A infraestrutura verde vem ganhando cada vez mais destaque nos debates ambientais e de desenvolvimento de cidades sustentáveis. Após as enchentes no Rio Grande do Sul, esse conceito reforçou uma reflexão urgente: promover ações efetivas de combate à crise climática.
Não se trata apenas de mais um conceito técnico. A abordagem propõe a integração prática da natureza na construção civil e no planejamento urbano, para melhorar a qualidade de vida das populações e evitar que tragédias ambientais ocorram.
Ou, pelo menos, que os impactos dessas tragédias sejam minimizados, como as inundações. Por exemplo: Na abordagem da infraestrutura verde, a drenagem natural surge como uma opção de absorção da água da chuva, diminuindo o escoamento superficial e o risco de alagamentos em áreas mais críticas.
O que é a infraestrutura verde?
Infraestrutura verde é um conceito urbanístico e ambiental que prevê a integração dos sistemas naturais com a infraestrutura construída pelo ser humano. O objetivo é promover sustentabilidade, resiliência e melhor qualidade de vida nas cidades.
Na prática, ela funciona com a criação e integração de espaços verdes como parques e reservas naturais, além de vias navegáveis e zonas úmidas, no espaço urbano. Vias mais arborizadas, telhados verdes e jardins verticais em empreendimentos também são alguns exemplos.
O biólogo e ativista ambiental, Gustavo Malacco, explicou que a infraestrutura verde é compreender as cidades como ecossistemas, aproveitando os ambientes naturais dentro do contexto de cidade. Isto é: integrando construção civil e planejamento urbano ao meio ambiente já existente.
Infraestrutura verde x mudanças climáticas
O ambientalista defendeu que a infraestrutura verde é fundamental para que as cidades tenham resiliência quanto à crise climática e os sinais evidentes de que ela está acontecendo.
“Infelizmente nós praticamente já chegamos naquela estimativa de aquecimento de 1,5 Cº, que era para ser evitado conforme o Acordo de Paris sobre o Clima nesta década. Há um desequilíbrio ambiental que dá para observar, seja no caso do Rio Grande do Sul, nas regiões serranas do Rio ou até na seca da Amazônia, por exemplo”, lembrou Malacco.
Entre os principais benefícios do investimento em infraestrutura verde se destacam:
- Aumento da biodiversidade: quanto mais áreas verdes em um ambiente urbano, maior a biodiversidade naquele local. A preservação do habitat natural dos animais e plantas promove maior equilíbrio ambiental.
- Combate às mudanças climáticas: por meio da absorção de carbono, a flora contribui para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, combatendo o aquecimento global.
- Ar fresco: a arborização funciona como um purificador de ar natural, absorvendo os poluentes e liberando mais oxigênio para a atmosfera. Com isso, o ar fica mais puro, saudável e o clima das cidades mais fresco.
- Redução do risco de inundações: a drenagem natural utilizando a permeabilidade do solo de áreas verdes absorve melhor a água pluvial, reduzindo o risco de alagamentos e os estragos causados por eventos climáticos extremos.
- Promoção de saúde: o contato com a natureza mesmo dentro da zona urbana é benéfico para a saúde física e mental, promovendo o bem-estar das populações.
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Desafios das cidades verdes
Que a infraestrutura verde no contexto das mudanças climáticas é fundamental a gente já sabe, mas quais seriam os motivos que a fazem parecer tão inviável para as cidades?
Gustavo Malacco defende que o maior problema para investir em infraestrutura verde é a falta de vontade política. “Falta um plano municipal de arborização, plano de ação climática, enfrentar a crise no sentido de planejamento e investir em políticas de incentivo como, por exemplo, conceder isenção fiscal para empresários que investem em políticas sustentáveis”, comentou o biólogo.
Para ele, é preciso revitalizar os espaços verdes existentes como parques e áreas que margeiam rios e córregos, dentro das áreas urbanas, além de incentivar a construção de condomínios e prédios com mais arborização.
A construção de parques alagáveis e estruturas que assegurem a drenagem natural do solo também é uma opção apontada pelo especialista, principalmente, para as cidades que enfrentam todo ano problemas com alagamentos.
Outra sugestão é promover o cultivo de agricultura, sem agrotóxicos, nessas áreas, garantindo segurança alimentar e gerando economia de forma sustentável.
“Os gestores públicos precisam adotar uma agenda ambiental transversal. Porque isso impacta na saúde, na educação, no desenvolvimento econômico e na agricultura. Com uma arborização eficiente, a cidade e os cidadãos têm muito a ganhar”, concluiu.
Infraestrutura verde em Minas Gerais
A capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, foi reconhecida recentemente como referência em sustentabilidade urbana pela Rede Internacional das Maiores Cidades do Mundo – Metropolis.
A organização destacou que atualmente 20% do território de BH é composto por áreas verdes protegidas. A cidade conta com mais de 70 parques municipais, mais de 1 mil nascentes e mais de 500 mil árvores em áreas públicas da cidade.
De acordo com o Município, o plano de infraestrutura verde da capital busca ainda preservar e recuperar o ecossistema local, protegendo cerca de 60 quilômetros quadrados de áreas verdes.
Além disso, o planejamento ainda prevê a criação de 900 quilômetros de “ligações verdes”, conectando as áreas naturais e a biodiversidade urbana.
Uberlândia também lançou neste mês o Plano Municipal de Arborização Urbana para poder ampliar a infraestrutura verde com a extensão do plantio de árvores na cidade. O plano ainda busca estratégias para preservar a flora nativa nas vias urbanas.
