Papa Francisco morre aos 88 anos nesta segunda-feira (21); relembre sua história

Francisco foi o primeiro pontífice latino-americano da história. Seu papado foi marcado com mensagens de humildade, inclusão e justiça social

, em Uberlândia

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O Vaticano confirmou na manhã desta segunda-feira (21) a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. A notícia foi anunciada oficialmente pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Santa Sé, durante uma breve cerimônia na Capela da Casa Santa Marta, residência papal onde o pontífice morava. “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai”, declarou Farrell.

Papa Francisco
Nos últimos meses, o estado de saúde de Francisco gerava preocupação entre fiéis e autoridades religiosas – Crédito: Instagram/Papa Francisco/Reprodução

“Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.

Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.

Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”

No domingo (20), o pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para deixar sua última mensagem de Páscoa ao mundo.

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Jorge Mario Bergoglio, argentino nascido em Buenos Aires em 1936, entrou para a história em 2013 ao se tornar o primeiro papa latino-americano e também o primeiro jesuíta a assumir o posto mais alto da Igreja Católica. Seu pontificado, que durou pouco mais de 12 anos, foi marcado por um estilo pastoral acolhedor, firme defesa dos pobres e ousadas tentativas de reforma interna no Vaticano.

Um adeus após longa luta pela saúde

Nos últimos meses, o estado de saúde de Francisco gerava preocupação entre fiéis e autoridades religiosas. Ele vinha enfrentando sucessivas internações desde fevereiro deste ano, quando foi diagnosticado com bronquite e pneumonia nos dois pulmões — quadro descrito pelos médicos como “complexo” e causado por infecção polimicrobiana.

Durante a hospitalização, o Papa também apresentou insuficiência renal leve, anemia e baixa contagem de plaquetas, o que exigiu transfusões de sangue. Ele chegou a usar ventilação mecânica não invasiva para auxiliar na respiração. Ainda assim, manteve a fé inabalável e, em mensagem gravada, agradeceu as orações pela sua recuperação.

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Pontificado

Francisco assumiu o papado após a renúncia de Bento XVI e herdou uma Igreja fragilizada por escândalos de abusos sexuais e perdas de fiéis. Desde o início, optou por um estilo simples e próximo das pessoas — rejeitou viver nos luxuosos aposentos papais e manteve hábitos como andar de carro popular e usar sapatos comuns.

Inspirado por São Francisco de Assis, adotou como lema de seu pontificado a frase “Miserando atque eligendo” (“Olhou-o com misericórdia e o escolheu”, em tradução livre). Essa escolha simbolizou não apenas sua espiritualidade, mas também sua visão sobre o papel da Igreja: uma instituição que acolhe, não que julga.

Com coragem, enfrentou temas delicados como o papel das mulheres na Igreja, o acolhimento de casais do mesmo sexo, a crise migratória e a necessidade de maior transparência nas finanças do Vaticano. Embora não tenha autorizado a ordenação de mulheres nem a de padres casados, ampliou a participação feminina em cargos de decisão e defendeu que homossexuais fossem tratados com respeito.

Além das reformas internas, Francisco teve papel de destaque em questões políticas e humanitárias globais. Não hesitou em condenar guerras, criticar líderes mundiais — como Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu — e denunciar o sofrimento de refugiados.

Durante a pandemia de Covid-19, protagonizou uma das imagens mais impactantes de seu papado: orou sozinho na vazia Praça de São Pedro, em meio à chuva, pedindo pelo fim da crise sanitária.

Internamente, promoveu mudanças importantes na Cúria Romana, o “governo” do Vaticano, buscando mais eficiência e moralização, especialmente na área econômica.

Uma figura além da fé

Apesar das críticas vindas de setores ultraconservadores da Igreja, Francisco manteve alto índice de aprovação entre fiéis e até entre não-cristãos. Era visto por muitos como uma figura de diálogo e compaixão em um mundo cada vez mais polarizado.

“Podemos falar de uma revolução, nos passos do Concílio Vaticano II”, afirmou em 2016 o especialista em Vaticano Marco Politi. Para ele, Francisco foi “um grande reformador” que tentou libertar a Igreja de seus tabus sexuais históricos e conectá-la ao mundo real.

Legado duradouro

Ao contrário de seu antecessor, Francisco não sinalizou claramente o desejo de renunciar, embora tenha, em ocasiões anteriores, dito que não descartava essa possibilidade. Afirmou certa vez que achava que seu pontificado seria breve — “quatro ou cinco anos” — mas permaneceu no comando da Igreja por mais de uma década.

Leia mais: Confira quem são os possíveis nomes para suceder Papa Francisco

Quem era Jorge Mario Bergoglio

Nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro latino-americano e o primeiro jesuíta a assumir o papado. Filho de imigrantes italianos, teve uma infância simples na capital argentina e chegou a trabalhar como técnico químico antes de seguir a vocação religiosa.

Ordenado sacerdote em 1969, destacou-se pela postura austera e pelo comprometimento com os mais pobres. Como arcebispo de Buenos Aires, tornou-se conhecido por andar de transporte público, dispensar luxos e priorizar a presença nas periferias. Foi nomeado cardeal em 2001 pelo então papa João Paulo II.

Em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, foi eleito o 266º papa da Igreja Católica, adotando o nome Francisco — uma homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e cuidado com os desfavorecidos.

Durante mais de uma década à frente do Vaticano, Francisco deixou uma marca de diálogo, reforma e inclusão, enfrentando temas sensíveis como a crise migratória, mudanças climáticas, abusos na Igreja e a necessidade de modernização. Mesmo enfrentando problemas de saúde nos últimos anos, manteve a rotina de compromissos e viagens até poucos meses antes de sua morte.

Até a publicação desta reportagem, o Vaticano ainda não havia divulgado detalhes sobre o funeral do papa Francisco. É esperado que, nos próximos dias, milhares de fiéis do mundo todo se reúnam em Roma para prestar suas últimas homenagens ao pontífice.

Veja abaixo o momento do anúncio da morte do pontífice: