Anvisa aciona órgãos internacionais por antídoto do metanol
Em meio ao crescente número de casos de intoxicação por bebidas adulteradas, a agência busca trazer fomepizol de outros países para tratamento emergencial
Diante do aumento de casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas, a Anvisa mobilizou autoridades regulatórias de diversos países para viabilizar a importação do antídoto do metanol, o fomepizol, medicamento considerado padrão-ouro no tratamento da intoxicação. Enquanto o antídoto não chega, o Ministério da Saúde mantém estoques estratégicos de etanol farmacêutico.

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O metanol, álcool utilizado na indústria química e na fabricação de solventes, não é seguro para consumo humano. Por não ter cor, cheiro ou sabor, ele pode ser misturado ilegalmente a bebidas alcoólicas, tornando o risco difícil de perceber. Quando ingerido, o organismo transforma a substância em compostos altamente tóxicos, capazes de causar cegueira, falência de órgãos e até a morte. Entre os sintomas iniciais estão visão borrada, tontura, dor abdominal e náusea, e o tratamento deve ser iniciado rapidamente.
Antídoto do metanol
Para enfrentar a situação, a Anvisa acionou órgãos reguladores de diferentes países, incluindo FDA (Estados Unidos), EMA (União Europeia), Japão, China, Canadá, Reino Unido, Argentina, México, Suíça e Austrália, com o objetivo de identificar fornecedores e acelerar a importação do fomepizol. Em paralelo, foi publicado um edital de chamamento internacional para fabricantes e distribuidores com estoque disponível.
O Ministério da Saúde também estruturou medidas emergenciais. Em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), foram organizados estoques estratégicos em hospitais universitários e serviços do SUS com 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico. Além disso, está em andamento a aquisição emergencial de 5 mil tratamentos de fomepizol, somando 150 mil ampolas, com reforço da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que forneceu 100 unidades e viabilizará a compra de outras 1.000.
Enquanto aguarda a chegada do antídoto, a Anvisa avalia o uso emergencial do etanol farmacêutico como alternativa temporária. Três laboratórios da Rede Nacional de Vigilância Sanitária foram mobilizados para análise imediata de amostras suspeitas: Lacen/DF, Laboratório Municipal de São Paulo e INCQS/Fiocruz. Além disso, 604 farmácias de manipulação foram identificadas como aptas a produzir etanol farmacêutico, garantindo cobertura em todas as capitais.
Notificações
Até o momento, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) recebeu notificações de 60 casos de intoxicação por metanol: 53 em São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em Pernambuco em investigação, um confirmado no Distrito Federal e um investigado na Bahia. Há um óbito confirmado e oito em investigação.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou a importância de medidas preventivas e alertou a população. “Reforçamos três recomendações fundamentais ao consumir bebidas alcoólicas: mantenha-se alimentado e hidratado antes e durante o consumo; e, principalmente, certifique da origem da bebida. É essencial saber de onde ela vem”.
A sala de situação, instalada pelo Ministério da Saúde para monitorar os casos, reúne representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Agricultura, conselhos de saúde, Anvisa e secretarias estaduais de São Paulo e Pernambuco. O grupo se reúne regularmente enquanto persistirem os riscos de intoxicação.
Profissionais de saúde devem notificar imediatamente qualquer suspeita de intoxicação por metanol, sem necessidade de confirmação laboratorial prévia. A orientação ao público em geral é ligar para o Disque-Intoxicação (0800-722-6001) em caso de ingestão suspeita, recebendo instruções de primeiros socorros até o atendimento médico.
O antídoto específico, fomepizol, ainda não está disponível no Brasil, mas a rápida mobilização nacional e internacional busca garantir que todos os pacientes recebam tratamento eficaz, minimizando riscos de sequelas graves e óbitos.