Memórias de autocuidado: o legado de Vovó Divina

O autocuidado é um gesto de amor e saúde; como uma simples rotina de beleza pode transformar vidas e fortalecer laços familiares

, em Uberlândia

24/06/2024 ÀS 13H46

- Atualizado Há 1 semana atrás

Era todo fim de tarde. Depois de conferir se a água do arroz tinha secado, desligar o fogo e tampar a panela de alumínio, Dona Divina me pegava pela mão.

Saíamos da cozinha meia-água , atravessávamos uma pequena varanda com a mesa branca e a tábua de passar roupa até chegar ao portão de madeira pintado de azul.

Estrategicamente colocado ali para que o nosso cachorro de nome ‘Til’ não entrasse com as patinhas sujas de terra.

A pequena copa tinha o piso vermelho onde se passava o escovão, uma enceradeira primitiva, para trazer brilho aos passos. Dona Divina era caprichosa em tudo que fazia.

E com a máquina de costura que ganhou do pai fez as cortinas de chita para separar os ambientes com graça. Nesse caminho sagrado chegávamos ao nosso destino, o quarto. Poucos metros para a cama de casal, o guarda-roupa e a penteadeira.

Ainda de mãos dadas nos sentávamos na ponta da cama espremidas no raro espaço entre os dois móveis. E então o ritual se dava. Do pote azul ela tirava o chumaço de algodão. Depois abria o vidro com um líquido cor de neve. Embebia o algodão e passava na minha pele. Cada toque exalava o perfume de rosas.

Eu fechava os olhos para sentir o aroma e a paz que ainda não sabia descrever. Enquanto se davam os pequenos círculos dona Divina me explicava , do jeitinho dela, sobre a importância do autocuidado. Na singeleza que lhe cabia me ensinava a cada tarde da necessidade de um olhar especial para si mesmo.

Não por acaso, o espelho nos revelava em tempos diferentes e apesar disso, da distância de idade, havia vigor. Vovó tinha linhas pelo rosto portanto não pesavam a aparência. Os traços desenhavam a saúde e as histórias de uma vida simples. Ficávamos ali por um tempo não marcado apenas vivenciado. Eu crescia e junto os conselhos: a cada ida minha ao clube logo avisava:

-Não fique demais no sol! E passe um creme!

Mônica Cunha sentada em uma penteadeira, com um livro nas mãos e um abajur acesso
Memórias que inspiram o autocuidado e o bem-estar. Foto: Arquivo pessoal

Às vezes me irritava um pouco, porém, aos 50 e poucos anos, percebo que a lista de recomendações reverbera até hoje entre começos e recomeços, conquistas e reajustes de logística, horários e posturas.

Cuidar de si não é fácil. Exige esforço, tempo. Fatores muitas vezes ignorados por tanto a cumprir nesse mundo do século XXI. Mas quando o resultado – por mínimo que seja – aparece é tão bom que se quer mais!

Autocuidado significa amor e respeito por esse que te habita! É movimento pela confiança, segurança e perseverança! Na minha opinião é rima da construção do melhor para nós mesmos.

Um caminho para autoestima e a certeza da responsabilidade de nos tratarmos com afetividade. Uma conexão íntima para bem viver. Arrisque-se. Trate-se com amor!

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