BRICS: o que é, quem faz parte e qual foi o papel do Brasil na presidência de 2025
Brasil sediou a cúpula do bloco este ano, com foco em cooperação entre países em desenvolvimento e reformas globais
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O BRICS 2025 já não é apenas uma sigla inventada por economistas. Hoje, é um dos principais grupos de articulação política e econômica do planeta. O bloco reúne 11 países, representa mais de 40% da população mundial, tem grande influência na produção de petróleo e defende mudanças no funcionamento de instituições internacionais dominadas pelo Ocidente.
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Neste ano, o Brasil foi o país responsável por comandar o grupo. A presidência brasileira culminou na realização da cúpula dos chefes de Estado nos dias 6 e 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro. Os principais temas discutidos foram a reforma da governança global, como o funcionamento do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, e o fortalecimento da cooperação entre países do chamado Sul Global, que são as nações em desenvolvimento, especialmente da América Latina, África e Ásia.

Como tudo começou
A ideia do BRICS surgiu em 2001, quando o economista britânico Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, criou a sigla BRIC para destacar o potencial econômico de quatro países emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China. Com o tempo, o grupo passou a atuar politicamente. A primeira reunião entre os chefes de Estado aconteceu em 2009, na Rússia. No ano seguinte, a África do Sul entrou para o grupo, e o “S” foi adicionado à sigla.
Desde então, o BRICS se apresenta como uma alternativa às decisões tomadas pelos países mais ricos do mundo, reunidos no G7. Os membros do BRICS criticam o domínio das nações ocidentais em fóruns internacionais e defendem mais espaço para os países em desenvolvimento nas decisões globais.
Segundo Paula Barboza, coordenadora-geral da presidência brasileira do BRICS no Itamaraty, “o engajamento do Brasil com o bloco é central, tanto pela sua posição geográfica quanto pelo peso econômico e político do país”.
Mais do que economia
O BRICS trabalha com três grandes temas: política e segurança, economia e finanças, e sociedade civil. A ideia é buscar soluções conjuntas para problemas globais, incentivar o diálogo entre países e defender uma nova ordem mundial, mais equilibrada e multipolar — ou seja, com menos concentração de poder nas mãos de poucos.
Mesmo sem sede fixa ou orçamento único, o grupo já criou seu próprio banco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que aprovou mais de US$ 39 bilhões em investimentos em infraestrutura, energia e sustentabilidade. O bloco também discute formas de reduzir a dependência do dólar nas trocas comerciais. Uma moeda comum entre os membros chegou a ser proposta, mas ainda enfrenta resistências, principalmente da Índia.

Crescimento e novos membros do BRICS
Em 2023, o BRICS iniciou sua segunda fase de expansão e ganhou novos integrantes: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Com isso, o grupo passou a ter 11 países-membros. A Indonésia, que chegou a ser cogitada, recusou o convite e não faz parte do bloco.
Além dos membros oficiais, o BRICS também criou a categoria de “países parceiros”, que participam de algumas reuniões e projetos. Entre eles estão Bolívia, Cuba, Belarus, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Mais de 30 países já manifestaram interesse em fazer parte do grupo, como Colômbia, Nigéria, Bangladesh, Síria, Paquistão e Marrocos.
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Formatos de participação
Para ampliar a participação global, o BRICS também criou dois formatos de interação:
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BRICS Outreach: reúne países vizinhos do país que sedia a cúpula.
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BRICS Plus: criado pela China em 2017, permite que outros países participem de encontros e fóruns, mesmo sem serem membros plenos, desde que haja concordância entre os participantes.
Um bloco com poder, mas com desafios
Atualmente, o BRICS representa cerca de 35% do PIB global (em paridade de poder de compra), controla 40% da produção mundial de petróleo, possui quase 75% das reservas conhecidas de terras raras e responde por metade das patentes tecnológicas registradas no planeta.
Apesar da força econômica, o grupo enfrenta desafios internos. A diversidade política entre os países — que vai de democracias, como Brasil e Índia, até regimes autoritários, como China, Rússia e Irã — provoca tensões. Também existem rivalidades históricas, como entre Índia e China, e Egito e Etiópia, que dificultam a tomada de decisões conjuntas.
O próprio criador do termo BRIC, Jim O’Neill, já se mostrou cético quanto ao futuro do grupo. Em um artigo recente, ele afirmou que o BRICS “não serve a nenhum propósito real além de gestos simbólicos e retórica grandiosa”.
E o Brasil?
Mesmo diante das divergências, o BRICS continua se fortalecendo como uma alternativa ao modelo atual de poder global. Durante a cúpula deste ano no Rio de Janeiro, o Brasil buscou mostrar sua capacidade de liderar diálogos, aproximar países e propor soluções conjuntas.
“A presidência brasileira teve como foco principal a reforma das instituições internacionais e a cooperação entre os países do Sul Global”, reforçou Paula Barboza.
Com a realização da cúpula no Brasil, o BRICS se consolida como um espaço onde vozes de diferentes regiões do mundo podem ser ouvidas, em busca de um futuro mais equilibrado e justo nas relações internacionais.