Fernanda Torres no Oscar traz luz a personagens femininas importantes do cinema nacional

De Cabra Marcado para Morrer a Ainda Estou Aqui: ambientes hostis e personagens femininas formaram obras de renome do Cinema do Brasil

, em Uberlândia

-

A indicação ao Oscar para Fernanda Torres não só levou a atriz brasileira para o público estadunidense, como pode fazer com que o próprio público brasileiro olhe para trás e descubra outras personagens femininas que fizeram o cinema nacional. Todas com força ante a um ambiente hostil.

Um dos pontos mais interessantes do roteiro de Ainda Estou Aqui é trazer a esposa do deputado Rubens Paiva, que já teve sua história contada, para frente da história.

Aqui vemos a dona de casa Eunice se transformar em vítima da ditadura tanto quanto seu marido, inclusive de tortura, e como isso a motivou a não só lutar pelo reconhecimento do assassinato do marido, como ainda mudar mais uma vez e ressurgir como uma jurista relevante no país na defesa do indígenas. Tudo isso sendo arrimo de família para seus filhos.

Romana, Eunice e Elizabeth: três das importantes personagens do Cinema do Brasil – Crédito: Divulgação

“Essa mulher viu a família desmoronar. Criou esses cinco filhos sozinhas depois de um trauma. Ela suporta essa dor em silêncio e resolveu manter uma ‘normalidade’ da família. Ela não chora no filme. Vamos falar sobre as questões estéticas, quais estratégias foram usadas pelo diretor Walter Salles para criar essa experiência sensível: aquele rosto que tenta esconder a dor, os ombros altos, a testa tensa, o apertamento dos maxilares são mostrados e os gestos de Fernanda/Eunice são capturados sensivelmente, a câmera bem próxima da personagem”, explicou a professora universitária de Cinema, Iara Magalhães.

📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp

O que ela lembra é que esse tipo de papel ressalta o que foi mostrado em um dos documentários mais importantes da filmografia brasileira: Cabra Marcado para Morrer, de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho.

Em tese este é um filme sobre João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba, assassinado em 1962. Coutinho começou a filmar o doc quando ele foi morto, mas parou por conta do Golpe Militar de 1694. Só voltou na década de 80 à história, mas dessa vez percebeu que havia mais ali – e este extra era a mulher do homem assassinado: Elizabeth Teixeira.

“Ele (Coutinho) fez mais dois ou três filmes sobre essa personagem feminina que não teve a oportunidade de juntar a sua família. Pelo contrário, a sua família se espalhou”, disse Iara.

E quando você conhece essa história, você também descobre que por meio da mulher existiu toda uma luta de ligas camponesas na região paraibana.

Fernanda-Mãe e Oscar

Num contexto sobre disputas sindicais e filmado ainda na ditadura militar, em 1980, o longa Eles Não Usam Black Tie é lembrado pela professora também por conta da personagem Romana, vivida por Fernanda Montenegro, mãe de Torres. A Fernanda-Mãe, inclusive, foi apontada por Iara mais uma vez pelo trabalho em Central do Brasil, quando, pela primeira vez uma brasileira foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, em 1999.

“Naquele ano, contudo, a indicação foi a vitória par ao Brasil”, já salientou diversas vezes o crítico e pesquisa Waldemar Dalenogare.

O  caso é que as indicações da família Montenego-Torres trazem não só uma validação para o Cinema no Brasil, mas, por duas vezes, colocou a produção cinematográfica brasileira na cena internacional, apontou Iara Magalhães.

“O filme O Último Azul ganhou o prêmio do júri em Berlim e domingo vamos torcer para Ainda Estou Aqui, um filme que abre brechas para passado e para o futuro. Para o passado pela importância de se lutar pela elaboração de uma memória e para futuro para que ditaduras nunca mais aconteçam”, afirmou ela.

×

Leia Mais