Fiocruz avança no combate ao câncer de mama com nanopartículas; entenda pesquisa

Estudo mostra que nanopartículas de óxido de ferro conseguiram impedir que células cancerígenas se multiplicassem e espalhassem para outros órgãos

, em Uberlândia

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Um estudo de pesquisadores Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) deu um importante passo no combate ao câncer de mama. A pesquisa, publicada na revista Cancer Nanotechnology, descobriu que nanopartículas de óxido de ferro podem impedir que as células cancerígenas se multipliquem e que o tumor se espalhe para outros órgãos. Apesar do avanço na pesquisa, ainda há diversas etapas futuras até chegar à fase clínica, na qual são realizados testes em seres humanos.

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Pesquisadores da Fiocruz durante pesquisa no combate ao câncer de mama
Estudo sobre o combate ao câncer de mama  foi dirigido por pesquisador da Fiocruz Minas – Crédito: Fiocruz Minas/Divulgação

Combate ao câncer de mama

No Brasil, mais de 108 mil mulheres com menos de 50 anos foram diagnósticas com câncer de mama entre 2018 e 2023. O número representa uma média de uma em três mulheres diagnosticadas com a doença. Os dados são do Painel Oncologia Brasil e analisados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).

O estudo das nanopartículas no combate ao câncer de mama é liderado pelo pesquisador Carlos Eduardo Calzavara, da Fiocruz Minas, junto a pós-doutoranda Camila Sales do Nascimento. Segundo Carlos, eles descobriram o benefício da nanopartícula em uma análise anterior e no novo estudo compreenderam como elas funcionam no organismo humano.

“Agora, com este novo estudo, compreendemos como isso acontece e ver que as nanopartículas são capazes de impedir que as células cancerígenas se espalhem e que o tumor dê origem a metástases. E o melhor: sem causar danos ao organismo. Todas essas informações mostram que estamos caminhando para chegar, de fato, a uma imunoterapia efetiva”, afirmou o pesquisador.

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Como os estudos foram feitos?

A pesquisa, publicada em maio na revista científica, utilizou fêmeas de camundongos para realizar testes e chegar nos resultados. Os pesquisadores separaram os roedores em dois grupos e apenas um deles recebeu as nanopartículas. Após um tempo, os animais tratados apresentaram um aumento de células chamadas “natural killers”, que atacam e matam células com um padrão alterado, como acontece com as do câncer. Além disso, houve uma redução dos neutrófilos, um tipo de célula que pode favorecer a progressão do câncer.

Geralmente, o câncer é uma doença que “engana” o sistema de defesa do corpo. Isto é, ele permite que o tumor cresça sem ser combatido, com o organismo “acreditando” que nada está acontecendo. Segundo o pesquisador Carlos, as nanopartículas fazem o processo contrário, despertando o sistema imune e fazendo com que ele reconheça a ameaça e comece a ativar as células de defesa para destruir as células cancerígenas.

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“O tumor do câncer de mama produz algumas substâncias que o mascaram e fazem com que o sistema imune entenda que está tudo bem. Isso diminui a resposta inflamatória e permite que as células tumorais se multipliquem desenfreadamente, possibilitando que o tumor cresça. O que nós vimos neste estudo é que, ao colocar as nanopartículas, induz-se um perfil inflamatório no microambiente. Isso porque elas induzem várias biomoléculas que vão acordar o sistema imune, que detecta as células cancerígenas e as elimina”, explicou.

O estudo focado no combate ao câncer de mama também percebeu que as nanopartículas de óxido de ferro reduziram nos roedores os níveis da molécula MCP-1, que pode ser responsável por espalhar as células cancerígenas para outros órgãos – um processo chamado metástase. Os pesquisadores observaram que nos animais havia menos focos de células tumorais nos pulmões, onde geralmente acontece a metástase. No entanto, no caso do fígado, que também é frequentemente atacado, o tratamento não foi significativo.