Rota do Zebu: a história e as curiosidades da BR-262, a estrada da pecuária mineira

Trecho entre Uberaba e Betim é essencial para o escoamento agropecuário e a expansão e melhoramento genético do gado no Brasil

, em Uberlândia

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A BR-262, entre Uberaba e Betim, em Minas Gerais, inicia um novo capítulo com a gestão da concessionária Way-262, a partir desta quinta-feira (20). Conhecida como Rota do Zebu, a rodovia de 438,9 quilômetros não é apenas um corredor logístico essencial para o estado: ela carrega uma história curiosa ligada ao gado que ajudou a moldar a identidade do Triângulo Mineiro. Mas afinal, por que “Rota do Zebu”?

Uberaba, berço do gado zebu no Brasil, dá nome ao trecho da rodovia, fundamental para o transporte e a economia da região – Crédito: Cristiano Machado / Imprensa MG/ Arquivo

O apelido da BR-262 vem de Uberaba, considerada a “capital mundial do zebu”, uma raça bovina originária da Índia que chegou ao Brasil no século XIX.

Em 1889, o pecuarista Antonio Borges de Araújo trouxe a Uberaba um dos primeiros animais da raça ao país, o touro Lontra. Na época, as viagens chegavam a demorar cerca de 40 dias, devido a travessia do mar.

A região, com as vastas pastagens, tornou-se o berço do melhoramento genético do zebu, adaptado ao clima tropical e hoje presente em mais de 80% do efetivo bovino nacional. Uberaba celebra essa herança com o Museu do Zebu e a ExpoZebu, uma das maiores feiras pecuárias do mundo.

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Curiosamente, a BR-262 não é só sobre bois. Construída na década de 1960 e pavimentada nos anos 1970, a rodovia atravessa 20 municípios mineiros e já foi palco de histórias inusitadas.

Uma delas é a lenda local de que, nos primeiros anos, caminhoneiros relatavam “engarrafamentos” causados por tropeiros guiando rebanhos de zebu pela estrada, antes que as cercas se tornassem comuns.

Atualmente, com um tráfego diário de 74 mil veículos, a rota é essencial para escoar a produção agropecuária, mas ainda preserva trechos sinuosos e apenas 90 km duplicados — um desafio que a nova concessão promete enfrentar.

Rodovia que corta Minas Gerais entre Uberaba e Betim é fundamental para o escoamento agropecuário – Crédito: Programa de Parcerias para Investimentos/ Reprodução

A BR-262 é parte de uma rodovia que corta o Brasil de ponta a ponta, de Vitória (ES) a Corumbá (MS), mas o trecho mineiro ganhou fama própria por sua ligação com o zebu.

Com a Way-262 assumindo a gestão, o plano é modernizar a estrada com duplicações, viadutos e até passagens de fauna, mas sem apagar o legado de uma região onde o gado ainda é rei.

Animal sagrado na Índia

Para os hindus, que formam a maioria da população indiana, bois e vacas — incluindo as raças zebuínas — são considerados animais divinos, associados à fertilidade e à prosperidade. Por lá, eles não podem ser abatidos, e matá-los pode levar a penas severas, como prisão perpétua em alguns estados.

Enquanto no Brasil o zebu virou sinônimo de produtividade na pecuária, na Índia ele é reverenciado como um símbolo religioso, muitas vezes livre para circular pelas ruas.

Um terço das vacas do mundo vive na Índia – Crédito: Jedraszak/iStock