“Batiam, xingavam e cuspiam”, diz carta de denúncia sobre trote violento na UFU

Em carta sobre trote violento, denunciante aponta práticas como forçar pessoas a ficar só de cueca, dar tapas no rosto, colocar pessoas em freezers com urina e apagar cigarro na pele

, em Uberlândia

-

A carta que denunciou o trote violento envolvendo alunos do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) aponta coação, agressões e pressões sobre a vida acadêmica e social de alunos recém-chegados na faculdade. Eles deveriam se submeter ao trote para entrada na chamada “Medonha”, torcida organizada da Medicina.

A carta foi enviada à Record por uma pessoa que teria passado pelo trote e que pediu anonimato, uma vez que “eles (membros da torcida) têm muita influência na faculdade”. “Tenho medo de ser excluído, apanhar ou acabar com meu futuro acadêmico”, diz o autor no relato.

UFU Umuarama
Atlética da Medicina disse não ter vínculo com torcida Medonha – Crédito: Manoel Neto

Imagens do trote mostram universitários sendo agredidos com tapas na cara, sendo obrigados a tomarem bebidas alcoólicas e tendo as costas esfregadas com açúcar e sujados de lama.

É explicado na carta que os membros da Medonha pressionariam os novatos a irem à tal festa para que tenham convívio na faculdade de Medicina da UFU. “Colocavam a gente de joelhos em uma terra olhando para o chão e faziam andar de joelhos até entrar na chácara onde acontecia a festa”.

O denunciante contou ter se mudado a Uberlândia para cursar Medicina e que aceitou participar para formar sua vida social, mas que na Medonha presenciou violência em trotes.

“Alguns dos absurdos incluem humilhações com xingamentos, forçar pessoas a ficar só de cueca, dar tapas no rosto, chineladas, colocar pessoas em freezers com urina, apagar cigarro na pele, forçar as pessoas a beber até vomitar”, denuncia.

Leia a carta na íntegra no fim do texto

Atlética diz não ter vínculo

Em postagem em rede social, a Associação Atlética Acadêmica Marcel Resende Davi (A.A.A.M.R.D.), ligada à Medicina, repudiou o que chamou de “atos violentos praticados contra os membros do curso” e apontou não ter vínculo com a Medonha.

“A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia conta com duas principais instituições formadas por acadêmicos regularmente matriculados no curso, o diretório acadêmico e a atlética. Assim sendo, a torcida organizada (Medonha) não é reconhecida e tampouco integrada no estatuto de nenhuma das duas instituições”, diz o comunicado.

O tecto ainda reforça que a Associação Atlética Acadêmica não tem relação com o evento que mostrou universitários apanhando e sendo humilhados.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) abriu um inquérito para investigar denúncias de trote violento envolvendo alunos do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Carta de denúncia:

À Redação da Record

Assunto: Denúncia sobre a Medonha

Venho denunciar crimes horríveis que acontecem em uma bateria universitária, tudo de modo anônimo porque eles têm muita influência na faculdade. Tenho medo de ser excluído, apanhar ou acabar com meu futuro acadêmico. Quando entrei na faculdade, fui coagido a ir a uma festa. Eles falavam que era ótima, colocavam pressão para você ir e davam a entender que seu futuro acadêmico e social dependia de estar nessa festa da Medonha, mas nunca contavam o que acontecia nela. Chegando lá, colocavam a gente de joelhos em uma terra olhando para o chão e faziam andar de joelhos até entrar na chácara onde acontecia a festa, enquanto batiam, xingavam e cuspiam na gente. Depois da festa, criavam toda uma pressão para participar da bateria, dizendo que agora seria ótimo, pois o trote já tinha passado. Nesse ambiente, você acaba formando amigos – no caso eu, que vim de outra cidade como a maioria da medicina ufu – e, aos poucos, começa a presenciar coisas absurdas que me fizeram querer parar de frequentar e decidir denunciar. Alguns dos absurdos incluem humilhações com xingamentos, forçar pessoas a ficar só de cueca, dar tapas no rosto, chineladas, colocar pessoas em freezers com urina, apagar cigarro na pele, forçar as pessoas a beber até vomitar, e criar um medo psicológico de que só vai se dar bem quem fizer parte da Medonha, já vi pessoa chorando pedindo pra parar de apanhar. Decidi denunciar após receber uns vídeos. Só peço que mantenham tudo o mais anônimo possível para evitar qualquer problema para mim.

Atenciosamente,
[Prefiro não dizer]

 

×

Leia Mais