“Exigia a coleta de sangue menstrual”, diz vítima de líder espiritual suspeito de estupro em Patos de Minas

Mulher revela detalhes sobre abusos durante cultos e fala do medo constante; segundo a polícia, homem teria criado um religião própria

30/08/2024 ÀS 15H35
- Atualizado Há 3 semanas atrás

Uma das vítimas do líder espiritual, de 33 anos, preso em Patos de Minas, relatou os abusos sofridos durante os rituais conduzidos pelo acusado. Sem se identificar, a mulher contou com exclusividade à reportagem da TV Paranaíba que, ao entrar no grupo, tudo parecia uma experiência espiritual positiva, mas rapidamente se viu envolvida em práticas que incluíam a ingestão de sangue menstrual e ameaças constantes após decidir deixar o grupo.

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“Quando entrei, tudo era mascarado como algo maravilhoso, um despertar, uma cura espiritual de fato”, afirmou a vítima.

Segundo ela, os rituais inicialmente pareciam promissores, mas logo evoluíram para um cenário de desconforto e repressão:

“Durante os rituais, as mulheres ficavam nuas ou seminuas e chegavam a beber sangue menstrual misturado com vinho. Ele dizia que era um ritual de purificação e cura”, revelou.

Vítima do líder espiritual
A vítima relatou que as mulheres chegavam a beber sangue menstrual misturado com vinho – Crédito: Rafael Ribeiro/TV Paranaíba

Os crimes, investigados pela Polícia Civil desde março desse ano, ocorreram em encontros privados e incluíam um juramento feito com uma agulha única, usada repetidamente nas vítimas.

O Ministério Público Estadual (MPE) denunciou o líder espiritual nove crimes de estupro mediante fraude, além de ameaça.

A vítima contou ainda que a ansiedade se tornou insuportável e ela não conseguia mais levar os dias de maneira normal. “Estava exausta, apreensiva e muito desconfortável”, relatou a mulher, destacando um dos episódios mais perturbadores: “Em um momento, ele alegou que as meninas deveriam tirar o sutiã. Foi aí que fiquei ainda mais inconformada.”

Conversa no WhatsApp
Conversas no WhatsApp mostram a exigência do líder espiritual – Crédito: Arquivo pessoal

Após decidir se afastar, a mulher passou a receber ameaças. “Fui ameaçada juntamente com as pessoas que saíram comigo. Fomos perseguidos através de redes sociais”, afirmou.

Ela revelou uma mistura de alívio por ver a justiça sendo feita e tristeza pelas marcas deixadas.

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O que diz a Polícia Civil

Segundo a delegada Tatiana Carvalho Paiva, os crimes eram cometidos em cultos privados com um número reduzido de pessoas, todas elas mulheres. “Ele praticava atos libidinosos contra as vítimas. Passava óleo e mel no corpo delas. Com o tempo, essas vítimas eram coagidas espiritualmente a praticar relações sexuais naquele ambiente restrito”, explicou.

Delegada
Delegada Tatiana Carvalho explicou que, dentre os métodos do líder espiritual, estava o de consumir sangue menstrual – Crédito: Rafael Ribeiro/TV Paranaíba

Os métodos utilizados pelo suposto pai de santo, como ele próprio se intitulava, incluíam juramentos com uso de uma agulha única, além de coagir as vítimas a consumir sangue menstrual.

A alegação, segundo Tatiana, era de que essas mulheres alcançariam elevação espiritual e seriam purificadas se bebessem o sangue misturado a vinho.

As vítimas foram orientadas pela Polícia Civil a procurarem auxílio médico e realizar exames devido ao risco de contaminação pelo uso compartilhado de agulhas e pela ingestão de sangue menstrual, que também pode ser nocivo à saúde.

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Religião própria

Embora os crimes fossem cometidos em um terreiro de religião de matriz africana, a Polícia Civil apurou que os métodos utilizados pelo líder espiritual, como forçar as vítimas a consumir sangue, não eram típicos da religião à qual ele alegava pertencer.

“A gente percebeu, com estudo e investigação junto a pessoas especializadas no tema, que esses atos praticados não faziam parte das religiões de matriz africana. Na verdade, ele criou uma religião própria onde havia desrespeito e abuso sexual das vítimas”, disse a delegada.

Familiares dele também foram indiciados pelo crime de ameaça, por coagir as vítimas após sua saída do terreiro.

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