“Cérebro apodrecido”: como os vídeos curtos e o excesso de redes sociais estão destruindo sua mente
Fenômeno conhecido como “cérebro podre” alerta especialistas sobre os danos provocados pelo consumo exagerado de conteúdo raso nas redes; entenda os riscos para adultos, jovens e crianças
Você já sentiu dificuldade de se concentrar, manter uma conversa ou lembrar o que acabou de ver na internet? Esses sintomas podem ser mais do que simples distração. Um termo cada vez mais discutido por especialistas, o “cérebro apodrecido” — ou brain rot, em inglês — tem ganhado força ao descrever o impacto devastador do uso excessivo de redes sociais, especialmente os vídeos curtos, no funcionamento cognitivo do ser humano.

O psicólogo Daniel Vieira, em entrevista exclusiva, explica que a expressão, apesar de chocante, é simbólica e reflete uma redução real da capacidade cognitiva e emocional das pessoas, principalmente dos jovens. “Não estamos falando de necrose cerebral, mas sim de uma perda de potência mental. As pessoas estão deixando de desenvolver funções básicas como memória, raciocínio lógico, empatia e habilidade social”, alerta.
O que é o “cérebro apodrecido”?
O termo brain rot foi eleito como palavra do ano pelo Dicionário de Oxford em 2024, refletindo a urgência em discutir o fenômeno. Ele descreve uma degeneração simbólica do cérebro, causada pelo consumo contínuo de conteúdos rasos, repetitivos e que não exigem esforço mental, como os famosos vídeos de poucos segundos nas redes sociais.
O conteúdo é viciante porque ativa o sistema de recompensa do cérebro, o mesmo que se acende com comida, drogas ou jogos de azar. “Os algoritmos são pensados para sequestrar sua atenção. Eles te entregam uma sequência de vídeos personalizados, intercalados por conteúdos bobos que fazem você continuar rolando sem parar, esperando por uma nova recompensa”, explica o psicólogo.
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Como isso afeta jovens, adultos e crianças?
Segundo Daniel Vieira, o impacto é generalizado. O uso excessivo das redes sociais já consome, em média, nove horas diárias dos brasileiros, tempo que poderia ser usado para atividades produtivas, relacionamentos reais ou aprendizado.
Nos adultos, os efeitos são sentidos principalmente na falta de concentração, no aumento da ansiedade e na perda da capacidade crítica. “Estamos nos tornando dependentes de estímulos rápidos e descartáveis. Qualquer atividade que exija esforço ou reflexão é rapidamente evitada.”
Nas crianças, o problema é ainda mais grave. Como o cérebro está em formação, a falta de experiências motoras, sociais e afetivas no mundo real pode comprometer seriamente o desenvolvimento. “A criança precisa brincar, correr, se frustrar, conviver. Tirando isso, ela cresce sem preparo para o ambiente escolar e para a vida”, destaca Vieira.
Os prejuízos sociais e emocionais

O fenômeno também atinge a forma como nos relacionamos. Nas escolas, por exemplo, a proibição do uso de celulares gerou um verdadeiro caos. “Muitas crianças não sabiam mais conversar sem o celular. Não sabiam lidar com conflitos cara a cara, porque estavam acostumadas com interações virtuais, sem empatia e sem consequências”, comenta o psicólogo.
Essa incapacidade de conviver com o outro está diretamente ligada ao aumento de casos de bullying, isolamento, ansiedade social e dificuldade de argumentação.
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Existe saída? O uso consciente das telas
Apesar do cenário alarmante, há soluções possíveis. A chave está no uso consciente e equilibrado da tecnologia. “Não se trata de demonizar a internet, mas de entender que precisamos limitar o tempo e, principalmente, qual conteúdo estamos consumindo”, orienta Vieira.
Dicas para evitar o “cérebro podre”:
- Estabeleça limites de tempo para uso das redes sociais;
- Prefira conteúdos que informem, inspirem ou desafiem seu raciocínio;
- Pratique atividades offline diariamente: leitura, exercícios físicos, conversas reais;
- Estimule interações sociais presenciais, especialmente com crianças e adolescentes;
- Tenha períodos do dia totalmente livres de telas, como durante refeições e antes de dormir.