O problema relatado pelos moradores tem cor e cheiro fortes. O curso d’água do Rio Bagagem que passa na altura de Iraí de Minas, cidade do Alto Paranaíba, começa a ficar turvo quando se aproxima de canos que jorram um líquido escuro.
A denúncia dos moradores é que a tubulação está descartando esgoto doméstico sem tratamento das residências que estão às margens do Rio Bagagem. As casas estão tão perto que o bairro leva o mesmo nome do afluente.
O Reginaldo dos Reis foi morador do bairro Bagagem por anos, mas recentemente se mudou devido ao mau cheiro que vinha do rio. O lavrador disse que já denunciou o crime ambiental várias vezes, porém a solução nunca chegou. “Eu queria que uma pessoa morasse lá no lugar que eu morava e sentisse o mau cheiro, para eles correrem atrás. Mas eles não percebem o mau cheiro, aí não correm atrás das coisas”, reclamou.
Esgoto irregular
Ao longo do Rio Bagagem existem canos e manilhas espalhados às margens do afluente. Onde o líquido sujo escorre, a água fica com coloração marrom, sendo possível ver até mesmo dejetos espalhados. A diferença é nítida quando a água de uma nascente se encontra com a água com resquícios do líquido.
A cena de poluição e descaso ambiental se repete até mesmo no trecho do rio que passa atrás da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da cidade. Iraí de Minas possui um plano municipal de saneamento. Apesar da estrutura grande da ETE, quando a equipe de reportagem da TV Paranaíba esteve no local, ela parecia não estar em funcionamento.
O site Água e Saneamento, que avalia os serviços municipais prestados à população, aponta que Iraí de Minas oferece atendimento pleno, ou seja, não há habitantes sem o tratamento de esgoto no município.
Rio Bagagem
O Rio Bagagem tem nascente na Chapada da Bacia Sedimentar do Paraná percorrendo Minas Gerais pelos municípios de Patrocínio, Iraí de Minas, Monte Carmelo, Nova Ponte e Romaria. Ele é o manancial que abastece a cidade de Iraí de Minas, que tem mais de seis mil habitantes.
O Agnaldo Portilho, trabalhador rural e morador do bairro Bagagem, lamenta que morar perto de um rio não seja tão prazeroso quanto deveria ser, mas teme, principalmente, pelos riscos que a poluição pode trazer à saúde dos habitantes. “A gente tem um lazer aqui e não pode usar. Trazer o filho pra nadar, brincar, pescar uma piabinha. Aqui nem piaba existe mais. Imagina a cidade mais pra baixo que recebe essa água?”.
Ministério Público está ciente
O Ministério Público Estadual investiga a situação desde 2008, quando moveu um processo contra a Prefeitura de Iraí de Minas por danos ambientais, que ainda está em andamento na Justiça.
Em 2021, o atual prefeito Cleiton Gomes da Cruz (PROS), conhecido como Cleitinho, pediu ao juiz um prazo de seis meses para apresentar o projeto de recuperação e licenciamento ambiental, além de colocar em pleno funcionamento a ETE.
Em 2023, como a prefeitura não conseguiu provar que a Estação estava funcionando ou havia feito a reparação dos danos causados pelo descarte clandestino de dejetos, a Promotoria pediu a aplicação de multa diária pelo descumprimento do que foi combinado.
O que dizem os envolvidos
A prefeitura de Iraí de Minas, através do advogado do município, Derli Ramos, reconhece que o problema de poluição do Rio Bagagem existe há muito tempo.
O advogado justifica que as casas que ficam ao redor do rio são irregulares e, por isso, não tiveram o planejamento de saneamento adequado. “O bairro foi construído em uma área baixa, na altura do nível da água, então, existe um problema de entupimento. Essa administração já está com projeto para poder executar até o final desse ano. Vamos trocar a tubulação, se for preciso fazer elevatória o projeto já tem para resolver esse problema do esgoto”, explicou.
Derli ainda revelou que a prefeitura está em tratativas com a Universidade Federal de Uberlândia para que seja feito um projeto para o reflorestamento e regulariazação da área que sofreu as consequências do crime ambiental.
Por fim, o município também está com o projeto de regularização fundiária em andamento para evitar a expansão urbana para locais próximos às regiões brejosas, onde há presença de água rasa e parada, além de vegetação.
Já em relação ao funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto, em nota, a empresa terceirizada da prefeitura informou que a estação apresentou problemas pontuais no bombeamento, mas que a situação já foi resolvida. A empresa também esclareceu que a eficiência do tratamento do esgoto na cidade está entre 70% e 85%, atendendo ao que prevê o projeto que foi implantado na cidade.