Megaoperação no Rio supera massacre do Carandiru e já soma mais de 130 mortos

Defensoria confirma 132 mortes após ação na Penha e no Alemão; moradores e entidades denunciam "massacre". Uma moradora nos relatou momentos vividos durante ação

, em Uberlândia

A megaoperação policial realizada na terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, tornou-se o episódio mais letal da história recente do país. Conforme a Defensoria Pública do Estado, 132 pessoas morreram, sendo 128 civis e quatro policiais, número que já supera o Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos durante a repressão a uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo.

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Megaoperação no Rio contra o CV deixa mais de 130 mortos
Megaoperação no Rio contra o CV deixa mais de 130 mortos – Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

Batizada de Operação Contenção, a ação reuniu cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar, além do apoio de blindados, helicópteros e drones.

O objetivo, segundo o governo fluminense, era enfraquecer o Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra lideranças e integrantes da facção, incluindo criminosos vindos de outros estados, principalmente do Pará.

A ofensiva policial resultou ainda na apreensão de 93 fuzis, número próximo do recorde histórico de armas do tipo recolhidas em um único mês no estado.

A operação também resultou em 113 prisões, sendo 33 de pessoas oriundas de outros estados e 10 adolescentes apreendidos.

Apesar de o governo do Rio ter divulgado, na noite de terça, um saldo de 64 mortos, moradores das comunidades relatam que dezenas de corpos foram encontrados em áreas de mata no Complexo da Penha durante a madrugada.

Ao amanhecer desta quarta-feira (29), pelo menos 70 corpos foram reunidos por moradores na Praça São Lucas, onde foram posteriormente recolhidos por equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros.

Megaoperação no Rio contra o CV deixa mais de 130 mortos
A Defensoria Pública afirma que o número de mortos pode aumentar – Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

A cena, descrita por testemunhas como “de guerra”, expôs o nível de violência da operação, que teve intensos confrontos armados.

Vídeos registraram possíveis criminosos fugindo pela mata em fila indiana e, em outro momento, um drone utilizado por traficantes lançando explosivos contra agentes do Bope.

A Defensoria Pública, que acompanha a situação desde as primeiras horas, afirma que o número de mortos pode aumentar e cobra investigação independente sobre as circunstâncias das mortes. Já o governo estadual defende a legalidade da ação e nega que tenha ocorrido uma chacina.

O secretário de Segurança Pública do Rio, Felipe Curi, afirmou que “a polícia não entra atirando, entra recebendo tiros”, e classificou a operação como “legítima resposta do Estado contra o crime organizado”.

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quarta-feira (29) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou “estarrecido” com o número de mortos na Operação Contenção. “O presidente ficou estarrecido com o número de ocorrências fatais que se registraram no Rio de Janeiro”, disse o ministro em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada.

Lewandowski também afirmou que Lula “se mostrou surpreso” com o fato de uma operação “dessa envergadura ter sido desencadeada sem conhecimento do Governo Federal”. Segundo o ministro, o Executivo poderia ter “participado com os recursos que tem, sobretudo com informações e apoio logístico”.

Ele classificou a ação como “extremamente violenta” e disse que a situação “exige reflexão sobre os métodos empregados pelas forças de segurança”.

Repercussão

A operação foi amplamente criticada por organizações de direitos humanos, especialistas e movimentos populares. A Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou nota de repúdio classificando a ação como “massacre dos Complexos da Penha e do Alemão” e denunciou violações de direitos, invasões de domicílio e impedimento de socorro a feridos.

“Segurança não se faz com sangue. É preciso presença do Estado com políticas sociais, não com invasão e luto permanente”, diz trecho do documento.

A professora Jacqueline Muniz, do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), criticou a estratégia empregada e afirmou que a ação foi “amadora e politicamente desastrosa”, sem efetividade no combate ao crime organizado.

Uma moradora do Complexo do Alemão, que não quis se identificar, disse em entrevista ao Paranaíba Mais que a população está com “muito medo” e abalada emocionalmente e psicologicamente. Segundo ela, os policiais xingavam e humilhavam os civis: “Xingamentos de baixo calão”, relembrou.

Segundo a moradora, a polícia continua no Alemão retirando corpos da mata.

Megaoperação no Rio contra o CV deixa mais de 130 mortos
A operação foi amplamente criticada por organizações de direitos humanos, especialistas e movimentos populares – Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

O dia em que o Rio parou

Durante os confrontos, escolas públicas suspenderam as aulas, unidades de saúde fecharam as portas e diversas linhas de ônibus deixaram de circular. Moradores ficaram horas confinados dentro de casa, enquanto a troca de tiros se estendia por todo o dia.

Mesmo um dia após a megaoperação no Rio, vários comércios se encontram fechados e a população sem sair de casa.

Com o novo balanço, a Operação Contenção já é oficialmente mais letal que o Massacre do Carandiru, há 33 anos considerado o maior episódio de violência estatal do Brasil. O caso paulista, em 1992, deixou, oficialmente, 111 detentos mortos após a invasão do Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, durante uma tentativa de conter uma rebelião. A megaoperação no Rio registra, até o momento, 132 mortes.