A mobilidade sustentável como caminho para o futuro

Investimentos em transporte público, ciclovias e tecnologias limpas são cruciais para frear impactos ambientais e promover cidades mais humanas

, em Uberlândia

A mobilidade sustentável deixou de ser uma tendência para se tornar uma necessidade urgente diante dos desafios climáticos, da urbanização acelerada e da busca por qualidade de vida nas cidades. Com o crescimento das metrópoles e o aumento da frota de veículos, é cada vez mais evidente a importância de repensar como nos deslocamos.

Nesse contexto, soluções como transporte coletivo eficiente, infraestrutura cicloviária, uso de veículos elétricos e incentivo à caminhada ganham protagonismo como pilares de um futuro mais limpo e acessível.

A palavra-chave central deste artigo é mobilidade sustentável, conceito que envolve não apenas a redução das emissões de poluentes, mas também a promoção da inclusão social, acessibilidade e eficiência energética nos sistemas de transporte.

A mobilidade sustentável como caminho para o futuro
A mobilidade sustentável como caminho para o futuro – Crédito: Freepik/Canva

O que é mobilidade sustentável?

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional, mobilidade sustentável é aquela que “prioriza o deslocamento de pessoas e bens de forma eficiente, segura, inclusiva e com o menor impacto ambiental possível”.

O conceito ganhou força com a Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012), que estabelece princípios como a equidade no acesso aos meios de transporte e a prioridade ao transporte não motorizado e coletivo.

Segundo dados do IBGE, mais de 85% da população brasileira vive em áreas urbanas, o que torna o tema ainda mais relevante para o país. O crescimento desordenado das cidades gerou problemas como congestionamentos, poluição atmosférica e exclusão social, evidenciando a necessidade de modelos de deslocamento mais sustentáveis.

Impactos do modelo atual de transporte

O atual modelo de mobilidade baseado no automóvel particular traz consequências graves. O transporte é responsável por cerca de 25% das emissões globais de CO₂ relacionadas à energia, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). No Brasil, esse número é ainda mais alarmante, chegando a 47% das emissões do setor de energia, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima.

Além das questões ambientais, o excesso de veículos afeta diretamente a saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a poluição do ar mata 7 milhões de pessoas por ano no mundo.

Soluções para um futuro mais sustentável

1. Transporte público eficiente

A prioridade ao transporte coletivo é uma das formas mais eficazes de reduzir o número de veículos nas ruas e as emissões de poluentes. Cidades como Curitiba (PR) e Bogotá (Colômbia) são referências mundiais em sistemas de ônibus rápidos (BRT), que oferecem agilidade e conforto.

Especialistas defendem que investimentos em metrôs, trens e ônibus elétricos devem estar no centro das políticas públicas. “O transporte público é a espinha dorsal da mobilidade urbana sustentável”, afirma Ilan Cuperstein, vice-diretor do C40 Cities para a América Latina, rede global de cidades comprometidas com o combate à crise climática.

2. Incentivo ao uso da bicicleta

A bicicleta é um meio de transporte limpo, barato e eficiente. Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), cerca de 40% das viagens urbanas no Brasil têm até 5 km de distância — percurso ideal para ser feito de bicicleta ou a pé.

Cidades como Amsterdam, Copenhague e Paris têm investido pesadamente em ciclovias e políticas de incentivo à bicicleta. No Brasil, São Paulo já conta com mais de 700 km de malha cicloviária e iniciativas como o programa Bike Sampa ajudam a popularizar esse meio de transporte.

A mobilidade sustentável deixou de ser uma tendência para se tornar uma necessidade urgente
A mobilidade sustentável deixou de ser uma tendência para se tornar uma necessidade urgente – Crédito: Freepik

3. Veículos elétricos e tecnologias limpas

A transição para uma frota de veículos elétricos também é parte essencial da mobilidade sustentável. Embora ainda representem uma fatia pequena no mercado brasileiro, os carros elétricos e híbridos vêm ganhando espaço.

Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil ultrapassou a marca de 200 mil veículos eletrificados em 2024, com crescimento de 91% em relação ao ano anterior. O Plano Nacional de Eletromobilidade, anunciado pelo Governo Federal, visa ampliar ainda mais esse número nos próximos anos.

4. Urbanismo sustentável e caminhabilidade

Promover cidades onde é possível andar a pé com segurança e conforto é outro pilar da mobilidade sustentável. Isso exige calçadas acessíveis, iluminação pública, arborização e planejamento urbano integrado.

O conceito de “cidade dos 15 minutos”, proposto pelo urbanista Carlos Moreno e adotado por Paris, propõe que todas as necessidades básicas — como escola, trabalho e comércio — estejam a até 15 minutos de caminhada ou pedalada da residência. Essa abordagem reduz a dependência de transportes motorizados e melhora a qualidade de vida.

O papel das políticas públicas

A transformação da mobilidade urbana não acontecerá sem um forte engajamento dos governos. A integração entre políticas de transporte, habitação, uso do solo e meio ambiente é fundamental.

A Agenda 2030 da ONU, por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS 11), estabelece como meta “proporcionar acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos”.

No Brasil, o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) inclui obras de mobilidade urbana com foco na sustentabilidade, como corredores de ônibus, integração de modais e projetos cicloviários.

A transição para uma frota de veículos elétricos também é parte essencial da mobilidade sustentável
A transição para uma frota de veículos elétricos também é parte essencial da mobilidade sustentável – Crédito: Freepik

Desafios para a mobilidade sustentável no Brasil

Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos. A falta de financiamento, a má gestão pública e a resistência cultural ao abandono do carro são obstáculos frequentes.

A economista e urbanista Clarisse Cunha Linke, diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), afirma que “o maior desafio é convencer as autoridades de que a mobilidade sustentável precisa de prioridade política e orçamentária”.

Além disso, a mobilidade ainda é desigual no país. Segundo pesquisa do Datafolha de 2023, mais da metade dos brasileiros gastam mais de 1h por dia em deslocamentos, e a maioria deles são trabalhadores de baixa renda e usuários do transporte coletivo.

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Caminhos para o futuro: inovação e participação cidadã

A inovação tecnológica é aliada na construção de soluções. Aplicativos de mobilidade urbana, como Moovit e Google Maps, já ajudam milhões de pessoas a planejar rotas sustentáveis. Plataformas de caronas, bicicletas compartilhadas e veículos sob demanda também fazem parte dessa revolução.

Mas a mobilidade sustentável não é apenas uma questão técnica: é também uma questão de participação social. Organizações da sociedade civil, coletivos de ciclistas, ONGs ambientais e moradores devem ser ouvidos nos processos de planejamento urbano.

Como disse a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da USP, “a cidade é um direito de todos, e a forma como nos movemos diz muito sobre quem tem acesso a esse direito”.