Mudanças climáticas intensificam dengue e riscos à saúde no Triângulo
Aquecimento global e alterações no clima tornam a proliferação do Aedes aegypti um problema crônico, enquanto iniciativas locais e internacionais buscam estratégias de adaptação e prevenção
As mudanças climáticas estão transformando a realidade do Triângulo Mineiro, afetando diretamente a saúde da população. O aumento da temperatura e a irregularidade das chuvas aceleram a proliferação do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, que em 2025 já soma mais de 30 mil casos na região. O geógrafo e professor da Universidade Federal de Uberlândia, Rildo Costa alerta que o problema, antes sazonal, pode se tornar crônico e exige ações integradas de prevenção, educação e adaptação urbana.

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Segundo o geógrafo, o aumento da temperatura no Triângulo Mineiro favorece a multiplicação do Aedes aegypti, transmissor da dengue.“O mosquito precisa de água e calor entre 30ºC e 32ºC para reproduzir seus ovos. Quanto mais altas a temperatura e a umidade, maior a proliferação. Além disso, o Aedes está cada vez mais adaptado, antigamente preferia águas limpas, hoje qualquer pequena poça, até água acumulada no motor da geladeira, pode servir”, explica Costa.
Ele alerta que a dengue deixou de ser um problema sazonal. “Nos últimos anos, os casos deixaram de se concentrar apenas nos meses de chuva, como abril a agosto, e passam a ocorrer o ano inteiro. Isso exige planos de contingência e atenção especial em áreas mais vulneráveis da região.”
Dados alarmantes na região
O Triângulo Mineiro registrou em 2019 mais de 49 mil casos de dengue. Em 2023, 67 mil , e neste ano até novembro, já ultrapassa quase 56 mil casos notificados, conforme levantamento da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.
“A adaptação do mosquito e o aumento contínuo da temperatura transformam a dengue em um problema crônico, que exige prevenção contínua, educação e manutenção de quintais e terrenos limpos”, reforça Costa.
Campanha nacional reforça combate ao Aedes
O Ministério da Saúde lançou na última segunda-feira (3) a campanha nacional “Não dê chance para dengue, zika e chikungunya”, anunciando investimentos para manter o combate incessante ao mosquito, mesmo com a queda significativa nos registros de dengue em 2025.
A pasta reforçou “Não podemos baixar a guarda”, destacando Minas Gerais, que segue entre os estados com maior concentração de casos. O Brasil registra atualmente 1,6 milhão de casos prováveis de dengue, sendo São Paulo responsável por 55% e Minas Gerais pela segunda posição, com 9,8% do total nacional.
Estratégias de prevenção
Em nível federal, o Ministério da Saúde, em parceria com a OMS, OPAS e instituições de pesquisa, apresentou o Plano de Ação em Saúde de Belém. O documento, resultado de cooperação inédita, tem como objetivo fortalecer a adaptação do setor de saúde diante das mudanças climáticas.
Segundo a secretária Mariângela Simão, o plano organiza 15 resultados e cerca de 60 ações, incluindo sistemas de alerta precoce, segurança hídrica e alimentar, proteção de trabalhadores em contextos extremos e programas de adaptação para doenças sensíveis ao clima, como dengue e malária.
“O Plano de Belém traduz o compromisso do Brasil com uma agenda de saúde climática justa e baseada em evidências. Será apresentado oficialmente no Dia da Saúde, na COP30, em 13 de novembro de 2025”, afirma Simão.
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Relatórios reforçam urgência
Dados do Lancet Countdown América Latina, apresentados por Daniel Buss, da OPAS, indicam que os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde já são mensuráveis e se intensificam rapidamente.
“Em 2023, mais de 13,5 milhões de casos de dengue foram registrados nas Américas — quatro vezes mais que no ano anterior. Crianças pequenas e idosos são os mais afetados. Isso não é uma previsão, é uma realidade”, alerta Buss. Ele acrescenta que eventos climáticos extremos, como ondas de calor, incêndios e inundações, aumentam perdas econômicas e insegurança alimentar.
Tecnologias e iniciativas locais
O pesquisador Maurício Barreto, da Fiocruz Bahia, apresentou o CIDACS Clima, plataforma que integra dados epidemiológicos, ambientais e sociais para orientar políticas públicas e prevenir surtos de doenças. “O sistema permite que municípios se antecipem a eventos extremos e planejem ações preventivas, economizando recursos e protegendo vidas”, explica Barreto.
No Triângulo Mineiro, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediou, em 31 de outubro, um encontro preparatório para a COP30. A professora Samara Carbone, do Observatório de Política Ambiental da UFU, destacou a importância de conectar os desafios locais à agenda global:
“Estamos trazendo a discussão da COP30 para Uberlândia, envolvendo movimentos socioambientais, para elaborar uma carta conjunta que levará as pautas da região para o evento em Belém.”
Conscientização e prevenção ainda são essenciais
Especialistas reforçam que, apesar dos avanços em tecnologia e políticas públicas, o controle da dengue depende também de ações individuais. Manter quintais limpos, eliminar focos de água parada e seguir alertas de saúde pública são medidas fundamentais para reduzir riscos.