Brasil reivindica ilha submersa rica em minerais importantes
Formação geológica no Atlântico Sul, do tamanho da Espanha, pode ampliar território marítimo brasileiro e guardar riquezas essenciais para o futuro da energia
O Brasil reivindica ilha chamada Elevação do Rio Grande. Imagine uma ilha do tamanho da Espanha, com florestas tropicais, recifes e clima quente, hoje completamente submersa a mais de 5 mil metros de profundidade no Atlântico Sul. O país quer que esse território, conhecido como Elevação do Rio Grande, passe oficialmente a fazer parte de sua plataforma continental. A reivindicação, apresentada à Organização das Nações Unidas (ONU), é baseada em evidências geológicas que ligam a formação ao território nacional. Rica em minerais estratégicos — como cobalto, níquel e terras-raras — a área pode ser chave para o futuro energético do país, mas enfrenta desafios ambientais e diplomáticos.
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A Elevação do Rio Grande está localizada a cerca de 1.200 km da costa do Rio Grande do Sul e possui uma extensão de 500 mil km² — quase do tamanho da Espanha. Estudos realizados por instituições como a Universidade de São Paulo (USP) indicam que, há cerca de 45 milhões de anos, o local foi uma ilha vulcânica tropical, com clima quente, solo fértil e vegetação densa.
Pesquisadores encontraram camadas de argila vermelha entre rochas de origem vulcânica, o que comprova que a área já esteve acima do nível do mar. A composição do solo é praticamente idêntica à terra vermelha encontrada no interior de São Paulo, o que reforça a tese da ligação geológica com o Brasil — base essencial para a solicitação feita à ONU com base na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM).
A Marinha do Brasil, responsável pelo pedido, afirma que a Elevação está localizada na chamada Margem Oriental-Meridional, uma das três áreas além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) que o país busca incorporar oficialmente. Essa zona inclui uma faixa de 200 milhas náuticas (cerca de 370 km) a partir do litoral. O que está além dessa faixa é considerado patrimônio da humanidade e, por isso, requer comprovação científica para reivindicação por parte dos países.
Brasil reivindica ilha
O pedido brasileiro foi entregue à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da ONU em fevereiro deste ano. Um parecer técnico divulgado em março reconheceu a consistência da metodologia usada pelo Brasil, mas ainda não há prazo para uma decisão final.
A descoberta da origem vulcânica da Elevação do Rio Grande foi feita a partir de expedições científicas conduzidas por navios de pesquisa como o Alpha Crucis (da USP) e o Discovery (da Marinha britânica). Em uma das missões, um veículo submarino não-tripulado fez imagens detalhadas das camadas de solo da região, incluindo o cânion conhecido como “Grande Fenda” — um corte geológico impressionante no meio do oceano.
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Além do potencial geológico, a região guarda imensa importância estratégica. Contém minerais fundamentais para a produção de baterias, turbinas e tecnologias de transição energética — como as terras-raras, cuja extração e processamento ainda não são totalmente dominados pelo Brasil. Atualmente, o país detém a segunda maior reserva mundial dessas substâncias, mas ainda exporta a maior parte como matéria-prima bruta.
Os cientistas envolvidos alertam, no entanto, que a exploração desses recursos exige cuidado e planejamento. A região abriga ecossistemas ainda pouco conhecidos e delicados, cuja perturbação pode ter impactos irreversíveis. Por isso, o estudo segue uma abordagem multidisciplinar, com a participação de universidades como USP, Mackenzie, Universidade de Brasília (UNB), Universidade Estatual do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que buscam soluções equilibradas entre desenvolvimento e preservação.