Entenda o que é a “chapa peixe” na eleição de vereadores

Em Uberlândia, o Progressistas conquistou a maior bancada de vereadores; é um exemplo prático de como funciona uma “chapa peixe”

17/10/2024 ÀS 16H35

- Atualizado Há 3 horas atrás

Não é uma tarefa fácil, principalmente para o eleitor, compreender como funciona a eleição de cargos legislativos no Brasil, o chamado Sistema Proporcional. Usado nas definições de vereadores e deputados, esse mecanismo privilegia a representação partidária em detrimento da figura de um candidato específico.

Em outras palavras, no Brasil, não se vota em um candidato a vereador determinado, mas sim no partido que esse candidato está inserido. A vaga, portanto, é do partido e não do candidato eleito. Os partidos políticos recebem financiamento público do conhecido Fundo Partidário (não é o Fundo Eleitoral) que deveria ser usado para promover a cidadania e incentivar a participação da sociedade na política. Ou seja, os partidos têm recursos para divulgar, por exemplo, como se elege um vereador no país, mas quase não se vê isso.

Pelo Sistema Proporcional o eleitor vota em um candidato, que estará obrigatoriamente ligado a algum partido político, ou pode votar também em uma legenda partidária. Serão eleitos aqueles candidatos mais votados que integram aquela lista do partido. A quantidade de cadeiras que cada legenda terá direito de ocupar depende de um cálculo matemático mais complexo chamado de quociente partidário.

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O que fica mais evidente é a importância da inteligência dos partidos na montagem das chapas que vão concorrer as eleições. Costumo dizer que cerca de 60% da estratégia de uma eleição de vereadores se define em meados de abril do ano da eleição, quando encerra o prazo da “janela partidária”. É o período que um vereador tem para mudar de partido sem que tenha prejuízo do mandato que esteja exercendo.

Neste momento a gente já começa a enxergar como deverá ser a estrutura de cada chapa com a formação dos “cabeças”, aquelas que já saem na frente dos demais candidatos por terem a estrutura de um mandato atuando, serem experientes e conhecidos do eleitorado.

Depois, o segundo momento mais importante da estratégia, responde por cerca de mais 30%. É quando das convenções partidárias. Neste momento os partidos preenchem as demais vagas da chapa com os candidatos que vão ajudar a garantir as cadeiras que o partido terá direito a preencher e outros que vão cumprir as exigências legais. Os 10% restantes são a campanha eleitoral e a votação.

Chapa peixe, eleição de vereadores
Uma “chapa peixe” montada com estratégia pode garantir a eleição de muitos vereadores de um partido político; nas Eleições 2024 em Uberlândia a lista de candidatos montada pelo Progressistas é um exemplo. Crédito: Vinícius Costa

A “chapa peixe” na eleição de vereadores

A “chapa peixe” é a mais desejada por todo partido político. Ela é chamada de peixe pois sua estrutura se assemelha com o animal aquático. É uma chapa que deve ter cabeça, dorso e rabo.

Em Uberlândia, com o resultado das Eleições 2024, temos um grande exemplo de “chapa peixe”. Foi a lista de candidatos montada pelo Partido Progressistas. A legenda levou a maior bancada da Câmara Municipal ocupando seis cadeiras de vereadores e bateu na trave para conquistar a sétima. Olhando para o resultado das urnas, podemos dizer que foi uma chapa tubarão. Tinha todos os elementos necessários para garantir ampla competitividade.

A “cabeça” é formada de candidatos extremamente competitivos e já experimentados nas urnas. São os atuais vereadores que disputam a reeleição ou lideranças destacadas que tenham grande potencial de voto. No caso do Progressistas, podemos identificar os seis vereadores eleitos e os dois primeiros suplentes que também tiveram considerável votação.

Depois vem o “dorso” que é composto pelos candidatos com médio potencial de votos, mas que contribuem muito na formação do quociente partidário e, com isso, ajudam o partido a atingir a quantidade de votos suficientes para garantir mais vagas a serem preenchidas. Normalmente são candidatos que já foram experimentados nas urnas no passado ou que despontaram em algum segmento a ponto de garantir uma votação razoável, mas não suficiente para se elegerem. No Progressistas, entre outros exemplos, podemos citar os ex-vereadores Magoo, Sgt. Rildo e Amado Júnior.

E, por fim, vem o “rabo” do peixe. São os candidatos iniciantes e com baixo potencial de votos, mas são importantes para ajudar a cumprir as exigências legais, sobretudo, a cota de gênero. Por lei, os candidatos de um partido devem ser 70% de um gênero e 30% de outro. Como a participação feminina é pequena, fica para as mulheres a cota menor. Veja que no caso do Progressistas, dos sete candidatos que ficaram na lanterna, seis são mulheres. Formam, portanto, o rabo do peixe.

No comando do casal Odelmo e Ana Paula Leão, o Progressistas fez o dever de casa e ainda ganhou estrelinha da professora. Montaram uma chapa forte e competitiva, utilizaram com estratégia e inteligência a lista de candidatos e elegeram cerca de 26% do legislativo uberlandense.

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