PF diz que não foi avisada sobre megaoperação no Rio, a mais letal da história do estado
Diretor-geral Andrei Rodrigues afirmou que a corporação só soube da ação por contato local e sem detalhes do planejamento; Governo Federal critica falta de comunicação e cobra apuração das mais de 130 mortes
A Polícia Federal (PF) informou que não foi comunicada oficialmente sobre a megaoperação policial que deixou mais de 130 mortos no Rio de Janeiro, o maior número de vítimas já registrado em uma ação de segurança pública no estado. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, disse que a corporação foi informada apenas “em nível local”, ou seja, somente para a corporação do Rio, sem qualquer detalhamento sobre o planejamento da ofensiva.
“Houve um contato anterior do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade do Rio de Janeiro para ver se haveria alguma possibilidade de atuarmos em algum ponto nesse contexto. Mas não tivemos mais detalhes do planejamento”, explicou Rodrigues, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, no Palácio da Alvorada.
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Segundo o diretor-geral, a PF concluiu que a operação não se enquadrava no modo de atuação da instituição, voltado a investigações e inteligência. “Entendemos que não era o modo que a Polícia Federal atua, o modo de fazer operações”, afirmou.
O Governo Federal reagiu à falta de comunicação. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, declarou que o presidente ficou “estarrecido” com o número de mortes e surpreso por uma ação dessa dimensão ter sido desencadeada sem o conhecimento de Brasília.
“O presidente ficou estarrecido com o número de ocorrências fatais que se registraram no Rio de Janeiro. Também se mostrou surpreso que uma operação desta envergadura fosse desencadeada sem o conhecimento do Governo Federal”, disse Lewandowski.
Para o ministro, o procedimento padrão não foi seguido. “A comunicação entre o governador de estado e o Governo Federal tem que se dar ao nível das autoridades de hierarquia mais elevada. Uma operação desse porte não pode ser acordada em segundo ou terceiro escalão”, criticou.
Ministros vão ao RJ
Em meio à repercussão, Lula determinou o envio de uma comitiva ministerial ao Rio de Janeiro, formada por Lewandowski, pelas ministras Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além do próprio diretor-geral da PF.
O grupo se reúne nesta quarta-feira (29) com o governador Cláudio Castro (PL) para discutir a operação e avaliar medidas de apoio e monitoramento da crise.
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Megaoperação no Rio
A ofensiva das forças de segurança, batizada de Operação Contenção, ocorreu nos complexos da Penha e do Alemão, e tinha como alvo facções criminosas. Mais de 70 corpos foram levados para a Praça São Lucas, na Penha, entre a noite de terça e a manhã de quarta.
O governo fluminense também pediu ao Ministério da Justiça a transferência de dez presos ligados a facções para presídios federais, que foi autorizado pelo Governo Federal.
Lewandowski afirmou ainda que não há discussão sobre uma possível Garantia da Lei e da Ordem (GLO). “O governador precisa estabelecer a incapacidade das forças locais de enfrentar essa violência para que o Governo Federal possa intervir com as Forças Armadas”, explicou.