EXCLUSIVO: UFU perdeu mais da metade dos vigilantes em seis meses
Universidade tinha 81 postos de vigilância em outubro do ano passado. Agora, apenas 30 vagas atendem todos os campi
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Insegurança é o sentimento que define a rotina de quem frequenta os campi da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) este ano. Os casos de furtos e roubos cresceram nos últimos meses. E o mais recente aconteceu no último sábado (3), quando um bandido armado com um pedaço de madeira invadiu as instalações do Hospital Veterinário, rendeu três profissionais que trabalhavam no local e fugiu quebrando uma porta de vidro na entrada do prédio.
O cenário é resultado de uma grave crise financeira que a Universidade atravessa, e do contingenciamento de recursos em áreas essenciais, como a limpeza e a vigilância.
A Pró-reitoria de Planejamento e Administração chegou a negar ter havido redução do investimento em segurança, em abril deste ano. Em resposta enviada ao Grupo Paranaíba sobre os cortes no orçamento da UFU, a instituição afirmou que o contrato de vigilância não foi afetado pelo contingenciamento anunciado pela reitoria da Universidade em março deste ano.

Documentos obtidos com exclusividade pelo jornalismo do Grupo Paranaíba, por meio da Lei de Acesso à Informação, revelam o contrário. A UFU divide a atuação dos vigilantes terceirizados em “postos de trabalho” e “funcionários contratados”. Atualmente, a Universidade tem menos da metade do número de profissionais de vigilância em comparação com outubro do ano passado, quando o novo contrato de segurança foi firmado.
Números alarmantes
A Universidade contava com 140 vigilantes, em 81 postos, até 02/10/2024. O contrato foi refeito no fim do ano passado e já previa uma redução: seriam 104 vigilantes, em 52 postos de trabalho.


Mas a realidade é ainda pior, devido ao contingenciamento orçamentário anunciado em março. A UFU trabalha com apenas 60 vigilantes para todos os campi, incluindo nas unidades avançadas de Monte Carmelo, Patos de Minas e Ituiutaba. Em todas as nove localidades mantidas pela Universidade atualmente, apenas 30 postos de trabalho garantem a segurança.

Os números dizem respeito apenas aos contratos terceirizados que a Universidade mantém para a vigilância. O número de servidores da Divisão de Vigilância e Segurança Patrimonial, o chamado quadro orgânico da entidade, também caiu. Eram 62 profissionais concursados em 2023. Agora, são apenas 37. A redução se deu em decorrência de aposentadorias, sem reposição por concurso público.
Sensação de insegurança

Os relatos sobre a falta de vigilância nos campi da Universidade Federal de Uberlândia se acumulam. Desde dificuldades para acesso a salas e laboratórios – cujas chaves ficam em posse dos vigilantes – até o sumiço de equipamentos e itens de pesquisa, usados em sala de aula.
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Um exemplo aconteceu no fim de fevereiro, quando um prédio da UFU que abrigava a antiga reitoria, no bairro Martins, foi invadido por um grupo de pessoas. Diversos materiais foram levados.
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Em março, o Escritório de Assessoria Jurídica Popular, que fica no campus Santa Mônica, foi furtado. Computadores e equipamentos, utilizados em atividades de extensão do curso de Direito, foram levados.
Em abril, três blocos diferentes da Universidade foram alvos de furtos de torneiras. As sedes de atléticas no mesmo campus foram arrombadas. Uniformes, alimentos e equipamentos esportivos foram levados.
Crise financeira

A redução drástica de vigilantes da UFU e o acúmulo de furtos e roubos nas dependências da Universidade têm relação direta com uma grave crise orçamentária vivida pela Instituição. O reitor, professor Carlos Henrique de Carvalho, jogou luz sobre a situação em março deste ano.
Em coletiva de imprensa, representantes da administração universitária detalharam o cenário do orçamento. A UFU terminou o ano passado com uma dívida acumulada de mais de R$ 27 milhões em despesas discricionárias – aquelas que não são obrigatórias, como vigilância, limpeza e frota de transporte.
Entre as medidas anunciadas este ano estão reduções em 25% nos contratos terceirizados, que impactam especialmente no número de funcionários terceirizados.
A reitoria atribuiu parte da responsabilidade pelo cenário caótico das finanças universitárias à PEC 95/2016, que ficou conhecida como “PEC do Teto de Gastos”. Durante o período em que a regra esteve em vigor, o orçamento para despesas discricionárias da Universidade passou de R$ 158,76 milhões, em 2016, para R$ 103,02 milhões em 2021, no auge da pandemia subindo para R$ 130,63 milhões em 2022, último ano em que vigorou a PEC do Teto de Gastos.
Mas desde 2023 vigora o chamado “Arcabouço Fiscal”, com as regras da Lei Complementar 200/2023, que permitiu maior flexibilidade aos repasses da União para as universidades. Dados da própria UFU indicam que o orçamento discricionário passou de R$ 112,68 milhões em 2023 para R$ 137,34 milhões em 2025. Ou seja, as normas impostas pela PEC do Teto de Gastos já não impactam as despesas da Universidade há pelo menos dois anos.
O Paranaíba Mais procurou a Diretoria de Comunicação da Universidade Federal de Uberlândia para pedir um posicionamento sobre a redução no número de vigilantes antes da publicação dessa reportagem. Em resposta, a Universidade apontou que todos os esclarecimentos necessários foram prestados em coletiva de imprensa no dia 28 de março de 2025 e não detalhou as razões para a redução na vigilância. O espaço segue aberto para manifestação da Universidade.