Caso das crianças desaparecidas: pai fala pela primeira vez e justifica sumiço

Fábio de Paula Gomes, que estava com as crianças desde julho, diz que elas sofriam agressões do padrasto e de uma babá em Uberlândia

Juan Madeira e Matheus Borsato , em Uberlândia

-

Em entrevista exclusiva ao Paranaíba Mais, Fábio de Paula Gomes, deu sua versão sobre ter passado mais de dois meses no Rio de Janeiro com os dois filhos antes de devolvê-los à mãe, na data estipulada (21 de julho). Segundo ele, a decisão foi motivada pela necessidade de proteger as crianças, que teriam relatado episódios de agressão do padrasto. “Fiz isso para proteger os meninos, porque reclamaram comigo que estavam apanhando lá”, afirmou na noite desta quinta-feira (18).

Após passar as férias escolares com Fábio de Paula, os irmãos de 5 e 7 anos, não foram devolvidos à mãe na data estipulada (21 de julho). Passados dois meses, o pai estava sendo procurado pelo crime de subtração de incapaz. Eles estavam com o pai no Rio de Janeiro e foram entregues na quinta-feira (19) após mandado de busca.

Fábio de Paula Gomes deu sua versão sobre dois filhos – Crédito: TV Paranaíba

📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp

Segundo Fábio de Paula, seu filho de 7 anos teria contado que apanhou do padrasto, enquanto a filha relatou agressões por parte de uma babá. “Meu filho falou que o padrasto está batendo nele. Enquanto a gente estava no Rio, minha filha contou que a babá bateu na cabeça dela e que ela chegou a cair”, disse.

A mãe, Klissia Santos, por sua vez, afirmou ao Paranaíba Mais que nunca houve agressão. “Por que ele não provou na Justiça? Por que não fez corpo de delito? Ele precisa provar para dizer isso. Se houvesse qualquer agressão, eu teria sido a primeira a colocar meu atual marido para fora. Inclusive meus filhos são apaixonados por ele”.

Já o pai sustenta que sempre manteve convívio próximo com as crianças desde o nascimento, mas que a Justiça restringiu sua presença. “Vem um juiz e tira totalmente o convívio dessas crianças comigo, sou um pai que sempre acompanhou, pagando pensão e tudo, cortou o vínculo afetivo”, comentou, ao relembrar que, antes da decisão judicial em abril de 2025, as crianças moravam com ele em Tupaciguara e passaram a viver com a mãe, Klíssia Santos, neste ano.

Antes do desaparecimento das crianças, o casal já travava uma disputa judicial pela guarda das crianças, que durou cerca de dois anos. Nesse período, os filhos viviam com o pai em Tupaciguara. A situação mudou em abril de 2025, quando a Justiça decidiu conceder a guarda unilateral à mãe, que desde então passou a residir com as crianças em Uberlândia.

Entrega das crianças

Sobre o retorno a Uberlândia, o Fábio de Paula garante que não resistiu às autoridades. “Eu nunca quis fugir da Justiça. Quando voltei, já estava sendo monitorado pela Polícia, desde que entrei em Minas Gerais. Cheguei em Uberlândia, e entregaria as crianças na OAB, conforme combinado entre nossos advogados. Mas a família da mãe veio aqui na casa da minha irmã buscar”, relatou.

Momento em que as crianças foram entregues à mãe Klissia Santos, em Uberlândia – Crédito: TV Paranaíba/Reprodução

Fábio de Paula disse ainda que chegou a ser agredido pelo atual marido de Klíssia Santos no momento do encontro, que aconteceu no bairro Shopping Park. ” O marido dela me catou pelo braço, me jogou no chão e me deu um bicudo na frente do meu filho, de sete anos. Aqui na porta”, disse.

De acordo com ele, pretende lutar novamente pela guarda na Justiça. “Segunda-feira vou ingressar com novo processo. Quero que o Ministério Público, Conselho Tutelar e Judiciário investiguem e que levem as crianças à psicólogos para entender por que não querem voltar para casa da mãe”. Durante entrevista à TV Paranaíba, as crianças não manifestaram pesar por estarem de volta à casa de Klíssia Santos.

Mãe Klíssia Santos com os filhos de 5 e 7 anos em Uberlândia, após dois meses de desaparecimento das crianças – Crédito: TV Paranaíba/Reprodução

Futuro incerto

O pai admite que o ato pode ser enquadrado como subtração de incapaz, mas diz estar à disposição da Justiça, e que vai se apresentar na delegacia de Tupaciguara para dar depoimento sobre o sumiço com as crianças. “Sei que é errado o que fiz, mas em primeiro lugar eu quero a segurança deles”, afirmou.

Mesmo reconhecendo que os filhos mantêm vínculo com a mãe, ele insiste que a situação atual preocupa. “Eu não posso dizer que eles não gostam da mãe. O problema é a situação que estão vivendo lá. O cara é agressivo comigo, por que não seria com eles também”, diz ao se referir do padrasto das crianças, atual marido da mãe.

No campo jurídico, o ato de subtração de incapaz ocorre quando alguém retira uma criança ou adolescente da guarda de quem detém o direito legal de cuidar, sem autorização da Justiça. Já o crime de sequestro é mais grave e envolve manter a vítima em cativeiro ou restringir sua liberdade de forma ilegal.

Tratamento da filha

O pai também afirma ter sido responsável por descobrir e custear sozinho o tratamento da filha, diagnosticada com epilepsia. Ele conta que, após tentativas frustradas com diferentes medicamentos, o quadro se estabilizou com o uso de um remédio prescrito por uma neurologista de Uberlândia.

“Durante os 70 dias que ela passou comigo no Rio, não teve nenhuma crise. Eu cuidei dela, comprei remédio, paguei exames, tudo por conta própria”, disse.

Primeiro dia em casa

A reportagem do Paranaíba Mais conversou com Klissia Sanos após a primeira noite das crianças em sua casa. Segundo Klissia, os exames de corpo de delito realizados no IML, na tarde desta quinta-feira (18), não identificaram nenhuma alteração. Logo após a devolução, as crianças passaram pelo procedimento, que é padrão nesses casos, para comprovar sua integridade física. Atualmente, ambas estão bem.  Um vídeo enviado pela mãe mostra as crianças se divertindo com outras logo após serem entregues pelo pai, em Uberlândia

Em contato com o Conselho Tutelar de Tupaciguara, a reportagem foi informada de que eventuais registros de denúncia não podem ser divulgados. Segundo o órgão, esses dados são sigilosos para garantir a proteção das crianças envolvidas.

Linha do tempo do caso das crianças desaparecidas em Uberlândia

  • Abril de 2025 – Justiça determina guarda legal das crianças, de 5 e 7 anos, para a mãe, Klíssia Santos;
  • 9 a 21 de julho de 2025 – Fábio de Paula (pai) passa período de férias escolares com os filhos, conforme acordo judicial;
  • 21 de julho de 2025 – Data em que as crianças deveriam ter sido devolvidas à mãe; desde então não houve contato;
  • 23 de julho de 2025 – Justiça reconhece indícios de subtração de incapaz e expede mandado de busca e apreensão ao pai;
  • Final de julho de 2025 – Oficiais de Justiça tentam cumprir mandado em Tupaciguara, mas encontram imóveis vendidos e ausência de sinais das crianças;
  • Agosto de 2025 – Polícia Civil amplia buscas com apoio da Polícia Federal, PRF e Conselho Tutelar. Informações apontam que o pai poderia estar em Caldas Novas (GO), mas não se confirmam;
  • Setembro de 2025 (início) – TV Paranaíba revela apreensão de celulares ligados ao pai (mãe e irmã), a partir disso há contato informal entre advogados sobre devolução das crianças;
  • 18 de setembro de 2025 (quinta-feira) – Mãe foi informada de que o pai estaria a caminho de Uberlândia. A entrega estava acordada para ocorrer na OAB;
  • 18 de setembro de 2025 (tarde) – Em Santa Juliana, um conhecido da família identifica o carro de Fábio de Paula e o acompanha até Uberlândia. No Shopping Park, ocorre confronto entre familiares, e a PM é acionada;
  • 18 de setembro de 2025 (fim da tarde) – Crianças são entregues à mãe no local e, posteriormente, são encaminhadas para o IML, onde passam por exame que confirma integridade física dos mesmos;
  • Após entrega – Pai concede entrevista, admite ter errado “no calor da emoção”, mas alega que buscava proteger os filhos de supostas agressões. Polícia Civil mantém caso em segredo de Justiça;
  • Após a devolução, a mãe informou que as crianças estão bem e que o exame de corpo de delito realizado no IML não apontou nenhuma irregularidade.