“Ele foi frio e calculista”: filha conta sobre feminicídio que tirou a vida da mãe em Uberlândia
Ana Júlia Carvalho, de 18 anos, falou sobre a dor da perda da mãe, Vanessa Jussara, vítima de feminicídio
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A jovem Ana Júlia Carvalho, de 18 anos, ainda tenta compreender o vazio deixado pela morte da mãe, Vanessa Jussara da Silva, de 38. A mulher, vítima de feminicídio, foi encontrada morta na quinta-feira (9) em Uberlândia.
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Em entrevista à TV Paranaíba, Ana Júlia descreveu o desaparecimento, o medo que sentia do suspeito e a dor de perder quem era seu alicerce.
“Foi um momento de muita dor, angústia e desespero. Um sentimento de incerteza e de esperança de que ela voltaria bem para casa. Desde que ela sumiu, eu mandava mensagem todos os dias, esperando que ela visse, mas não. No sábado, ela ia voltar às seis da tarde e não retornou. A última vez que falei com ela foi às 9h40, antes de ela sair para trabalhar. No domingo, ele apareceu lá em casa procurando por ela. E isso dói muito, porque ali ela já não estava viva mais. Ele foi frio e calculista”, relatou.
A filha contou que sempre sentiu medo do homem, que costumava agir de forma agressiva e controladora, inclusive na frente das filhas de Vanessa.
“Ele sempre quis mandar nela, queria deixá-la para baixo. Eu me sentia ameaçada. Ele gritava, não se importava se eu e minha irmã de 10 anos estávamos por perto. Esse desejo de ter posse sobre ela foi o que nos trouxe até aqui”, disse Ana Júlia.
A ausência e a dor da perda
Abalada, Ana Júlia descreveu a casa onde moravam como um lugar tomado por lembranças. “É muito difícil entrar lá. Cada cantinho tem algo dela. O cheiro, as roupas, a cozinha, o quarto… tudo lembra. Perdi minha base e espero que a justiça do homem não falhe, porque a de Deus nunca falha. Que sirva de exemplo, para que nenhuma outra família passe por isso”, desabafou.
Ela reforçou a importância de denunciar casos de violência doméstica.
“A gente não deve aceitar nenhum tipo de violência. É muito triste, mas eu quero ser forte pela minha família. Preciso de força para seguir, mesmo sem ela”, completou.
A investigação do feminicídio
Segundo a Delegacia de Homicídios de Uberlândia, Vanessa Jussara foi assassinada na noite de sábado (4) dentro da casa do suspeito, que confessou o crime.
Segundo o delegado Carlos Fernandes, o homem disse ter esganado e enforcado a vítima após uma discussão.
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Após o crime, o suspeito tentou criar um álibi enviando mensagens e áudios para simular preocupação com o desaparecimento. Câmeras de segurança, no entanto, registraram o momento em que ele manobra o carro de Vanessa para dentro da garagem, levando a polícia a concluir que ela já estava morta no veículo.

O corpo foi encontrado em uma área de mata próxima ao Parque Estadual do Pau Furado, em Uberlândia, após o próprio suspeito indicar o local. Ele foi autuado por feminicídio e ocultação de cadáver.
Luta por justiça e alerta
De acordo com a Polícia Civil, o casal mantinha um relacionamento há cerca de cinco meses e já havia registro de boletim de ocorrência por ameaças.
O delegado reforçou a importância de que mulheres em situação de violência procurem imediatamente ajuda e formalizem denúncia.
“É fundamental registrar ocorrência, procurar a Delegacia da Mulher e solicitar medida protetiva. O descumprimento dessas medidas gera prisão em flagrante”, afirmou o delegado Carlos Fernandes.
Vanessa Jussara foi sepultada às 17h desta sexta-feira (10), no Cemitério Campo do Bom Pastor, em Uberlândia.

“Ela era minha metade”, diz a irmã da vítima
Em entrevista, Lígia Cátia irmã relembra com emoção os momentos de convivência com a irmã e descreveu Vanessa Jussara como uma pessoa querida por todos. “Ela sempre me ligava por videochamada durante as corridas, dizia que estava cansada, mas nunca deixava de sorrir. Quero lembrar dela assim… minha metade, uma mulher de coração enorme, que nunca fez mal para ninguém”, contou.
Segundo a irmã, o suspeito chegou a frequentar a casa dos pais da vítima, em Uberlândia, enquanto as buscas aconteciam. “Ele aceitou um prato de comida da minha mão. Eu servi ele, e ele já tinha matado a minha irmã. Isso é o que mais me dói”, afirmou emocionada.