Hospedagem cara ameaça COP30 em Belém e provoca pressão internacional

Setor hoteleiro do Pará cobra até 10 vezes mais por diárias e revolta delegações; países pedem que a conferência seja transferida para outra cidade

, em Uberlândia

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A taxa de hospedagem em Belém (PA) vira impasse diplomático a menos de 100 dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Países em desenvolvimento e até nações ricas estão ameaçando boicotar ou reduzir delegações na conferência climática marcada para novembro, por causa dos preços abusivos cobrados por hotéis da capital paraense.

A crise se agravou a ponto de representantes internacionais pedirem, em reunião emergencial com a Organização das Nações Unidas (ONU), a retirada da sede da COP do Brasil, caso a situação não seja resolvida. O governo corre contra o tempo para conter a pressão, com medidas improvisadas como uso de navios, escolas e até conjuntos habitacionais inacabados.

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COP30 em Belém
COP30 em Belém, que será realizada em novembro, é ameaçada pelos altos valores de hospedagem – Crédito: Freepik/DIvulgação

A polêmica veio à tona após o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, confirmar que houve um pedido formal para tirar a conferência de Belém. Segundo ele, a alta no preço das diárias chegou a níveis considerados “completamente abusivos”, ultrapassando 10 vezes os valores praticados normalmente na cidade.

“Alguns representantes pediram para tirar a COP de Belém. Há uma sensação de revolta, sobretudo dos países em desenvolvimento, que afirmam não conseguir arcar com os custos. Acredito que os hotéis não estejam se dando conta da crise que estão provocando”, disse Corrêa do Lago durante evento com a Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE) e o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), nesta quinta-feira (31).

A queixa internacional levou o bureau do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar uma reunião virtual de emergência no dia 29 de julho, com a presença de delegações estrangeiras, autoridades do Governo Federal e do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). A próxima rodada de discussões foi agendada para 11 de agosto.

Um dos principais articuladores da reunião foi Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores. Segundo ele, os países não estão dispostos a reduzir o número de participantes para cortar custos. “O Brasil tem opções para oferecer uma COP melhor. Estamos cobrando soluções, não aceitamos sermos orientados a limitar nossas delegações”, afirmou à Reuters.

O problema não se limita às nações mais pobres. Diplomatas europeus, africanos e de países da Oceania também alertaram sobre os preços “impraticáveis”. Alguns hotéis em Belém chegaram a cobrar mais de US$ 2 mil por diária. A escassez de vagas agravou o cenário e levou o governo brasileiro a tomar medidas emergenciais.

Hotéis flutuantes

Entre as ações adotadas está a contratação de dois navios de cruzeiro, o MSC Seaview e o Costa Diadema, que funcionarão como hotéis flutuantes, com 3.900 cabines e capacidade para cerca de 6 mil pessoas. O contrato prevê uma garantia de R$ 259 milhões às operadoras dos cruzeiros, valor que poderá ser repassado ao governo caso a ocupação não atinja os níveis mínimos exigidos.

Outra medida cogitada é a utilização de unidades do programa Minha Casa Minha Vida em Belém, ainda em fase de construção, como alternativa de estadia para participantes. Além disso, salas de aula podem ser usadas para alojar agentes da Polícia Rodoviária Federal, que terá cerca de 900 servidores atuando durante a COP.

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A Secretaria Extraordinária da COP30 (Secop) afirma que o Governo Federal está comprometido com uma conferência “ampla, inclusiva e acessível” e que o plano de acomodação está sendo implementado em fases. Segundo a Secop, até o momento há 2.500 quartos individuais disponíveis, com tarifas entre US$ 100 e US$ 600.

Para os 73 países classificados como menos desenvolvidos ou pequenos estados insulares, foram reservados 15 quartos por delegação, com preços entre US$ 100 e US$ 200. Já para os demais países, estão disponíveis 10 quartos individuais por delegação, com valores de US$ 220 a US$ 600.

O tema da hospedagem foi um dos principais pontos de tensão durante a última reunião preparatória da ONU, realizada em Bonn, na Alemanha. Delegações de diversos continentes demonstraram preocupação com a exclusão de países pobres do debate climático global, um retrocesso diante do compromisso de tornar a COP30 uma conferência inclusiva.

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