Biofábrica da Wolbachia em Uberlândia inicia produção de mosquitos aliados para combater a dengue
Técnica consiste em introduzir a Wolbachia, microrganismo natural no Aedes aegypt, o que impede o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya; unidade tem capacidade para 3,5 milhões de mosquitos por semana
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A primeira biofábrica da Wolbachia do interior do Estado, inaugurada nesta sexta-feira (14) em Uberlândia, marca um avanço importante no combate às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A unidade, instalada na cidade, é responsável pela produção dos chamados mosquitos aliados, insetos infectados com a bactéria Wolbachia, que impede o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya no mosquito.
O método, já utilizado com sucesso em cidades como Niterói, Foz do Iguaçu, Joinville e Belo Horizonte, é considerado uma das estratégias mais inovadoras e seguras de saúde pública na atualidade. Em Uberlândia, a fábrica funcionará em parceria com o Ministério da Saúde, Fiocruz, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais e Prefeitura Municipal.

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Biofábrica tem capacidade para 3,5 milhões de mosquitos por semana
Durante a inauguração, o subsecretário de Vigilância em Saúde de Minas Gerais, Eduardo Campos Prosdocimi, explicou que a fábrica é capaz de produzir 3,5 milhões de mosquitos por semana. Eles serão liberados em áreas selecionadas conforme o risco epidemiológico da cidade, reforçando ações preventivas no período de maior circulação viral.
O subsecretário destacou que o método é sustentável e robusto. “Estamos trazendo uma ferramenta inovadora que se soma a drones, monitoramento e capacitações. A Wolbachia já mostrou resultados expressivos em outras cidades e agora será aliada fundamental de Uberlândia na redução das arboviroses.”
O subsecretário também lembrou que a iniciativa depende do engajamento da população. Cerca de 80% dos focos de Aedes se formam dentro das residências, e dez minutos semanais de vistoria podem evitar criadouros.

Como funciona a Wolbachia e os mosquitos aliados
A Wolbachia é uma bactéria natural, presente em mais de 60% dos insetos, mas não existe no Aedes aegypti. Quando inserida no mosquito, ela bloqueia o desenvolvimento dos vírus por dois principais mecanismos:
- Competição por recursos dentro das células: a bactéria consome nutrientes essenciais, impedindo que o vírus se multiplique;
- Ativação da resposta imune antiviral do mosquito: a presença da Wolbachia torna o ambiente celular hostil para os vírus.
Com isso, o Aedes modificado não consegue transmitir dengue, zika ou chikungunya. Os mosquitos não são transgênicos e a bactéria não é transmissível a humanos, animais ou ao ambiente, existindo apenas dentro do inseto.
Esse tipo de Aedes é apelidado de “Wolbito”, e quando se reproduz com mosquitos locais, cria uma nova população de insetos aliados, capaz de reduzir drasticamente a transmissão das doenças.
Resultados em outras cidades reforçam eficácia do método
Estudos mostram que a implementação da Wolbachia reduziu:
- 89% dos casos de dengue em territórios 100% cobertos, como em Niterói (RJ);
- 60% dos casos de chikungunya;
- 37% a 40% dos registros de zika.
Em Foz do Iguaçu, as reduções foram semelhantes. Esses dados colocam a Wolbachia entre os métodos mais eficazes de controle do Aedes aegypti no mundo.
Próximos passos em Uberlândia
A soltura dos mosquitos deve começar ainda nesta sexta-feira, alinhada aos setores da cidade com maior risco epidemiológico. A expectativa é que, ao atingir proporções adequadas, a nova população de mosquitos aliados torne o método autossustentável, diminuindo progressivamente a necessidade de intervenções diretas.