Anvisa aciona órgãos internacionais por antídoto do metanol

Em meio ao crescente número de casos de intoxicação por bebidas adulteradas, a agência busca trazer fomepizol de outros países para tratamento emergencial

, em Uberlândia

Diante do aumento de casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas, a Anvisa mobilizou autoridades regulatórias de diversos países para viabilizar a importação do antídoto do metanol, o fomepizol, medicamento considerado padrão-ouro no tratamento da intoxicação. Enquanto o antídoto não chega, o Ministério da Saúde mantém estoques estratégicos de etanol farmacêutico.

Fachada do edifício sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Anvisa aciona órgãos internacionais por antídoto do metanol durante crise sanitária no Brasil – Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O metanol, álcool utilizado na indústria química e na fabricação de solventes, não é seguro para consumo humano. Por não ter cor, cheiro ou sabor, ele pode ser misturado ilegalmente a bebidas alcoólicas, tornando o risco difícil de perceber. Quando ingerido, o organismo transforma a substância em compostos altamente tóxicos, capazes de causar cegueira, falência de órgãos e até a morte. Entre os sintomas iniciais estão visão borrada, tontura, dor abdominal e náusea, e o tratamento deve ser iniciado rapidamente.

Antídoto do metanol

Para enfrentar a situação, a Anvisa acionou órgãos reguladores de diferentes países, incluindo FDA (Estados Unidos), EMA (União Europeia), Japão, China, Canadá, Reino Unido, Argentina, México, Suíça e Austrália, com o objetivo de identificar fornecedores e acelerar a importação do fomepizol. Em paralelo, foi publicado um edital de chamamento internacional para fabricantes e distribuidores com estoque disponível.

O Ministério da Saúde também estruturou medidas emergenciais. Em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), foram organizados estoques estratégicos em hospitais universitários e serviços do SUS com 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico. Além disso, está em andamento a aquisição emergencial de 5 mil tratamentos de fomepizol, somando 150 mil ampolas, com reforço da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que forneceu 100 unidades e viabilizará a compra de outras 1.000.

Enquanto aguarda a chegada do antídoto, a Anvisa avalia o uso emergencial do etanol farmacêutico como alternativa temporária. Três laboratórios da Rede Nacional de Vigilância Sanitária foram mobilizados para análise imediata de amostras suspeitas: Lacen/DF, Laboratório Municipal de São Paulo e INCQS/Fiocruz. Além disso, 604 farmácias de manipulação foram identificadas como aptas a produzir etanol farmacêutico, garantindo cobertura em todas as capitais.

Notificações

Até o momento, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) recebeu notificações de 60 casos de intoxicação por metanol: 53 em São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em Pernambuco em investigação, um confirmado no Distrito Federal e um investigado na Bahia. Há um óbito confirmado e oito em investigação.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou a importância de medidas preventivas e alertou a população. “Reforçamos três recomendações fundamentais ao consumir bebidas alcoólicas:  mantenha-se alimentado e hidratado antes e durante o consumo; e, principalmente, certifique da origem da bebida. É essencial saber de onde ela vem”.

A sala de situação, instalada pelo Ministério da Saúde para monitorar os casos, reúne representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Agricultura, conselhos de saúde, Anvisa e secretarias estaduais de São Paulo e Pernambuco. O grupo se reúne regularmente enquanto persistirem os riscos de intoxicação.

Profissionais de saúde devem notificar imediatamente qualquer suspeita de intoxicação por metanol, sem necessidade de confirmação laboratorial prévia. A orientação ao público em geral é ligar para o Disque-Intoxicação (0800-722-6001) em caso de ingestão suspeita, recebendo instruções de primeiros socorros até o atendimento médico.

O antídoto específico, fomepizol, ainda não está disponível no Brasil, mas a rápida mobilização nacional e internacional busca garantir que todos os pacientes recebam tratamento eficaz, minimizando riscos de sequelas graves e óbitos.