Vinte e quatro anos e nove meses de prisão. Essa é a soma das penas em condenações que Pâmela Volp tem até o momento ao ser investigada na Operação Libertas. Nesta semana, a ex-vereadora de Uberlândia começou a ser julgada pelos crimes de organização criminosa e rufianismo, que consiste em se beneficiar financeiramente da atividade de prostituição de outra pessoa.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) acusa a ré de ser a chefe de um esquema interestadual de exploração sexual de mulheres trans. Volp também foi acusada de torturar, ameaçar e extorquir a quem chamava de “filhas” e moravam nos alojamentos administrados por ela.
O Ministério Público do Trabalho chegou a fazer uma operação conjunta de resgate das travestis que residiam nos alojamentos em Uberlândia, após denúncia de trabalho análogo à escravidão. A organização criminosa chegou a ser denunciada na esfera trabalhista.
Pâmela Volp e a Operação Libertas
Durante as sete fases da Operação Libertas, o Ministério Público constatou que Pâmela Volp teria sido mandante de diversos crimes como extorsão, lavagem de dinheiro e até tentativa de homicídio.
Para denunciar Pâmela Volp, o Gaeco ouviu quase uma centena de testemunhas e levantou inúmeras provas. Mesmo presa, a denunciada não parou de exercer poder. As investigações revelaram também a atuação em um esquema de extorsão e violência dentro da unidade prisional. A TV Paranaíba chegou a exibir uma reportagem exclusiva sobre o assunto com detalhes dos processos. Assista:
O que dizem as denúncias
- As vítimas relatam que tinham que pagar diárias pelos pontos de prostituição e eram ameaçadas, torturadas e coagidas por Volp.
- Uma das vítimas relatou que Pâmela as coagia para formar uma espécie de gangue e agredir outras mulheres, que ocupavam esses pontos de prostituição sem pagar as diárias.
- Câmeras de segurança eram instaladas nos alojamentos para monitorar as vítimas. Também havia um caderno de anotações com os pagamentos e despesas de cada uma.
- Havia ainda, segundo o MP, um esquema ilegal, superfaturado e clandestino para colocação de próteses. As vítimas pagavam uma poupança para colocação de próteses de silicone em clínicas clandestinas.
- Prints de conversas mostram um dos médicos negociando “pacote de próteses” com Pâmela. Ele chega a chamá-la de sócia. Os médicos investigados fizeram acordo de colaboração e não foram denunciados.
- Para dissimular o dinheiro vindo da cafetinagem e crimes de extorsão, a denúncia aponta que Pâmela Volp adquiria carros de luxo, imóveis e joias. Chegou a construir um mausoléu de luxo para a família no cemitério de Tupaciguara.
- Por fim, ela também é acusada de liderar um esquema de extorsão no sistema prisional e teria mandado espancar um detento na penitenciária após a vítima ter supostamente furtado cigarros que pertenciam à Volp.
Da tribuna ao banco dos réus
A então vereadora se elegeu em 2016 com 1.841 votos. Ganhou grande destaque por ser a primeira parlamentar de Minas Gerais a usar o nome social no diploma de eleita. Sempre se posicionou em defesa dos direitos LGBTQIA+ e participava de debates e ações em defesa do seu público.
Em 2020, chegou a ser presa em outra operação do Gaeco: a Má Impressão. Foi acusada de utilizar notas frias para desviar recursos de publicidade do gabinete de vereadora, ao lado de outros 19 vereadores. Teve o mandato cassado.
Dois anos depois, voltou às páginas criminais sendo a principal alvo da Operação Libertas. A ré já foi condenada em pelo menos quatro processos criminais no âmbito da Operação Libertas. As penas somam mais de duas décadas de prisão. Desde a primeira fase da força-tarefa, em 2021, ela segue presa.
Na última terça-feira (29), a 1ª Vara Criminal da Comarca de Uberlândia realizou a primeira audiência de instrução e julgamento da principal denúncia da operação. Sete réus foram denunciados sob a suspeita de integrar organização criminosa chefiada por Volp.
Só por parte da acusação, são ouvidas 22 testemunhas. Novas audiências serão marcadas e não há prazo para o juiz publicar a sentença. A acusada ainda aguarda julgamentos de um processo de tortura e do caso de tentativa de homicídio contra um detento da ala LGBTQIA+ na Penitenciária Pimenta da Veiga.