Animais silvestres surgem em áreas urbanas e alertam para a urgência da preservação ambiental

No Dia Mundial do Meio Ambiente, biólogo explica como o desmatamento e a urbanização acelerada no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba estão empurrando a fauna silvestre para o convívio com os humanos

, em Uberlândia

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No Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, não é mais surpresa encontrar um gambá no quintal de casa, um tamanduá nas rodovias ou onças pelas ruas das cidades. Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a cena cotidiana nos traz um alerta. Animais silvestres estão deixando seus habitats naturais e entrando nas áreas urbanas. Mas o que está por trás desse fenômeno? Quais os impactos para a fauna e para a população humana? E como conciliar o desenvolvimento urbano com a preservação da biodiversidade? O biólogo Marco Aurélio Alves Perin ajuda a responder essas perguntas.

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Animais silvestres têm sido frequentes nas cidades devido a redução de seu habitat natural – Crédito: Internet/Divulgação

“A expansão desordenada do perímetro urbano tem promovido a fragmentação e degradação dos habitats naturais”, explica Perin. Segundo ele, diante da perda de habitat, muitas espécies são forçadas a se deslocar em busca de alimento, abrigo e segurança, o que as leva a adentrar as cidades.

O cenário é agravado pelas mudanças climáticas. “Os efeitos das mudanças climáticas, como alterações no regime de chuvas, aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos, têm contribuído para a escassez de recursos naturais em áreas de mata, tais como água e alimentos. Como consequência, animais silvestres tendem a explorar áreas antropizadas, onde frequentemente encontram resíduos sólidos urbanos, hortas domésticas e até mesmo alimentação ofertada intencionalmente por seres humanos, o que pode intensificar a sua permanência nesses locais e gerar conflitos entre fauna e população urbana”.

Embora algumas espécies sejam naturalmente mais adaptáveis — como gambás, morcegos, saguis e algumas aves — a recorrência de presença silvestre é um sinal preocupante. “Pode, sim, ser um indicativo de desequilíbrio ecológico”, afirma.

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A degradação das áreas verdes gera amplos problemas aos animais. “A redução da cobertura vegetal nativa compromete a conectividade entre fragmentos florestais, dificultando o deslocamento de espécies e a manutenção de populações viáveis a longo prazo”, explica. Isso leva a efeitos genéticos, como a diminuição da diversidade, e a riscos mais imediatos: atropelamentos em rodovias, transmissão de doenças entre animais silvestres e domésticos, e até ataques defensivos quando esses bichos se sentem acuados. Perin destaca ainda outros problemas existentes, como caça e maus-tratos.

Como mudar esse cenário?

O biólogo aponta uma série de medidas que podem ser adotadas pelos municípios das regiões para proteger a biodiversidade sem travar o desenvolvimento. Entre elas estão o fortalecimento dos Planos Diretores com diretrizes ambientais, a criação de corredores ecológicos – que são faixas de vegetação nativa ou áreas naturais que conectam fragmentos isolados de ecossistema -, a proteção de áreas de preservação permanente e o estímulo à arborização e à participação da comunidade.

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O Cerrado abriga uma grande biodiversidade e está ameaçado – Crédito: Arquivo/Agência Brasil/Reprodução

Atualmente, algumas áreas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ainda funcionam como refúgio para a fauna do Cerrado. Mas, como alerta o especialista, “essas áreas ainda não são suficientes”. O desafio, segundo ele, é equilibrar o crescimento urbano com a manutenção dos processos ecológicos essenciais.

É fundamental pensar nas cidades não apenas como espaços humanos, mas como parte de um ecossistema integrado, onde a vida silvestre também precisa de espaço para existir.

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a mensagem é clara: preservar áreas verdes não é apenas uma questão estética ou recreativa. É uma medida urgente para garantir o equilíbrio ecológico, proteger vidas — humanas e animais — e planejar um futuro mais sustentável. Afinal, como lembra Marco Aurélio Alves Perin, “a ocorrência de fauna silvestre em áreas urbanas deve ser interpretada como um sinal de alerta ambiental”.

“Esta é uma data que representa uma oportunidade estratégica para a reflexão crítica e mobilização social em prol da sustentabilidade, especialmente em regiões como a de Uberlândia e seu entorno, onde o avanço acelerado da urbanização e da atividade agropecuária tem causado impactos significativos sobre os remanescentes do bioma Cerrado, um dos mais ameaçados.

Essa data deve reforçar a compreensão de que o meio ambiente constitui a base dos sistemas ecológicos que sustentam a vida, sendo essencial para a regulação climática, manutenção do ciclo hidrológico, preservação do solo, e conservação da biodiversidade. Também deve nos lembrar de que o desenvolvimento econômico e urbano pode e deve ser orientado por princípios de sustentabilidade”, conclui o biólogo.