Nova espécie de planta é descoberta em Minas Gerais e já corre risco de extinção

Uma nova espécie de planta que foi descoberta em Minas Gerais nos últimos anos corre risco de extinção por conta da mineração. Nomeada de Microlicia cangae, a planta foi encontrada próximo às cidades de Mariana e Santa Bárbara em 2018, e estudada por uma aluna da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) nos anos seguintes. Em julho de 2025, um artigo foi publicado na revista britânica Kew Bulletin por pesquisadoras da UFU e a nova espécie foi classificada como “Criticamente em Perigo de Extinção”.

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A espécie foi inicialmente levada para o Herbário da Universidade Federal de Minas Gerais, então encaminhada para o Herbário da UFU, sob responsabilidade da especialista e professora do Instituto de Biologia, Rosana Romero. Junto a pesquisadora Ana Flávia Alves Versiane, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, as estudiosas determinaram que a Microlicia cangae era de fato uma nova espécie.

A responsabilidade de estudar e escrever a descrição da planta ficou com a então graduanda de Biologia da UFU, Ana Júnia Fernandes, hoje mestranda em Biologia Vegetal. A estudante iniciou a pesquisa em 2023 e finalizou em outubro de 2024. Durante os estudos, as três pesquisadoras atestaram o risco de extinção da planta. Segundo a mestranda, consta na etiqueta do Herbário da UFMG que a nova espécie ocorre na localidade denominada Complexo Germano, onde há intensa atividade mineradora, principalmente da empresa Samarco, que é das mineradoras Vale S.A. e a BHP Billiton.

Natural de uma região conhecida como Quadrilátero Ferrífero, nos limites do Parque Nacional do Gandarela, o nome planta é referente a seu gênero, Microlicia, e cangae, que remete ao tipo de solo no qual ela nasce, nos campos rupestres ferruginosos, também conhecidos como “canga”. As flores da Microlicia cangae possuem cinco pétalas e podem ser róseas ou brancas.

“Esses locais apresentam diversas composições minerais, incluindo argila, quartzito e ferro que se formaram há milhões de anos. Essa vegetação cobre a maior parte das áreas acima de 900 m e forma vastos planaltos no Quadrilátero Ferrífero”, comentou a mestranda Ana Júnia Fernandes em entrevista ao Paranaíba Mais.

Risco de extinção da nova espécie

Seguindo os critérios da Lista Vermelha de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a planta foi classificada pelas pesquisadoras como Criticamente em Perigo. A classificação se deve ao fato da proximidade com áreas de atividade da mineradora. Além disso, são conhecidas apenas duas coletas da Microlicia cangae, que são que foram coletadas para a pesquisa. “É possível que existam outras populações desta mesma planta, porém são necessárias expedições para a região. Isso demanda recursos humanos e financeiros”, explicou Ana Júnia Fernandes.

“Isso gera uma revolta muito grande porque provavelmente ela é endêmica daquela região e com essa supressão da área pra mineração ela pode correr risco de extinção. […] Com o avanço da devastação do meio ambiente, muitas espécies são extintas antes mesmo de serem conhecidas pela ciência”, disse a estudante.

O que disse a Samarco?

Em nota, a empresa responsável pela mineração próxima à região de crescimento da planta se posicionou sobre o caso, após contato da TV Paranaíba. Veja na íntegra:

“A Samarco esclarece que não teve acesso aos estudos mencionados pela reportagem. Contudo, a empresa mantém um processo rigoroso de identificação e monitoramento da fauna e da flora em suas áreas de operação, garantindo a salvaguarda dos ecossistemas locais. Além disso, conduz programas contínuos de recuperação de habitats naturais, com o plantio de espécies nativas e a restauração de áreas degradadas, sempre dentro do mesmo bioma, alcançando resultados práticos que equivalem a aproximadamente três vezes a área minerada.”