Walter Salles evita falar de Oscar, mas não de como Ainda Estou Aqui chegou lá
Essa é terceira vez que um filme de Walter Salles chega ao Oscar e a narrativa dele com a família Montenegro/Torres pode render premiação
-
Uma campanha para o Oscar também leva em consideração narrativas e o fato da direção de Walter Salles ter sido completada com indicações ao prêmio, em 1999, de Fernanda Montenegro e, em 2025, da filha dela, Fernanda Torres, é uma bela história.
Pode-se dizer que Salles é um habitué da premiação da Academia americana de cinema. Central do Brasil no fim da década de 1990 foi apenas a primeira vez que ele pôde estar no tapete vermelho do Oscar. O realizador ainda voltaria com Diários de Motocicleta, em 2005, quando o longa concorreu a Melhor Roteiro Adaptado e venceu o prêmio de canção, com a bela “Al Otro Lado Del Río”.
Demorou algum tempo, mas Ainda Estou Aqui chegou à indicação de Melhor Filme neste ano. Reconhecimento que por mais forte que seja, não suscita muitos comentários sobre a disputa em si por parte de Salles.

Em várias entrevistas, o diretor prefere comentar o contexto da adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva. “Não é só sobre o passado”, já disse. Salles citou em diferentes momentos que a trama sobre como um homem é separado de sua família de maneira criminosa por uma ditadura reflete o retrocesso que parte da sociedade buscou nos últimos anos mesmo vivendo numa democracia.
É o artista que capta o espírito de sua época com olhos bem atentos que avisam sobre o mal na esquina à frente. “Com a chegada ao poder da extrema direita, o filme também passou a ser sobre nosso presente”, disse o cineasta em entrevista ao jornal Estado de Minas, ainda em 2024.
OK, Salles já se orgulhou da história construída em festivais e premiações e sobre o Oscar. “O filme continua nos surpreendendo. Jamais poderia imaginar que chegaria até aqui”, disse à jornalista Fernanda Ezabella, em matéria para Folha de S. Paulo. Mesmo que ele tenha deixado claro que não vê Ainda Estou Aqui como favorito ao prêmio da Academia.
📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp
E já que narrativas podem render uma estatueta, nada como olharmos para o capítulo um entre Torres e Salles. Lançado em 1996, Terra Estrangeira foi a primeira colaboração da atriz com o diretor.
O filme é um dos marcos na reconstrução do cinema brasileiro, durante a chamada Retomada. Não deixa de ser o reflexo de uma época de desilusão para a indústria cinematográfica nacional, que voltava a embalar depois período de baixa produção.
Era a dupla de Ainda Estou Aqui fazendo história pela primeira vez.
Naquele mesmo ano o Brasil voltaria ao Oscar com a indicação de O Quatrilho ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.