Saúde Única: data nacional promove integração entre saúde humana, animal e ambiental

Especialistas alertam para arboviroses, escassez de água e aumento de fauna silvestre em áreas urbanas no Triângulo, destacando o papel estratégico dos biólogos

, em Uberlândia

O Dia Nacional da Saúde Única, celebrado nesta segunda-feira (3), destaca a necessidade de uma abordagem integrada para prevenção e controle de doenças que envolvem humanos, animais e meio ambiente. Também conhecida como “One Health”, a Saúde Única incentiva comunicação e cooperação entre profissionais de diferentes áreas. No Brasil, a Lei 14.792/24 instituiu oficialmente a data, sancionada em 2024, com o objetivo de conscientizar a população e incentivar políticas e ações voltadas à prevenção de doenças e à preservação ambiental.

Saúde Única
Escassez de água, vetores e fauna urbana reforçam alerta sobre a relação entre meio ambiente e saúde humana – Crédito: Freepik/Reprodução

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Doenças emergentes, como ebola, febre amarela, raiva e gripe aviária são um dos focos da abordagem, especialmente aquelas transmitidas por animais silvestres, conhecidas como zoonoses. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) estima que 60% dos patógenos que afetam humanos têm origem animal, reforçando a necessidade de integração entre medicina veterinária, medicina humana e demais profissionais de saúde.

Desafios locais no Triângulo Mineiro

Em Uberlândia e no Triângulo Mineiro, os reflexos diretos da relação entre sociedade, fauna e ambiente são recorrentes. Durante o período de estiagem, a redução do volume de chuvas causa queda nos níveis de reservatórios e rios, impactando o abastecimento e intensificando a escassez de água.

Ao mesmo tempo, a expansão urbana sem planejamento tem favorecido o aumento de registros de animais silvestres circulando em bairros e condomínios, cenário que exige manejo adequado e orientação à população. Somado a isso, arboviroses como dengue, zika e chikungunya seguem entre os principais desafios de saúde pública da região, reforçando a importância de estratégias conjuntas e integradas de vigilância e prevenção.

Para o biólogo Marco Aurélio Alves Perin, formado pela UFU e mestre em Zoologia pela UFJF, “o aumento da ocorrência de animais silvestres em áreas urbanas resulta principalmente da fragmentação e perda de habitats naturais em função da expansão desordenada das cidades. Diante disso, o biólogo atua na mediação entre a sociedade e a fauna silvestre, propondo medidas de manejo, mitigação de conflitos e educação ambiental. Sua atuação é essencial para garantir a convivência equilibrada entre humanos e fauna nativa, preservando a biodiversidade urbana”.

O papel estratégico do biólogo 

Marco Aurélio explica que o trabalho do biólogo vai muito além do ambiente acadêmico, “Ele está diretamente ligado à qualidade de vida das pessoas, por meio do monitoramento da água, conservação da biodiversidade, gestão de resíduos e mitigação de impactos ambientais. A atuação do biólogo é essencial para garantir o equilíbrio dos ecossistemas e a sustentabilidade das cidades”.

Entre as ações planejadas, destacam-se:

  • Proteção de nascentes e recuperação de matas ciliares;

  • Monitoramento da qualidade da água e controle da erosão;

  • Planejamento urbano ecológico, com corredores ecológicos, áreas verdes interligadas e passagens de fauna;

  • Educação ambiental para promover convivência segura entre população e animais silvestres;

  • Vigilância, prevenção e controle de zoonoses, doenças tropicais negligenciadas e enfermidades transmitidas por vetores;

  • Qualificação da prevenção, preparação e resposta frente a epidemias e pandemias;

  • Proteção da biodiversidade e melhoria do gerenciamento dos ecossistemas;

  • Enfrentamento e adaptação às mudanças climáticas;

  • Conscientização sobre as relações integradas entre saúde humana, animal, vegetal e ambiental.

Além disso, iniciativas em Uberlândia, como o Programa de Coleta Seletiva e a gestão do Parque Estadual do Pau Furado, estimulam a preservação ambiental, o ecoturismo responsável e a sustentabilidade urbana. O biológo ainda reforça que “O planejamento ambiental integrado, por meio de planos diretores e comitês de bacia hidrográfica, também é fundamental para equilibrar o uso da água entre os setores agrícola, industrial e doméstico.

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Pilares da Saúde Única

O Dia Nacional da Saúde Única, celebrado em 3 de novembro, destaca a necessidade de integrar a saúde humana, animal e ambiental para prevenir e responder a ameaças atuais e futuras, como pandemias, resistência antimicrobiana e impactos climáticos.

No Brasil, essa visão ganhou reforço jurídico com a Lei nº 14.792/24, sancionada em janeiro deste ano, que instituiu o Dia Nacional da Saúde Única e busca ampliar a conscientização da sociedade, incentivar políticas públicas e aproximar áreas que historicamente atuam de forma paralela, como medicina humana, medicina veterinária, ecologia e agronomia.

“A abordagem de ‘uma só saúde’ vai além das doenças zoonóticas emergentes. Enraizada na compreensão da interdependência dos sistemas feita pelos seres humanos e naturais, coloca em evidência questões globais, como contaminação ambiental, perda de diversidade, degradação da função ecossistêmica e resistência antimicrobiana”, escreveu a Comissão Nacional de Saúde Pública do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

Na prática, o SISS-Geo, desenvolvido pela Fiocruz e pela Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre, aplica o conceito de Saúde Única ao monitorar animais vivos, mortos ou doentes e investigar eventos suspeitos, relacionando-os ao ambiente. Gratuito e disponível para smartphones e web, o sistema permite que cidadãos, pesquisadores e profissionais de saúde contribuam com registros, auxiliando na prevenção de zoonoses como febre amarela e raiva, na conservação da biodiversidade e no planejamento de políticas públicas mais efetivas.