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DNIT é condenado a indenizar idosa que ficou 30h ao lado do marido morto após acidente na BR-365

A defesa da idosa alegou que o carro no qual o casal estava caiu de uma ribanceira após desviar de um buraco na via; DNIT recorreu da decisão

, em Uberlândia

28/06/2024 ÀS 20H12

- Atualizado Há 4 dias atrás

Dois anos após o trágico acidente que tirou a vida de Milton da Silva Amorim, a dona Valdina Luiza de Almeida, de 76  anos, foi notificada que a indenização por danos morais e materiais foi concedida pela Justiça. A idosa processou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em 2023, alegando que o acidente fatal aconteceu devido a um buraco na BR-365, em João Pinheiro, trecho de responsabilidade da autarquia.

O DNIT foi condenado a pagar a quantia de R$ 120 mil à família de Milton. A decisão, porém, permite recurso, benefício que foi usado pela autarquia.

Milton e o carro dele após o acidente na BR-365
Milton da Silva morreu no acidente, em 2022, após tentar desviar de buraco na rodovia – Foto: reprodução TV Paranaíba

O acidente traumático

O dia 21 de março de 2022 marcou a vida de Valdina de forma irreversível, mas ela pouco se lembra dos detalhes do momento do acidente. Quando recobrou a consciência, a idosa se viu dentro do carro já caído em uma ribanceira. “Acordei e falei ‘Milton, vamos embora pra casa’. Coloquei a mão e ele estava geladinho. Não imaginava que ele estava morto, eu imaginava que ele estava dormindo”.

Milton e Valdina saíram da casa do filho, em Varjão de Minas, e voltavam para Comunidade das Almas, região de João Pinheiro, onde moravam. Na altura do quilômetro 316, após uma curva na pista, o carro passou por um grande buraco. O veículo, descontrolado, capotou e caiu da ribanceira.

O acidente aconteceu por volta das 7h do dia 21, mas o carro e o casal só foram encontrados no dia seguinte, 22 de março, próximo das 13h. Por 30 horas, Valdina ficou ao lado do corpo do marido, que morreu devido a um traumatismo craniano. A idosa quebrou um braço e pela profundidade do barranco e distância da margem da rodovia, Valdivina não conseguiu pedir ajuda.

Valdina e Ailton, esposa e filho de Milton, que lamentam a morte do idoso
Valdina e Ailton, esposa e filho de Milton, que decidiram processar o DNIT devido à condição da rodovia que teria causado o acidente – Foto: reprodução TV Paranaíba
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Filhos desesperados

Os filhos do casal perceberam que algo tinha acontecido quando não conseguiram contato com os idosos. Sem notícias por muito tempo, foi feito o registro de um boletim de ocorrência, além do anúncio do desaparecimento nas redes sociais e na imprensa.

O casal foi encontrado graças a um estudante que estava dentro de um ônibus que passava pelo trecho. Ele notou o carro dos idosos caído na ribanceira e acionou a Polícia Militar.

Ailton Aparecido, um dos filhos dos idosos, ainda muito abalado ao ver a mãe ferida e o pai morto, notou o grande buraco na rodovia que teria sido a causa do acidente. “Na hora que eles estavam tirando o corpo do meu pai o DNIT chegou lá para tampar o buraco. Agora, perto de onde meu pai sofreu o acidente tem mais duas cruz, não tinha, então com certeza teve mais acidente lá”.

Carro do DNIT estacionado às margens da BR-365
O flagrante do caminhão do DNIT no local do acidente foi feito pelo filho de Milton, que alega que a autarquia foi ao local para tampar o buraco na rodovia – Foto: arquivo pessoal da família

A busca por justiça

Horas antes do acidente, Milton passou por uma bateria de exames que comprovou a boa saúde do idoso. “O médico falou que ele estava bom. Falou: ‘Você vai viver muito, Milton’. Ele veio tão feliz, coitado”, lamentou a viúva.

Valdina disse que precisou de acompanhamento psicológico e psiquiátrico para conseguir encarar o trauma que foi perder o marido de uma forma tão trágica. Segundo Yuri Furtado, advogado da família, esse foi um dos argumentos usados no processo contra o DNIT. “Argumentamos o fato da dor, do trauma que a dona Valdina ficou de permanecer mais de 30 horas dentro do veículo, com mais de 10 metros de distância da rodovia, em uma ribanceira. Sem água, sem alimento. Diante de uma falha, da negligência por parte da União”, explicou.

Desde o protocolamento da ação judicial, foram muitos debates. Na defesa, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes alegou que não tinha responsabilidade no acidente. O recurso solicitado pelo DNIT diante da condenação ainda não foi analisado.

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