Prefeito de BH nega turismo em Israel e critica Itamaraty
Álvaro Damião diz que foi a trabalho, relata medo e cobra postura do Itamaraty após comitiva brasileira viver dias de guerra em Tel Aviv
De volta a Belo Horizonte, o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), falou pela primeira vez nesta quarta-feira (18) sobre os dias que passou em Israel com uma comitiva de gestores municipais, que vivenciou de perto o início da ofensiva do país contra o Irã.
Na chegada ao Brasil, Damião reforçou que a missão tinha caráter técnico e que ele participou de eventos ligados à segurança pública, realizados em Tel Aviv. “Estávamos lá todos a trabalho. Infelizmente, chegamos ao país em uma situação e, de repente, veio a informação de que estava entrando em guerra”, afirmou.
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A declaração foi uma tentativa de rebater a nota do Ministério das Relações Exteriores, divulgada no início da semana, que acusou os prefeitos de desrespeitarem alertas consulares sobre os riscos de viagem à região. O comunicado oficial foi recebido com surpresa pelos integrantes da comitiva, que publicaram uma resposta conjunta demonstrando “profundo desacordo” com a fala do Itamaraty. O grupo, que incluía ainda os prefeitos de João Pessoa (PB), Nova Friburgo (RJ) e a vice-prefeita de Goiânia (GO), argumenta que houve comunicação prévia com a Embaixada do Brasil em Tel Aviv.
“Estávamos em Tel Aviv, não na Faixa de Gaza. O conflito já existe há muito tempo naquela região, mas nós não fomos para a zona de guerra. Fomos para uma agenda oficial”, frisou Damião, que criticou diretamente o Itamaraty pela ausência de suporte. “Nunca recebi uma ligação deles. Façam seu trabalho. Apenas isso.”
A comitiva enfrentou momentos de pânico durante os ataques. Aplicativos de alerta foram baixados às pressas, e os prefeitos foram orientados a correr para os bunkers ao som de sirenes. “Você entra no bunker, ouve barulhos e sente o chão tremer, sem saber se o míssil vai cair onde você está”, descreveu o prefeito da capital mineira. “Tínhamos um minuto e meio para nos abrigar. Era rezar para que o dia seguinte fosse igual: conseguir sair de lá mais uma vez.”
Damião também relatou que ajudou pessoalmente no retorno ao Brasil de uma empresária mineira que ainda estava em Israel com a família. Ele agradeceu o apoio de aliados políticos, como a ministra Gleisi Hoffmann (PT) e os senadores Rodrigo Pacheco (PSD) e Carlos Viana (Podemos), além do deputado federal Mersinho Lucena (PP), que fretou a aeronave usada pela comitiva para voltar ao país.
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O trajeto de retorno envolveu uma verdadeira operação de guerra: o grupo deixou Tel Aviv por terra, cruzou a fronteira com a Jordânia e embarcou de volta ao Brasil a partir da Arábia Saudita. A aeronave fez escalas na Espanha e em Cabo Verde antes de chegar a Natal (RN), de onde os integrantes seguiram para suas respectivas cidades.
Apesar dos momentos de tensão, Damião disse que não se arrepende da viagem. “Se me convidar hoje para ir a Israel, eu não vou. Mas em outra oportunidade, posso ir. Não fomos por causa da guerra, fomos para um evento internacional com representantes de vários países. Obviamente, se soubéssemos do conflito, ninguém teria ido.”
Durante a chegada ao Aeroporto de Confins, na Grande BH, o prefeito ainda foi surpreendido por um protesto de professores da rede municipal, em greve por reajuste salarial. Ele prometeu retomar as negociações com a categoria assim que voltasse à sede da prefeitura.