“Trauma que não se apaga”: mãe de bebê raptada em Uberlândia fala sobre busca por justiça

Três meses após o rapto da filha recém-nascida no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), mãe revela o impacto das sequelas em sua vida

28/10/2024 ÀS 09H58
- Atualizado Há 2 horas atrás

No final de julho de 2024, o caso de uma bebê levada do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) por uma falsa pediatra chocou o país. A bebê raptada foi localizada em Goiás poucas horas depois, mas o trauma permanece vivo para Natália Rodrigues, mãe da bebê Isabella.

Em entrevista ao Fala Povo, Natália compartilhou a experiência e os desafios emocionais que ainda enfrenta, três meses após o caso da bebê raptada.

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Bebê raptada se encontra bem e crescendo saudável ao lado da família
Bebê raptada se encontra bem e crescendo saudável ao lado da família – Crédito: Tv Paranaíba/ Reprodução

Isabella, agora com três meses, está bem e saudável, relatou Natália. Porém, a mãe e o pai ainda seguem marcados pelo ocorrido.

“Às vezes, eu acordo à noite para ver se ela ainda está no berço. A sensação de que ela pode sumir de novo não sai da minha cabeça”, diz Natália. O pai concorda em também ter dificuldade para dormir.

Natália lembra, em detalhes, o desespero que sentiu ao receber a notícia do desaparecimento da filha. Ainda sob efeito da anestesia da cesárea, foi informada pela equipe médica de que sua filha havia sido levada por uma mulher que se passava por pediatra.

“Eu estava no quarto e perguntei pela minha filha. Quando a enfermeira respondeu ‘A assistente social não veio te dar notícias?’ Nesse momento meu mundo caiu. Porque a gente sabe que quando uma assistente social vai te dar uma notícia, não é coisa boa, não é? É algo que nunca esqueço. É muito triste você acabar de ter um parto, uma cesária, e você recebeu a notícia dessa, que você não tem mais bebê ali. Seu bebê sumiu”, desabafou.

Mãe conta sobre trauma emocional após o caso da bebê raptada no Hospital de Clínicas da UFU Crédito: Tv Paranaíba/ Reprodução

Ainda conforme a mãe, o desespero maior foi a notícia de que deveriam correr contra o tempo para recuperar a filha.

“A enfermeira ainda tinha falado para mim que bebês quando saem da barriga da mãe precisam de cuidados imediatos e só conseguiam ficar pelo menos só três horas vivo, sem os primeiros cuidados. Aí eu falei pronto, né? E você pensa, ser anestesiado e receber uma notícia dessa e que ela poderia ficar só três horas vivo? Ficamos loucos” conta. 

Desde então, Natália revela que não consegue sair de casa com as duas filhas sozinha, devido a crises de ansiedade. Ela também depende de familiares e amigos para acompanhar a rotina diária até que o marido, Édson Ferreira, retorne do trabalho.

Busca por justiça

Além do impacto psicológico, os pais questionam a segurança do hospital. “Foi uma luta para conseguirmos entrar na maternidade, mas ela (a médica) conseguiu entrar e sair com minha filha sem ser notada. Onde estava a segurança nesse momento?”, questiona Édson.

Segundo ele, o hospital precisa reavaliar suas normas de segurança para evitar que outros pais passem por uma experiência semelhante.

Natália agradeceu ao apoio que recebeu de outras mães que compartilharam a história, alertando para que permaneçam atentas após o nascimento dos filhos.

“Que os pais nunca deixem os bebês sozinhos, por qualquer motivo. Que fiquem sempre ao lado deles, pois esse é um sofrimento que ninguém merece passar”, concluiu.

Natália Rodrigues ao lado de sua filha Isabela – Crédito: TV Paranaíba/ Reprodução

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O que disse o hospital sobre a bebê raptada

À época, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia/ HC-UFU havia informado estar cooperando com as investigações e realizando uma apuração interna.

O HC-UFU informa que por volta da meia-noite uma mulher trajada como profissional de saúde, portando crachá da Universidade, entrou na maternidade e evadiu com um bebê recém-nascido do sexo feminino. Poucos instantes após o fato, a equipe do hospital acionou a Polícia Militar de Uberlândia e cedeu as imagens das câmeras de segurança requisitadas pela corporação. O HC já iniciou apuração interna de todas as circunstâncias do caso e está colaborando com as investigações. A instituição está à inteira disposição das autoridades e da família para a breve solução do caso“, informou na época.

Hoje em dia, a mãe, no entanto, espera que novas medidas sejam implementadas para que esse tipo de falha na segurança não se repita. Indignados, em exclusividade ao Fala Povo, Natália e Édson mostraram o primeiro retorno que tiveram da unidade hospitalar quando tentaram pedir o primeiro apoio da instituição sobre o paradeiro da filha.

Em retorno, eles afirmam que o HC-UFU “não se responsabiliza” e que a própria equipe do hospital teria se demonstrado apática.

Fachada do HC-UFU
HC-UFU garante que vai aprimorar processos de segurança da instituição – foto: TV Paranaíba/reprodução

Segundo o advogado da família, Leonardo Rocha, a família busca indenização pelos danos morais causados pelas angústias causada e o cancelamento do registro da mulher no Conselho Federal de Medicina, para não poder mais atuar.

“Isso tudo é para tentar reparar o sofrimento e angustia causada a família. Imagine a angústia de um pai que, no dia mais feliz de sua vida, vê seu filho desaparecer dentro do hospital por negligência e falta de segurança”, contou.

Ele também criticou a postura do hospital após o rapto, afirmando que tentaram se esquivar da responsabilidade. “Desde o primeiro momento, o hospital tentou se esquivar, e a equipe se mostrou apática. Não houve iniciativas concretas”, disse.

Segundo o HC, o hospital não foi notificado sobre a ação judicial, até o momento.

A médica

Cláudia Soares Alves, a médica acusada, foi presa em flagrante e enfrenta a acusação de sequestro qualificado, com uma pena que pode chegar a oito anos de prisão.

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Médica saiu da delegacia de Polícia Civil de Itumbiara com a cabeça coberta – Foto: TV Paranaíba/reprodução

As autoridades acreditam que o crime foi premeditado e seguem investigando os detalhes do caso. Desde então, Cláudia permanece detida, enquanto a defesa tenta recorrer para que ela responda em liberdade.

O advogado da família, comentou sobre as ações que estão sendo tomadas em busca de justiça.

“A primeira frente que nós estamos fazendo é acompanhando o processo criminal. Vai ter uma audiência agora no próximo mês e queremos que a justiça seja feita. Que ela seja condenada por todo o crime e toda a tragédia que provocou”, afirmou.

A TV Paranaíba tentou contato com a defesa da mulher, mas não foi atendida. A reportagem aguarda retorno.

Cláudia Soares Alves, médica acusada pelo caso de bebê raptada, permanece presa enquanto aguarda o julgamento – Crédito: Tv Paranaíba/ Reprodução

Confira a entrevista na íntegra sobre o caso da bebê raptada

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