem virar totalmente de costas, falar em tom calmo e se afastar devagar, sem correr. Caso o cão esteja solto na rua e demonstrando agressividade, procure uma barreira entre vocês, como uma lixeira, bicicleta ou banco.
Se, mesmo com esses cuidados, um ataque ocorrer, algumas atitudes podem minimizar os danos. Especialistas recomendam manter a calma e adotar medidas para minimizar os danos:
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Evite movimentos bruscos e contato visual direto, pois isso pode ser interpretado como ameaça pelo cão.
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Não corra; tente se afastar lentamente, de costas, sem virar as costas para o animal.
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Se o ataque for iminente, utilize objetos como bolsas ou mochilas para criar uma barreira entre você e o cão.
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Caso seja derrubado, proteja áreas vitais como pescoço e rosto, adotando uma posição fetal.
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Após o ataque, lave imediatamente o ferimento com água e sabão, aplique uma compressa limpa para estancar o sangramento e procure atendimento médico para avaliação e possíveis vacinas, como a antirrábica e antitetânica.