Nesta quinta-feira (6), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) apresentou o relatório preliminar sobre o acidente de avião envolvendo o voo 2283 da Voepass, que aconteceu em 9 de agosto de 2024, em Vinhedo (SP).
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A aeronave, um ATR 72-500, caiu em um condomínio de chácaras, e matou 58 passageiros e 4 tripulantes. Este foi o maior acidente aéreo no Brasil desde 2007, quando uma tragédia no Aeroporto de Congonhas matou 199 pessoas.
O relatório foi apresentado pelo Tenente-Coronel Paulo Mendes Fróes, investigador-encarregado do CENIPA.
Fróes detalhou informações gerais sobre a aeronave, a tripulação, o plano de voo e as condições meteorológicas no momento do acidente. Ele destacou que os dados apresentados são factuais e não explicam o motivo ou a causa do acidente.
Dados sobre o avião e a tripulação
O ATR 72-500 envolvido no acidente foi fabricado em 2010 para voos regionais e foi incorporado à frota da Voepass em 29 de setembro de 2022.
Com capacidade para 68 passageiros e peso máximo de 22.800 kg, a aeronave tinha certificação para voos em condições de gelo e estava com a manutenção em dia.
Sua última revisão ocorreu em 24 de junho de 2023, e o último check-in foi realizado no próprio dia do acidente, antes da primeira decolagem.
A tripulação contava com dois pilotos, ambos com mais de 5.000 horas de voo e habilitação específica para o ATR 72, além de treinamento para voo em condições de gelo.
As duas comissárias a bordo também eram habilitadas para a aeronave e possuíam os Certificados Médicos Aeronáuticos (CMA) válidos.
Condições meteorológicas durante o voo
De acordo com o relatório, as informações meteorológicas estavam disponíveis para os pilotos, incluindo uma previsão de gelo severo entre os níveis de voo de 12.000 pés e 17.000 pés, ao longo da rota.
O Tenente-Coronel Fróes informou que a aeronave estava certificada para voar em condições de gelo, e que, antes da queda, houve falhas pontuais no sistema de anti-gelo, mas estas não impossibilitavam o voo.
O que teria acontecido durante o voo
O voo 2283 decolou de Cascavel (PR) às 11h58 com destino a Guarulhos (SP). Às 13h05, a tripulação fez a primeira chamada para o Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP), sendo orientada a manter o nível de voo em 17.000 pés devido à presença de outra aeronave em rota convergente.
Às 13h18, o ATR reportou que estava no ponto ideal de descida, mas ainda não recebeu autorização para iniciar a manobra.
Às 13h21, a aeronave perdeu controle em voo, ingressando em uma atitude anormal que resultou em um “stall” seguido de um parafuso plano, levando à colisão com o solo em Vinhedo. Durante o acidente, não houve nenhuma declaração de emergência por parte da tripulação.
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Os investigadores do CENIPA foram notificados sobre o acidente às 13h37 e iniciaram as ações de resposta imediatamente. A sala de crise foi acionada às 14h11, e, às 18h do mesmo dia, as caixas-pretas foram localizadas no local do acidente.
Condições da aeronave no momento do impacto
Os destroços da aeronave foram encontrados concentrados, cerca de 38 milhas náuticas do destino (Guarulhos) e 7 milhas náuticas do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).
A aeronave estava em voo de cruzeiro a 17.000 pés quando ocorreu a perda de controle. O impacto foi praticamente vertical, resultando em grandes danos estruturais e um incêndio pós-impacto que consumiu partes da fuselagem e as asas.
O Tenente-Coronel Fróes destacou que, embora o “pack” do motor esquerdo estivesse inoperante, isso não impedia o voo. Além disso, a aeronave possuía sistemas de anti-gelo em diversos pontos, mas o fenômeno conhecido como “Supercooled Large Droplet Ice” pode ter comprometido a sustentação da aeronave.
Durante o voo, os tripulantes tentaram monitorar as condições de gelo, mas o alarme do sistema de gelo permaneceu ativo até o momento da perda de controle.
O impacto ocorreu em uma área residencial de um condomínio em Vinhedo. A cauda da aeronave foi projetada à frente em razão do desnível no terreno, e os motores permaneceram presos às asas, embora atingidos pelo fogo pós-impacto.
Próximos passos da investigação
Não foram encontradas evidências de separação estrutural em voo, mas o grau de destruição dificultou a inspeção de alguns sistemas.
O Brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do CENIPA, enfatizou que o relatório preliminar não tem o objetivo de apontar culpados, mas sim apresentar um balanço dos primeiros 30 dias de investigação.
Ele diferenciou o papel das investigações criminais conduzidas pela Polícia Federal, destacando que o foco do centro é a prevenção de futuros acidentes.
As investigações continuarão para determinar as causas do acidente, com a colaboração de órgãos internacionais, como o Bureau d’Enquêtes et d’Analyses (BEA) da França e o Transportation Safety Board (TSB) do Canadá.