Tragédia de Mariana: julgamento em Londres busca justiça após nove anos de sofrimento

Processo contra a BHP envolve 620 mil demandantes e pode culminar em indenizações de até 35 bilhões de libras

Com informações da Agence France-Presse (AFP)
, em Uberlândia
18/10/2024 ÀS 17H29
- Atualizado Há 3 horas atrás

Nove anos após o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco em Mariana, que resultou em uma das piores tragédias ambientais do Brasil, a esperança de justiça renasce com um mega-julgamento agendado para segunda-feira (21) em Londres. No dia 5 de novembro de 2015, uma enxurrada de lama soterrou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, levando à morte de 19 pessoas, incluindo a pequena Emanuele Vitória, de cinco anos. Seu corpo foi encontrado cinco dias depois, distante da devastação.

O desastre, causado pelo colapso da barragem de rejeitos de minério de ferro, liberou 40 milhões de metros cúbicos de lama tóxica, suficientes para encher 12.000 piscinas olímpicas, inundando comunidades ao longo do rio Doce. A enxurrada devastou Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, arrastando as casas de mais de 600 famílias em Mariana. Pamela Fernandes, mãe de Emanuele, expressa sua frustração com o sistema judicial brasileiro, afirmando que o processo em Londres representa sua única esperança de conseguir justiça.

Mariana
A tragédia de Mariana devastou mais de 600 famílias – Crédito: Douglas Magno/AFP

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O impacto da tragédia ainda é sentido profundamente nas comunidades afetadas. Mauro Marcos da Silva, que perdeu a casa da família, descreve a impossibilidade de retorno como uma ferida aberta. “O pertencimento, o vínculo com os amigos e a família, isso o dinheiro não paga e não vai ser reconstruído em lugar algum”, comenta ele, refletindo sobre a perda das raízes.

Mônica dos Santos, advogada e defensora das vítimas, também expressa ceticismo em relação aos acordos propostos no Brasil, afirmando que não houve diálogo com os afetados. Ela espera que a justiça inglesa atenda às demandas que a justiça brasileira não conseguiu.

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Além das perdas humanas, o desastre afetou o ecossistema do rio Doce, cuja contaminação por metais pesados atinge agora o litoral do Espírito Santo e do sul da Bahia, impactando a vida de pescadores e diversas espécies de fauna aquática.

O processo em Londres, que envolve 620 mil demandantes, entre eles comunidades indígenas e municípios, reivindica 35 bilhões de libras (cerca de R$ 260 bilhões) da BHP. A empresa afirma que mais de 200 mil pessoas já receberam indenizações, e a fundação Renova, responsável por gerenciar os programas de compensação, relatou pagamentos de mais de 7,8 bilhões de dólares (cerca de R$ 44 bilhões).

Quase uma década após a tragédia, os afetados se encontram em um reassentamento chamado Novo Bento Rodrigues em Mariana, onde casas permanecem parcialmente inacabadas, refletindo a continuidade do sofrimento e a busca por um futuro mais justo.

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