Previsões meteorológicas: uma ciência em evolução
Avanços tecnológicos, uso de inteligência artificial e dados em tempo real estão revolucionando a meteorologia no Brasil e no mundo
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As previsões meteorológicas são parte essencial do nosso cotidiano, influenciando desde decisões simples, como levar um guarda-chuva, até ações estratégicas em áreas como agricultura, aviação, defesa civil e energia. Nas últimas décadas, essa ciência passou por um processo intenso de evolução, impulsionado por supercomputadores, satélites, sensores e, mais recentemente, pela inteligência artificial (IA).
A busca por previsões mais precisas, confiáveis e em tempo real tornou-se um desafio global. Instituições como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) têm liderado esse movimento, reforçando a importância da ciência meteorológica para a sociedade.

A importância das previsões meteorológicas
As previsões meteorológicas desempenham um papel vital na prevenção de desastres naturais e na mitigação de impactos socioeconômicos. Eventos extremos, como tempestades, secas, enchentes e ondas de calor, têm se tornado mais frequentes em virtude das mudanças climáticas. De acordo com relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), entre 1970 e 2019, desastres relacionados ao clima causaram mais de 2 milhões de mortes e prejuízos superiores a US$ 3,64 trilhões em todo o mundo (OMM, 2021).
No Brasil, o INMET e o CPTEC/INPE têm papel estratégico ao fornecer alertas e boletins que ajudam a orientar órgãos públicos, empresas e a população. Em 2023, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou investimentos de R$ 370 milhões para modernizar o sistema nacional de meteorologia, ampliando a cobertura de radares e promovendo o desenvolvimento de novos modelos de previsão (MCTI, 2023).
Como funcionam os modelos de previsão?
A base da previsão do tempo está na modelagem numérica da atmosfera. São utilizados supercomputadores capazes de processar grandes volumes de dados atmosféricos — temperatura, pressão, umidade, vento, radiação solar — coletados por estações meteorológicas, satélites e balões meteorológicos.
Esses dados alimentam modelos matemáticos, que simulam o comportamento da atmosfera em curto, médio e longo prazos. Entre os principais modelos utilizados mundialmente estão:
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GFS (Global Forecast System) – modelo norte-americano gerenciado pela NOAA (NOAA).
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ECMWF (European Centre for Medium-Range Weather Forecasts) – modelo europeu reconhecido pela alta precisão.
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WRF (Weather Research and Forecasting) – amplamente utilizado para estudos regionais e pesquisa.
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BAM (modelo brasileiro do CPTEC) – modelo nacional voltado para o território brasileiro, em constante desenvolvimento.
Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, os modelos “não adivinham o tempo, mas projetam cenários com base em equações físicas. Quanto melhor a qualidade dos dados iniciais e maior a capacidade de processamento, mais precisa será a previsão”.

A revolução da inteligência artificial na meteorologia
A inteligência artificial (IA) está transformando a meteorologia ao acelerar o processamento de dados e refinar os modelos de previsão. Em 2023, o Google DeepMind apresentou o GraphCast, modelo de IA capaz de prever o tempo com até 10 dias de antecedência, com precisão similar ou superior a modelos tradicionais.
Além disso, ferramentas como o Nowcasting, que usam redes neurais e aprendizado de máquina, permitem prever fenômenos em curtos intervalos de tempo (minutos a poucas horas), com alta precisão espacial — ideal para prever chuvas intensas ou tempestades localizadas, por exemplo.
O uso de IA no Brasil já é uma realidade. O INMET anunciou em 2024 uma parceria com universidades e centros de pesquisa para aplicar inteligência artificial na análise de grandes volumes de dados meteorológicos em tempo real, com foco em prevenção de desastres e planejamento urbano.
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Tecnologias e equipamentos a serviço da previsão
A evolução das previsões meteorológicas está diretamente ligada ao avanço tecnológico. Satélites geoestacionários, radares meteorológicos, sensores remotos e estações automáticas de coleta de dados (como as do INMET, que já somam mais de 800 em todo o país) são parte do ecossistema que permite monitoramento constante da atmosfera.
O Brasil conta ainda com o supercomputador Tupã, do INPE, e está em processo de implantação de uma nova máquina de alta performance no INMET, com capacidade de realizar mais de 5 quadrilhões de operações por segundo, o que deve tornar as previsões mais rápidas e detalhadas.
De acordo com o diretor do INMET, Miguel Ivan Lacerda, “o uso de tecnologia de ponta nos permite antecipar com maior precisão eventos extremos, como o ciclone extratropical que atingiu o Sul do Brasil em 2023, evitando perdas humanas e materiais”.
A previsão na palma da mão
Com o avanço dos aplicativos e das plataformas online, as previsões meteorológicas se tornaram acessíveis para qualquer cidadão. Ferramentas como Climatempo, AccuWeather, Windy e Weather Channel oferecem atualizações em tempo real, mapas interativos e alertas de risco.
Segundo o relatório da Statista de 2023, aplicativos de previsão do tempo estão entre os mais baixados na categoria “utilitários” no Brasil, evidenciando a crescente demanda da população por informações confiáveis e atualizadas.
Além disso, redes sociais se tornaram canais importantes de divulgação. Meteorologistas como Márcio Gomes (ex-INMET) e Samanta Pineda acumulam milhares de seguidores, oferecendo análises didáticas e alertas em linguagem acessível.

Desafios atuais e o impacto das mudanças climáticas
Apesar dos avanços, a previsão do tempo ainda enfrenta limitações. A atmosfera é um sistema caótico, e pequenas variações nas condições iniciais podem gerar cenários muito diferentes — o chamado “efeito borboleta”. Por isso, previsões para períodos superiores a 10 dias são geralmente pouco confiáveis.
Outro desafio crescente é o impacto das mudanças climáticas. O aumento da frequência e da intensidade de fenômenos como El Niño e La Niña exige adaptações nos modelos climáticos e reforça a necessidade de monitoramento contínuo e cooperação internacional.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é esperado que eventos extremos se tornem mais severos nas próximas décadas, tornando ainda mais crucial o desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado e respostas rápidas (IPCC, 2021).
A confiabilidade das previsões está aumentando
Estudos indicam que a precisão das previsões meteorológicas melhorou significativamente nos últimos 40 anos. Segundo dados do ECMWF, a previsão de 5 dias feita em 2023 é mais precisa do que a de 3 dias feita em 1990. Isso reflete o progresso tecnológico e científico da área.
A previsão de chuvas e tempestades localizadas ainda é um dos maiores desafios, principalmente em regiões tropicais como o Brasil. Por isso, a combinação entre modelos numéricos, inteligência artificial e conhecimento local dos meteorologistas é essencial para interpretar os dados corretamente e gerar previsões assertivas.
O futuro da meteorologia
O futuro das previsões meteorológicas caminha para a personalização e hiperlocalização. Em breve, será possível receber alertas personalizados baseados no trajeto do usuário, na sua rotina ou na localização exata do seu imóvel rural, por exemplo.
A tendência é que os sistemas sejam integrados com dispositivos de internet das coisas (IoT), veículos autônomos e até mesmo com redes elétricas inteligentes, otimizando o consumo de energia com base nas condições meteorológicas previstas.