MG sofre com baixa de estoque de insulina em 2024; caneta foi alternativa para suprir necessidade

Falta de insulina teria sido causada por uma interrupção do fornecimento do medicamento; Governo reconhece uma "crise hospitalar"

, em Uberlândia

Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que dependem do Governo para o abastecimento dos estoques pessoais de insulina sofreram com uma baixa na disponibilidade do medicamento no ano de 2024.

De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais (SES-MG), houve um desabastecimento temporário das insulinas humanas NPH e regular na apresentação em frascos, devido à interrupção na produção pelo fabricante.

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Segundo Tom Bueno, jornalista, diabético e criador do canal Um Diabético, a falta de insulina é um problema mundial - Crédito: Freepik
Segundo Tom Bueno, jornalista, diabético e criador do canal Um Diabético, a falta de insulina é um problema mundial — Crédito: Freepik

A SES-MG explicou ao Paranaíba Mais que a distribuição das insulinas é realizada aos municípios de forma proporcional aos quantitativos fornecidos pelo Ministério da Saúde ao Estado. Uma alternativa para suprir a demanda pelas insulinas humanas foi a apresentação do produto em aplicação “caneta”, como alternativa para suprir a necessidade gerada pela indisponibilidade dos frascos.

Segundo as informações fornecidas, a distribuição das insulinas para os municípios no estado está sendo feita considerando as necessidades mensais dos pacientes, com o que é repassado pelo Estado.

2023

  • Insulina NPH 100 UI/ML (caneta): 527.890 unidades
  • Insulina Regular 100 UI/ML (caneta): 193.144 unidades

2024

  • Insulina NPH 100 UI/ML (caneta): 647.416 unidades (aumento 22,64%na distribuição)
  • Insulina Regular 100 UI/ML (caneta): previsão de 146.283 unidades (diminuição de aproximadamente 24,3%)

Os dados mostram que os municípios mineiros seguiram as orientações para priorizar a apresentação em caneta, garantindo o atendimento dos pacientes.

Da vida pessoal para formação profissional

Laura Fernandes Ferreira, médica residente em clínica médica no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), conta que o diabetes sempre fez parte de sua rotina e de sua vida.

Desde muito jovem, Laura conviveu com doces sem açúcar, adoçantes, alimentos de baixo índice glicêmico, glicosímetros e insulina, devido ao histórico familiar — a mãe dela é diabética, assim como mais de 50% da família materna. No início da faculdade, o diabetes era tão presente, que Laura não tinha interesse em aprender mais sobre o tema, focando apenas em evitar desenvolver a doença.

Com o tempo, a médica começou a observar diferentes padrões familiares: casos de difícil controle, outros controlados por dieta e atividade física, alguns marcados pela preocupação com o diagnóstico e outros pela indiferença. Essa diversidade despertou sua curiosidade e a motivou a estudar o diabetes de forma mais aprofundada.

“Ao estudar, meus olhos começaram a brilhar só de ouvir a palavra diabetes. Com toda minha vivência, esse tema se tornou um dos meus favoritos na medicina, a ponto de comover meus amigos a deixarem todos os pacientes diabéticos dos estágios para mim!”, revela Laura.

Ela explica que a falta de insulina impacta diretamente o tratamento dos diabéticos insulinodependentes, incluindo aqueles com diabetes Tipo 1, Tipo 2, LADA, MODY e outras variantes que exigem o uso diário do medicamento.

A ausência de insulina pode causar complicações imediatas, como aumento da glicemia, cetoacidose ou estado hiperglicêmico hiperosmolar. A longo prazo, pode levar a danos nos rins, nos olhos e nos nervos.

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Laura destaca que pacientes que usam medicamentos orais associados à insulina devem ajustar essas medicações para tentar controlar picos glicêmicos. Contudo, para aqueles que dependem exclusivamente da insulina, o uso de medicamentos orais não é eficaz, tornando essencial o acesso ao hormônio.

Ela também menciona que insulinas de ultralonga e de rápida duração estão disponíveis no mercado, mas a um custo elevado, incompatível com a realidade financeira da maioria da população.

Um problema global

Tom Bueno, jornalista, diabético e criador do canal Um Diabético, explicou ao Paranaíba Mais que a escassez de insulina é um problema global, afetando inclusive países desenvolvidos.

Segundo Tom, a falta ocorre em razão da evolução tecnológica no setor farmacêutico, que prioriza a produção de insulinas mais modernas, como os tipos Fiasp e Degludeca (Tresiba), em detrimento das versões antigas. Apesar de ainda serem necessárias, a capacidade industrial para produzir ambos os tipos é limitada.

Bueno destaca que no Brasil o problema se agrava devido à estrutura do SUS, que opera em esferas nacional, estadual e municipal. Identificar se a falha está no fornecimento pelo Ministério da Saúde, na distribuição estadual ou na logística municipal é essencial para melhorar o sistema.

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Uma questão histórica

Segundo a Biomm, pioneira na produção de biomedicamentos no Brasil, a falta de insulina reflete um problema histórico e global. Em abril de 2024, a empresa inaugurou uma fábrica em Nova Lima (MG), dedicada à produção de insulina glargina (Glargilin). Com capacidade anual para 20 milhões de carpules, a unidade visa reduzir a dependência de importações e ampliar o acesso ao tratamento.

Desde junho, a Biomm opera normalmente no Brasil, fornecendo insulina para os mercados público e privado. Recentemente, firmou uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo com a Fundação Ezequiel Dias (Funed) para produzir insulina humana no Brasil, com a meta de atender 50% da demanda anual do Ministério da Saúde. Além disso, venceu uma licitação para fornecer 3,3 milhões de unidades de insulina glargina ao SUS, com entregas previstas para dezembro de 2024.

A Biomm também colabora com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no desenvolvimento de plataformas produtivas com foco em doenças metabólicas, promovendo maior autonomia nacional na produção de medicamentos.

O pronunciamento nacional

O Ministério da Saúde ainda postou uma nota oficial a imprensa sobre a falta de insulina no dia 30 de novembro de 2024.

A pasta anunciou medidas para enfrentar a restrição global de insulina, garantindo o abastecimento até 2025. Até outubro deste ano, foram distribuídas 49,9 milhões de unidades de insulina NPH e 10,7 milhões de insulina regular em frascos e canetas. Além disso, um acordo firmado em 26 de novembro prevê a entrega antecipada de 1,8 milhão de unidades até dezembro.

O governo também incorporou insulinas análogas ao SUS e iniciou a produção nacional do medicamento. Para cidadãos com dificuldades de acesso em farmácias privadas ou no programa Farmácia Popular, a orientação é buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima.

Reconhecendo a crise na rede hospitalar, o Ministério coordena ações para apoiar estados e municípios na manutenção de estoques regulares. Essas medidas reforçam o compromisso do SUS em garantir o fornecimento e o acesso ao medicamento para toda a população.