Histórico de estiagem revela piores períodos de seca no Triângulo e Alto Paranaíba
Conforme levantamento realizado pelo geógrafo William Borges, nas últimas três décadas, os períodos de estiagem têm se tornado mais prolongados e irregulares
O Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, regiões inseridas no domínio tropical, convivem historicamente com duas estações bem definidas, o período chuvoso, de outubro a abril, e a seca, entre maio e setembro. A estiagem é um fenômeno natural, mas, ao longo das décadas, alguns anos se destacaram pela intensidade e pelos impactos na agricultura, no abastecimento e até na geração de energia. Conforme um levantamento realizado pelo geógrafo William Borges, nas últimas três décadas, os períodos de estiagem têm se tornado mais prolongados e irregulares.

Histórico de estiagem
De acordo com o meteorologista Denis Garcia e os registros das estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a estiagem atual já ultrapassa 60 dias em parte da região. Os últimos dias de chuva registrados foram:
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Uberlândia, Uberaba e Sacramento – 06/08 (22 dias sem chuva)
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Ituiutaba e Campina Verde – 24/06 (65 dias sem chuva)
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Patos de Minas – 11/06 (78 dias sem chuva)
Segundo dados do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, foram registradas 117 ocorrências em áreas urbanas e florestais apenas em julho, elevando para 531 o total de registros em 2025.
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Década de 1960: a grande seca de 1963/64
Considerada uma das mais severas do século XX em Minas Gerais, a estiagem de 1963/64 deixou marcas. No Triângulo Mineiro, a agricultura foi afetada com intensidade, e relatos da época apontam para a morte de rebanhos inteiros devido à falta de pasto e de água.
1985/1986: estiagem em meio à expansão agrícola
Nos anos 1980, o Cerrado passava por expansão agrícola. Foi nesse contexto que a seca de 1985/86 trouxe prejuízos grandes. Diversos municípios da região registraram racionamento de água e fragilidade da infraestrutura hídrica diante de longos períodos sem chuva.
1999/2000: início do milênio marcado pela seca
A virada do século também ficou marcada por estiagens. Em 1999 e 2000, várias cidades do Triângulo e Alto Paranaíba registraram índices de chuva até 40% abaixo da média. O déficit hídrico trouxe instabilidade à produção agrícola e impacto direto na economia regional.
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2014/2015: a crise hídrica histórica
Entre 2014 e 2015, o Sudeste do país enfrentou a chamada “seca histórica”, que reduziu de forma drástica os níveis de reservatórios. No Triângulo, rios como o Araguari e o Paranaíba ficaram em situação crítica. O agronegócio foi duramente atingido, com prejuízos bilionários, principalmente nas lavouras de café, milho e nas pastagens.
2020/2021: estiagem recorde
Um dos períodos mais críticos já monitorados ocorreu entre 2020 e 2021. Com chuvas abaixo da média por três anos consecutivos, a estiagem prejudicou a produção agrícola, perdas de até 20% foram registradas em culturas como soja e milho. A situação também comprometeu a geração de energia em usinas como Nova Ponte, Miranda e Emborcação.
Tendências recentes: secas mais longas e intensas
Segundo William Borges, nas últimas três décadas as estiagens passaram a ser mais longas e com maior irregularidade. Pesquisadores apontam que esse cenário está ligado a fatores como o desmatamento do Cerrado, a expansão da agricultura mecanizada e os efeitos das mudanças climáticas globais, que vêm modificando o padrão das chuvas na região.