Cerrado no Triângulo: berço das águas vive sob ameaça no Dia Nacional de preservação

Bioma abriga cerca de 12 mil espécies de plantas, além de inúmeras veredas que funcionam como berço de rios como o São Francisco, o Paranaíba e o Paraná

, em Uberlândia

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Celebrado nesta quinta-feira (11), o Dia Nacional do Cerrado traz a tona a atenção para a importância ecológica, climática e cultural desse bioma, que ocupa 25% do território nacional e abriga as principais nascentes de rios que abastecem o Brasil. No Triângulo Mineiro, região estratégica para Minas Gerais, o Cerrado é espaço de transição e diversidade, mas enfrenta pressões crescentes da agropecuária e do uso do solo.

Cerrado no Triângulo Mineiro
Nascente na vereda no Cerrado, que fica dentro do Clube Caça e Pesca – Crédito: Kleber Del Claro/Divulgação

Triângulo como guardião das águas

O Cerrado abriga cerca de 12 mil espécies de plantas, sendo 4.400 endêmicas, além de inúmeras veredas que funcionam como berço de rios como o São Francisco, o Paranaíba e o Paraná. Para o professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Kléber Del Claro, a preservação local tem impacto direto na vida de milhões de pessoas.“O Cerrado já ocupou 25% do território nacional, hoje só temos 7% preservado. As nascentes que abastecem os grandes rios estão aqui. Matar o Cerrado é matar a água que nutre as fazendas e condenar o Brasil ao deserto”, afirma o pesquisador.

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Do total de 25% do território brasileiro originalmente coberto pelo Cerrado, atualmente apenas 7% permanecem preservados, sendo que entre 2% e 3% dessa área estão no Triângulo Mineiro. Essa redução ocorreu ao longo dos últimos 200 anos, com uma intensificação significativa nos últimos 50 anos.

Avanços e desafios na preservação

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que Minas Gerais registrou queda de 34% nos alertas de desmatamento no Cerrado entre agosto de 2024 e julho de 2025, enquanto o país apresentou média de redução de 20,8%. Apesar disso, o bioma segue como o mais pressionado, com 5.555 km² sob alerta no período, frente a 7.014 km² no ciclo anterior.

O avanço da soja, cana-de-açúcar e café tem alterado a paisagem do Triângulo Mineiro. A substituição da vegetação nativa e o uso intensivo de agrotóxicos reduzem a biodiversidade e colocam em risco serviços ambientais fundamentais, como a regulação do clima e a polinização de culturas agrícolas.

Abelha Centridini polinizando malpighiaceae no cerrado
Abelha Centridini polinizando malpighiaceae no cerrado – Crédito: Kleber Del Claro/Divulgação

Além do impacto ambiental, há riscos diretos à população. “Esgotar o manancial de água com a industrialização significa enfrentar estiagens de cinco a seis anos sem água útil nos reservatórios”, explica Del Claro.

Pesquisa e conhecimento como aliados

Universidades da região, como a UFU, desenvolvem projetos que unem ciência e tradição popular. Um exemplo é o “Reconhecimento e Uso de Plantas Medicinais e Comestíveis”, que leva comunidades a conhecer espécies típicas do Cerrado, como o pequi, o ora-pro-nóbis, a guariroba e o jenipapo.

A instituição também já produziu mais de 150 trabalhos científicos internacionais sobre o bioma, destacando o papel de insetos como formigas, que controlam pragas agrícolas, e borboletas e mariposas, que atuam como polinizadores essenciais.

Futuro do Cerrado no Triângulo Mineiro

Segundo o pesquisador Del Claro, a preservação do Cerrado no Triângulo Mineiro e em todo o Brasil depende de políticas públicas eficazes, fiscalização constante, pesquisas científicas e do engajamento da sociedade civil.

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“Universidades, órgãos ambientais e a comunidade têm um papel fundamental na conservação. Desenvolvemos pesquisas sobre veredas, fauna, flora e solo, investigando como o bioma se mantém e sua estrutura, por meio de mestrados, doutorados e trabalhos científicos.”, afirma o professor reforçando que a  conservação do Cerrado é um compromisso coletivo. “Sem ele, não há água, não há equilíbrio climático e não há futuro”, finalizou.