Ameaças e artefatos: o mapa das suspeitas de bomba no Brasil nos últimos 10 anos

Do episódio que sacudiu Brasília às ondas de boatos em escolas; veja como as investigações avançaram e o que mudou na prevenção

, em Uberlândia

No últimos 10 anos aumentaram as suspeitas de bomba no Brasil, destacando episódios que envolveram artefatos suspeitos e ameaças de explosões em escolas, aeroportos e prédios públicos. Nesta reportagem reunimos os principais casos da última década, relembrando o que ocorreu, como as polícias e perícias investigaram cada episódio e as medidas cabíveis.

Foto de autoridades de segurança, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, atendendo ocorrência após explosão de bomba
Autoridades de segurança, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, atendendo ocorrência após explosão de bomba – Crédito: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Praça dos Três Poderes (Brasília)

13 de novembro de 2024: um ataque que virou investigação nacional

O episódio mais notório dos últimos anos ocorreu em 13 de novembro de 2024, quando explosões foram registradas na região da Praça dos Três Poderes, em Brasília – área simbólica que abriga Congresso, Planalto e STF. As cenas de artefatos detonando em área pública mobilizaram de imediato a Polícia Federal e a imprensa. Houve ações de controle da cena, perícia técnica para identificação dos explosivos e buscas por envolvimento de grupos organizados. Investigadores levantaram elementos sobre autorias com viés político e publicações prévias em redes sociais que antecipavam ou anunciavam ataques, e a apuração se concentrou em elos entre autores e circuitos de extremismo.

Investigações:

  • Identificação e exame dos artefatos;
  • Busca por ligações dos suspeitos com redes sociais e grupos extremistas;
  • Medidas cautelares e prisões preventivas para preservar provas e evitar novas ações;
  • Coordenação entre Polícia Federal, peritos e Ministério Público para formação de quesitos periciais.

O caso evidenciou como ataques a operadores do Estado ou a símbolos institucionais aceleram o uso de perícia especializada e o intercâmbio entre unidades federais. Reforçou, também, debates sobre crimes de ódio, radicalização online e controle de materiais que permitem fabricar artefatos.

Aeronaves, aeroportos e perímetros logísticos (2022 – 2024)

Além das explosões em praça pública, houve ameaça/descrição de artefatos e pacotes suspeitos em perímetros aeroportuários, com destaque para ocorrências nos arredores do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, e em outras bases regionais.

Em dezembro de 2022 equipes localizaram um artefato suspeito nas imediações do aeroporto de Brasília. Equipes de bombeiros e esquadrões especializados fizeram a varredura e neutralização. As apurações federais buscaram identificar rotas, responsáveis e se havia conexão com grupos que pudessem planejar atos coordenados em infraestruturas críticas.

Suspeitas de bomba no Brasil em 2023 e 2024

Equipes de segurança ferroviária e rodoviária e operadoras aeroportuárias relataram casos de passageiros detidos por ameaças verbais e de pacotes suspeitos que forçaram evacuações temporárias e revistas técnicas. Muitos episódios foram, ao final, classificados como alarmes falsos ou “brincadeiras” de mau gosto, mas alguns motivaram prisões administrativas e inquéritos. Essas ocorrências reforçaram protocolos de triagem e a necessidade de capacitação técnica em segurança de perímetros logísticos.

A onda de ameaças a escolas e a resposta institucional (2022 – 2023)

Entre 2022 e 2023 o país viveu uma escalada de ameaças às escolas. Em muitos casos, mensagens em redes e aplicativos anunciaram supostos ataques em massa; noutros houve tentativas reais, com uso de facas, artefatos caseiros ou até bombas artesanais lançadas contra unidades de ensino. A gravidade levou à criação de grupos de trabalho e à produção de relatórios técnicos pelo Ministério da Educação e por comissões parlamentares.
Serviços e Informações do Brasil

Como as investigações se desenrolaram:

  • Coleta rápida de provas digitais;
  • Perfis que compartilhavam instruções;
  • Listas de supostos alvos e datas foram identificados por equipes de inteligência;
  • Solicitações de retirada de conteúdo às plataformas foram frequentes;
  • Autoridades integraram Polícia Civil, Polícia Federal e órgãos de inteligência para rastrear origens;
  • Apreensões e medidas socioeducativas.

Em muitos municípios adolescentes foram apreendidos portando facas, máscaras e celulares com planos de ação; alguns autores tinham vínculos com discursos de ódio e simbolismos de extremismo.

Diagnóstico técnico

O Relatório do Grupo de Trabalho do MEC, de 2023, analisou os ataques e destacou a cooptação de jovens por discursos misóginos e extremistas, a circulação de material de incitação e a necessidade de ações integradas entre educação, saúde mental e segurança.

SAIBA MAIS: Onda de trotes sobre massacre assusta escolas em Uberlândia

O período resultou em protocolos nacionais para prevenção, cartilhas para escolas, e recomendações para atuação conjunta envolvendo polícias, secretarias de educação, assistência social. Investigadores também enfatizaram a necessidade de foco em prevenção digital e apoio psicossocial para reduzir riscos de copycat.

×

Leia Mais

Casos isolados com artefatos caseiros (Campinas)

Entre 2022 e 2023 surgiram episódios de lançamento de bombas caseiras contra unidades escolares, como o caso em Monte Mor, em Campinas, onde um jovem lançou dispositivos artesanais contra escola onde estudou. Nesses casos a perícia identificou impropriedade técnica dos artefatos, ou seja, baixo poder explosivo, construída de modo amador. Mas o risco foi concreto: houve pânico, danos materiais e a abertura de inquérito com medidas socioeducativas e procedimentos judiciais contra autores.

Prisões e desfechos

Nem todas as ameaças resultam em prisão; muitas acabam como boato ou “brincadeira” que, porém, tem consequência jurídica. Em episódios concretos, quando há apreensão de materiais, mensagens que comprovam plano ou confissão, as autoridades chegaram à responsabilização administrativa e criminal. Exemplos recentes incluem prisões de pessoas que portavam artefatos nos arredores de aeroportos, apreensões de estudantes com materiais e indiciamentos em planos anunciados online. Em alguns casos mais graves ligados a atentados reais, como o de Brasília em 2024, a investigação federal seguiu por linhas de financiamento, conexões online e cadeia de abastecimento de materiais.

Há um aumento real ou apenas maior visibilidade?

As autoridades e pesquisadores trabalham com duas linhas de explicação simultâneas:

  • Maior ocorrência real: a circulação mais ampla de ideologias de ódio, maior facilidade logística (compra de componentes) e atuação de quadrilhas organizadas explicam casos efetivos;
  • Hipervisibilidade e replicação digital: boatos e ameaças replicadas por redes sociais e grupos fechados aumentam o número de ocorrências reportadas, mesmo quando são falsas; isso cria efeito de copycat e demanda respostas rápidas de segurança.

Perícia e Judiciário

Quando um artefato aparece, o roteiro técnico costuma seguir etapas padronizadas; isolamento do local, retirada de civis, varredura com equipe antibombas, exame por peritos em explosivos, coleta de vestígios, análise laboratorial de resíduos, análise de imagens e reconstituição da cadeia logística (compra de material). Paralelamente, investigação digital aponta comunicações, perfis e transações. O resultado dessa investigação técnica orienta prisões, denúncias e medidas cautelares.

  • Prevenção e recomendações das autoridades:
  • Investimento em perícia e laboratórios: testar e padronizar protocolos para neutralização e análise de artefatos;
  • Rede de inteligência digital: cooperação com plataformas para retirada rápida de conteúdo e rastreamento de perfis;
  • Ações integradas em escolas: formação de equipes escolares para protocolos de emergência, apoio psicossocial e programas de educação digital;
  • Campanhas públicas para alertar sobre penalidades por divulgar boatos e para orientar como agir: comunicar autoridades em vez de viralizar mensagens alarmistas.

Essas orientações constam nos relatórios oficiais que analisaram o fenômeno em 2023.

Nos últimos dez anos o Brasil alternou momentos de ameaça real com artefatos e ataques, e ondas de boatos que, por sua difusão, se converteram em risco efetivo. Casos como a explosão na Praça dos Três Poderes mostraram a gravidade quando o ataque sai do boato e vira ação concreta.

Outro caso, ocorreu na madrugada desta quarta-feira (12), quando assaltantes invadiram um caminham, sequestraram o veículo e roubaram a carga. Os criminosos armarraram ao motorista um artefato falso, conbfundido com bomba. O caminhoneiro ficou cinco horas preso na cabide de motorista e o veículo parado em meio a Rodonel, ocasionando um congestionamento de mais de 20 km.

Após a chegada do Gate, o homem foi resgatado em estado de choque, o artefato foi constatado como falso e a rodovia foi liberada.

📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp

A série de ameaças a escolas mostrou a capacidade das redes digitais de amplificar pânicos e, por outro lado, a rapidez com que as instituições podem reagir.

A perícia técnica, a inteligência digital e a articulação entre órgãos de segurança, educação e justiça são as ferramentas centrais para transformar alertas em investigações que levem à prevenção e à responsabilização.