A família de Vander Batista Peres, de 64 anos, romeiro que morreu atropelado na BR-365, vive a dor da perda e a indignação de saber que a pessoa que causou o atropelamento ainda não foi punida.
O romeiro saiu de casa sozinho, no distrito de São João da Serra Negra, na última sexta-feira (9), com destino à Romaria.
Segundo Andreia Peres Ferreira, sobrinha de Vander, o tio faz a peregrinação há anos e, apesar das recomendações contrárias, ele não abriu mão de andar quase 100 km este ano. “Eu tive uma conversa com ele no domingo anterior, falei: ‘Tio Vander, o senhor já está velho, porque não larga de ir? Vamos de carro!’. E ele me respondeu ‘enquanto eu tiver andando, eu vou. Eu posso até não chegar, mas eu vou tentar ir'”, contou.
A última conversa que teve com o tio, porém, aconteceu minutos antes da morte de Vander, no sábado (10). “Era 18h30 e falou que estava super bem, falou ‘minha perna não está doendo, meu pé não está doendo, já estou chegando na segunda barraca para dormir e continuar amanhã de manhã'”, detalhou Andreia.
Antes de desligar a ligação, Vander chegou a comentar que a rodovia “estava uma loucura” à sobrinha, se referindo ao movimento intenso de veículos.
Atropelamento do romeiro
A família foi informada da morte do romeiro vinte minutos depois da ligação. Segundo Andreia, uma testemunha contou que Vander estava do lado direito da rodovia, sentido Patrocínio a Romaria, no acostamento, quando foi atingido. A versão contradiz o que está no registro da Polícia Rodoviária Federal. “Saiu que ele estava atravessando a pista, mas não teve nada disso. Ele tomou um café do lado direito, ele já tinha atravessado há um tempo atrás. O pessoal que estava dando apoio a outros romeiros deu café para ele e ele seguiu. Ele foi pego no acostamento”.
Uma das pessoas que ofereceu café ao Vander contou à família que o carro que atropelou o romeiro era cinza e estaria em alta velocidade. O motorista, ainda segundo a testemunha, não parou para prestar socorro. “Ele passou direto e não teve frenagem. A perícia esteve no local e disse que não teve frenagem nenhuma, ele não tentou frear”, contou Andreia.
O acidente aconteceu bem próximo a uma barraca, que são pontos instalados ao longo da rodovia para dar apoio aos romeiros, como água, comida e até local para dormir. Com o impacto, o corpo de Vander foi lançado às margens da BR-365. Os pertences pessoais da vítima ficaram destruídos. Quando o socorro chegou, o homem já estava sem vida.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a perícia da Polícia Civil (PC) estiveram no local para o atendimento da ocorrência.
Família desolada
Vander Batista não era casado e morava com a mãe, uma idosa de 90 anos, e uma irmã. Era saudável, não fazia uso de remédios e adorava brincar com os sobrinhos. “A mãe dele está muito triste, muito abalada. Todo mundo que chega aqui ela fala que ele estava muito feliz, e de fato ele estava. Quando eu falei com ele eu percebi que ele estava tranquilo, sem voz de cansaço, afinal de contas, tinha 26 horas que ele tinha saído de casa”, relembra a sobrinha com a voz embargada.
Se a peregrinação à Romaria tivesse saído como planejado, Vander chegaria domingo até o destino final e voltaria no mesmo dia a São João da Serra Negra. “A gente pede por justiça e que alguma coisa seja feita por esses romeiros que vão todo ano também”.
