Facções criminosas lucram bilhões com combustíveis, ouro, cigarros e bebidas no Brasil, revela estudo
Organizações criminosas lucram também com crimes virtuais e furtos de celulares, que movimentaram R$ 186 bilhões entre 2023 e 2024
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O crime organizado no Brasil movimenta cifras astronômicas a partir da comercialização ilegal de produtos como combustíveis, ouro, tabaco e bebidas.
Segundo um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), nomeado “Follow the Products – Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil”, ao qual o ParanaíbaMais teve acesso, apenas esses quatro mercados ilícitos geraram uma receita estimada de R$ 146,8 bilhões anuais a partir de 2022.
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O relatório, que analisou dados de operações da Polícia Federal (PF), relatórios acadêmicos e representações setoriais, evidencia como facções criminosas lucram explorando falhas na fiscalização e no rastreamento de produtos.
Mercado ilegal de combustíveis lidera faturamento do crime
Entre os setores analisados, o mercado clandestino de combustíveis e lubrificantes ocupa o topo da lista, movimentando cerca de R$ 61,5 bilhões por ano, o que representa 41,8% da receita do crime organizado.
Para se ter uma ideia da escala desse mercado ilegal, os 13 bilhões de litros de combustível comercializados irregularmente em 2022 seriam suficientes para abastecer toda a frota de veículos do país por três semanas.
Além disso, as fraudes fiscais no setor resultam em perdas tributárias de R$ 23 bilhões por ano, impulsionadas por práticas como contrabando, adulteração de combustíveis e sonegação de impostos. A falta de um sistema nacional de rastreamento dificulta o combate a essas práticas, permitindo que facções criminosas lucram com esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro.
Bebidas falsificadas e contrabandeadas geram perdas bilionárias
O estudo revela que o mercado ilegal de bebidas alcoólicas movimentou R$ 56,9 bilhões em 2022, respondendo por 38,8% da receita do crime organizado. A falsificação e o contrabando desses produtos causaram um prejuízo tributário estimado em R$ 72 bilhões no mesmo ano.
Desde o desligamento do SICOBE (Sistema de Controle de Produção de Bebidas), houve um apagão de dados, dificultando a fiscalização do setor.
Entre 2019 e 2023, o volume de bebidas ilegais apreendido foi equivalente ao consumo registrado durante o Carnaval do Rio de Janeiro, um dos maiores eventos do mundo.
Ouro ilegal financia narcogarimpos e violência na Amazônia
Outro ponto alarmante do relatório é o impacto do comércio ilegal de ouro no Brasil. O estudo aponta que 38% da produção nacional entre 2015 e 2020 tem fortes indícios de ilegalidade, gerando R$ 40 bilhões em movimentação financeira.
O garimpo ilegal não apenas destrói o meio ambiente, mas também financia facções criminosas e o tráfico de drogas e armas.
Os chamados narcogarimpos, que operam em regiões remotas da Amazônia, utilizam mercúrio, combustíveis e maquinário pesado para extração clandestina, com pouca ou nenhuma fiscalização. Os lucros dessas atividades são direcionados para outras operações do crime organizado, aumentando sua capacidade de controle territorial.
Cigarros ilegais dominam 40% do mercado e alimentam facções
O mercado clandestino de cigarros no Brasil já representa 40% do consumo nacional, com perdas fiscais acumuladas de R$ 94,4 bilhões nos últimos 11 anos. Facções criminosas lucram ao controlar a distribuição desses produtos, utilizando o setor para ampliar seu domínio territorial e financiar atividades ilícitas.

Embora o sistema de rastreamento Scorpios tenha sido implementado para impedir o comércio ilegal, ainda há falhas que permitem a atuação de organizações criminosas e milícias.
Crimes virtuais superam tráfico e contrabando tradicional
A pesquisa do FBSP também aponta uma mudança no perfil do crime organizado. Se a receita anual das facções com o comércio ilegal de ouro, combustíveis, cigarros e bebidas chegou a R$ 146,8 bilhões a partir de 2022, os crimes digitais e furtos de celulares ultrapassaram essa marca, atingindo impressionantes R$ 186 bilhões entre julho de 2023 e julho de 2024.
A transição dos crimes patrimoniais físicos para golpes digitais cresce de forma acelerada. Celulares furtados se tornam a porta de entrada para fraudes bancárias, invasões de contas e venda de dados sigilosos, ampliando o potencial de lucro do crime organizado.
Facções criminosas lucram com falhas na fiscalização e falta de integração de dados
O estudo do FBSP alerta que a falta de integração entre órgãos como Receita Federal, Polícia Federal e agências reguladoras dificulta o enfrentamento do crime organizado no Brasil. A ausência de um planejamento conjunto e de protocolos padronizados de rastreamento de produtos facilita esquemas de sonegação de impostos, lavagem de dinheiro e contrabando.