A involução nos debates políticos

São Paulo assiste aos debates promovidos pelos veículos de comunicação não para conhecer programas de governo, mas para ver quem conseguirá tirar o outro do sério

16/09/2024 ÀS 18H48

- Atualizado Há 2 meses atrás

“Involução” não é uma palavra comum de se ler. Tive dúvidas até mesmo de sua existência. Fui ao dicionário e encontrei a seguinte definição: Movimento regressivo, processo de regredir, andar para trás, voltar no tempo.

A raça humana, fruto da evolução da espécie, é considerada aquela que fez o mundo avançar em suas ideias, raciocínio e poder de inteligência. O controle dos instintos e a capacidade de manter o equilíbrio emocional são distintivos dessa evolução. A habilidade de não agir por impulso e de desfrutar de ações delicadas, previsíveis e harmônicas é fundamental. Pode ser, mas há ressalvas.

O debate eleitoral deveria ser o campo das propostas, no qual venceria o melhor e mais bem-sucedido conjunto de proposições para o bem-estar da sociedade. Não é o que se vê em 2024.

A civilidade é algo que passa longe na arena política da maior cidade da América do Sul. São Paulo assiste aos debates promovidos pelos veículos de comunicação não para conhecer programas de governo, mas para ver quem vai tirar o outro do sério, a ponto de um deslize, a derrapada insana que projeta o outro a uma ação irracional.

Não é digno sacar uma cadeira e atirá-la contra o corpo de um adversário, assim como não é apropriado lançar palavras ao vento aguardando o repique do lado oposto.

Candidatos à Prefeitura de SP, Datena e Pablo Marçal, protagonizam cena lamentável durante debate
Candidatos à Prefeitura de SP, Datena e Pablo Marçal, protagonizam cena lamentável durante debate – Crédito: TV Cultura/Reprodução

Lembro-me de que Augusto Cury escreveu certa vez sobre debates e morte, afirmando que a única capaz de pôr o adversário em situação de revés definitivo é a morte: ” A morte é cruel. Digladia com intelectuais e os torna meninos. Debate com ateus e os transforma em tímidas crianças. Guerreia contra generais e os torna frágeis combatentes. Batalha com milionários e os sepulta na lama da miserabilidade. Duela contra celebridades e as faz beijar a lona da insignificância. A vida sempre nos dá outras oportunidades, a morte nunca”.

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E na prática, quem não sucumbe?

Bom, peço permissão pra recordar o couro grosso de Paulo Maluf, que nunca caía nesse tipo de cilada. Por mais que fosse chamado de ladrão, corrupto, safado e despautérios similares, mantinha-se impávido, como se dele não falassem.

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Invocava, sempre que pudesse, a Santa Casa de Misericórdia, para onde mandaria sua fortuna caso alguém provasse um desvio de seu caráter. Sua face nem sequer  se ruborizava.

Sei que é impensável sentir saudades de Maluf, não falo do homem público e sim do comportamento em situações indesejadas.

Quem quer carreira política precisa entender que o caminho é espinhoso e a artilharia sempre estará voltada para quem estiver em destaque.

E como aprendi cá em Minas Gerais: “se você não tem rabo, prepare-se, vão pregar um em você”.

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