Relacionamento abusivo ou tóxico? Entenda a diferença e como identificar  

Uma história real e dicas de um especialista para identificar os sinais de um relacionamento abusivo e buscar ajuda 

, em Uberlândia

“Infelizmente, no meu caso, eu só talvez tenha conseguido entender o nível da gravidade da situação que eu estava vivendo, quando de fato a coisa ficou grave. Foi quando eu realmente fui vítima de agressão física e o cara destruiu meu carro comigo dentro”, este foi o último ato do relacionamento vivido pela personagem desta matéria.  

Para preservar sua identidade vamos chamá-la de Maria, uma funcionária pública de 20 e poucos anos que foi vítima de um relacionamento abusivo há cerca de dois anos. Mas antes de contarmos essa história, você sabe se existe diferença entre um relacionamento abusivo e um relacionamento tóxico?  

Psicólogo explica a diferença entre um relacionamento abusivo e um relacionamento tóxico
Psicólogo explica a diferença entre um relacionamento abusivo e um relacionamento tóxico – Crédito: Freepik

As naturezas das dinâmicas envolvidas nessas relações apresentam muitos pontos em comum, mas também possuem diferenças específicas, o que pode gerar uma certa confusão ao utilizar esses termos. O psicólogo Hudson Vieira, explica a diferença entre eles.   

Relacionamento tóxico 

Quando falamos de relacionamento tóxico, ele implica necessariamente na intenção deliberada de prejudicar o outro. Isso ocorre quando uma ou ambas as partes da relação começam a estabelecer comportamentos que prejudicam o outro, como a falta de comunicação saudável, ciúmes excessivos e desrespeito.  

“Muitas vezes esses comportamentos são normalizados dentro dessa relação. O relacionamento tóxico, pode descrever dinâmicas disfuncionais, mas que de certa forma é um conceito para aquele casal. Isso pode ser resolvido dentro da relação por meio de diálogo, terapia e até de mudanças comportamentais”, afirma Hudson.

Em um relacionamento tóxico um dos parceiros tem a intenção deliberada de prejudicar o outro
Em um relacionamento tóxico um dos parceiros tem a intenção deliberada de prejudicar o outro – Crédito: Freepik

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Relacionamento abusivo 

“Quando a gente fala de um relacionamento abusivo, a gente fala de um relacionamento que se caracteriza pela presença de comportamentos intencionais, que buscam exercer poder e controle sobre o outro. Esse comportamento pode envolver tantos abusos físicos, emocionais, psicológicos, sexuais ou até mesmo financeiros”, explica o psicólogo.  

Em geral, a dinâmica do relacionamento abusivo é de uma das partes do relacionamento, ou seja, é um abuso unilateral, onde um dos parceiros exerce um comportamento opressor sobre o outro. Esses relacionamentos frequentemente envolvem manipulação explícita, isolamento social e até mesmo coerção.  

9 meses de tormento  

Como você já deve ter identificado, a opção relacionamento abusivo, se aplica melhor ao caso de Maria. Para quem observa de fora pode até parecer fácil de reconhecer, mas para quem está mergulhado na situação os sinais nem sempre são claros.  

“É muito difícil perceber quando a gente tá no relacionamento abusivo, porque geralmente as pessoas elas não iniciam o comportamento abusivo de cara, né? Na verdade, gradativamente a situação ela vai se agravando”, disse Maria.

Uma rede de apoio saudável é muito importante no processo de enfrentamento de um relacionamento abusivo
Uma rede de apoio saudável é muito importante no processo de enfrentamento de um relacionamento abusivo – Crédito: Freepik

A jovem relata que o relacionamento abusivo não começou ruim, mas foi aos poucos escalonando para uma situação mais grave: “são ciclos onde você vivencia picos de alegria, de coisas boas, mas que também sempre voltam pra um lugar de muito sofrimento. A pessoa que tá ali abusando diretamente do companheiro, faz você acreditar que você tá sofrendo daquelas mazelas porque a culpa é sua”.  

De acordo com Maria, esse processo acabou diminuindo sua autoestima, fazendo com que fosse cada vez mais difícil de entender aquela situação. Para piorar, aos poucos, seu ex-companheiro a afastava da sua rede de apoio.  

“É óbvio que seus amigos, a sua família, começam a sacar o que está rolando. Então, naturalmente, a pessoa que está ali na situação de agressora, ela vai tentar cortar seus laços com as pessoas, criando situações para mostrar sempre que, ‘aquela amiga sua não é sua amiga de verdade’, ‘você não devia estar fazendo tal coisa com essa colega’, ‘você não devia estar ouvindo sua família’… Enfim, vai criando mecanismos para te isolar”, disse Maria. 

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Na medida em que o relacionamento avançava, os abusos iam se intensificando: “Eu tenho alguns episódios bem péssimos de vivenciar esse controle: da pessoa falar que está num lugar, mas na verdade ela estava me seguindo e estava vendo onde eu estava, sem que eu tivesse conhecimento; suspeitando de que eu estivesse fazendo algo, traindo…”, relembrou. 

“Hoje olhando para trás eu percebo que os sinais sempre estiveram lá. Não são ações concretas. Sinais são sinais, são indícios, são indicativos… então isso deixa a situação muito confusa, porque você está lidando com relacionamento e é algo emocional”, complementou a jovem.  

Maria contou com o apoio de algumas instituições públicas para se defender. Desde o último episódio, ela nunca mais viu o ex, que foi preso em flagrante, processado e condenado pela Lei Maria da Penha. 

Como identificar os sinais de alerta 

Controle excessivo é uma das características de um relacionamento abusivo
Controle excessivo é uma das características de um relacionamento abusivo – Crédito: Freepik

Hudson elenca algumas características que ajudam a identificar um relacionamento abusivo:  

  • Controle excessivo: o parceiro começa a controlar decisões sobre a vida da outra pessoa, como as finanças e o estilo de roupa, demonstrando ciúme exagerado e possessividade; 
  • Isolamento social: o abusador começa a afastar a vítima dos amigos e da família, criando uma dependência emocional muito grande dele;  
  • Manipulação psicológica: através de chantagens, mentiras e distorções da realidade, para fazer com que a vítima duvide do que é real e até dela mesma; 
  • Agressões físicas, verbais e emocionais: com violência direta, indireta, ameaças e insultos.  

“É muito importante conseguir identificar em todos esses relacionamentos abusivos esse ciclo de abuso, que sempre ocorre entre um período de agressão e um momento de arrependimento. Onde vem várias promessas de mudanças somado a uma demonstração em excesso de afeto, mas depois tem toda explosão novamente”, alerta o psicólogo.  

Diferentes tipos de violência 

Além da violência física e da violência psicológica, existem também outros tipos de abusos que podem ocorrer em um relacionamento abusivo. Eles nem sempre são fáceis de serem identificados, mas elas podem ser igualmente prejudiciais à vítima.  

  • Violência sexual: ocorre intimidação para obter atividades sexuais não consensuais, como por exemplo: forçar e pressionar o parceiro para ter relação, manipular emocionalmente para obter esse consentimento, e desconsiderar o uso de contraceptivos, colocando em risco a saúde do companheiro.  
  • Violência financeira: envolve o controle e a manipulação das finanças do parceiro para criar uma dependência econômica e dificultar a saída desse companheiro da relação. Impede que o parceiro tenha acesso livre ao dinheiro e aos gastos.  
  • Violência digital: uso de tecnologias para intimidar, controlar e assediar o parceiro. É caracterizado pelo monitoramento de mensagens, ligações, redes sociais, e também considera o uso de aplicativos para rastreamento sem consentimento.