Horário de verão pode ser retomado diante de alta no consumo de energia

Com aumento previsto de 14,1% na carga elétrica até 2029, ONS alerta para riscos operacionais e sugere medidas para aliviar pressão sobre o sistema

, em Uberlândia

Brasil poderá enfrentar novos desafios energéticos nos próximos anos, impulsionados por uma demanda crescente e mudanças na composição da matriz elétrica. Segundo o Plano da Operação Energética (PEN 2025), divulgado nesta terça-feira (8) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a carga de energia no país deve crescer 14,1% até 2029, uma média anual de 3,4%, alcançando 94,6 gigawatts médios (GWmed). Em meio a esse cenário, volta à tona o debate sobre o possível retorno do horário de verão como alternativa para reduzir a pressão sobre o sistema elétrico em horários críticos.

Cresce a pressão sobre o sistema elétrico e horário de verão volta ao debate
Cresce a pressão sobre o sistema elétrico e horário de verão volta ao debate – Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil/Reprodução

O relatório do ONS destaca a ampliação da micro e minigeração distribuída (MMGD), principalmente a energia solar, como um dos motores do crescimento da oferta. A estimativa é que até o fim da década, a fonte solar — somando MMGD e grandes usinas fotovoltaicas — represente quase um terço (32,9%) da matriz elétrica brasileira.

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Expansão solar 

Apesar do avanço das fontes renováveis, o ONS faz um alerta: a intermitência das energias solar e eólica, que variam conforme a disponibilidade do sol e dos ventos, exige maior capacidade de resposta imediata de outras fontes, como hidrelétricas e termelétricas. A entidade reforça a necessidade de flexibilidade operativa do sistema e recomenda investimentos em ferramentas de simulação para cenários de estresse no fornecimento.

Potência em risco e leilões emergenciais

Outra preocupação do órgão está relacionada ao atendimento de potência, ou seja, a capacidade do sistema de entregar energia no momento exato em que é consumida. O relatório projeta um desequilíbrio estrutural nessa área, especialmente no segundo semestre de cada ano, o que poderá exigir o uso mais intenso de usinas térmicas, geralmente mais caras e poluentes.

Como solução, o ONS recomenda a realização de leilões anuais de contratação de potência com urgência, visando reforçar a confiabilidade do sistema elétrico nacional.

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Horário de verão volta ao radar

Embora o horário de verão não seja citado diretamente no PEN 2025, o documento sugere medidas que possam aliviar a pressão sobre o sistema durante os fins de tarde, quando a geração solar diminui drasticamente e o consumo residencial e comercial atinge picos.

Implementado de forma recorrente entre 1985 e 2018, o horário de verão foi suspenso em 2019 após estudos indicarem baixa efetividade, principalmente devido à mudança no padrão de consumo, com maior uso de equipamentos de refrigeração durante o dia. A política consistia no adiantamento dos relógios em uma hora, entre outubro e fevereiro, com o objetivo de aproveitar melhor a luz natural no fim do dia e reduzir o uso de energia no horário de pico.

Agora, diante da combinação entre aumento da demanda, expansão intermitente de renováveis e pressão nos horários críticos, especialistas e técnicos do setor veem na retomada do horário de verão uma alternativa possível para reduzir a sobrecarga no Sistema Interligado Nacional (SIN).

Entenda o cenário elétrico até 2029, segundo o ONS:

  • Crescimento da carga elétrica: +14,1% até 2029

  • Média anual de crescimento: 3,4%

  • Capacidade instalada total projetada: 268 GW

  • Participação da energia solar (incluindo MMGD): 32,9% da matriz

  • Preocupações principais: potência nos horários de pico, intermitência de renováveis, falta de flexibilidade