Médica exonerada por sequestro de bebê tinha duplo vínculo em universidades públicas
Professora ocupada cargo efetivo de 40 horas semanais na UEG e também na UFU; Em julho de 2024 ela escondeu uma recém-nascida em sua mochila e deixou o HC/UFU
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A médica neurologista e professora Cláudia Soares Alves, exonerada da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por ter sequestrado um bebê recém nascido no Hospital de Clínicas, ocupava também um cargo efetivo de 40 horas semanais na Universidade Estadual de Goiás (UEG) desde 2019 até 10 de julho de 2024 conforme o Diário Oficial, configurando duplo vínculo.
A descoberta do duplo vínculo, oficializada após sua exoneração da UFU publicada no Diário Oficial da União de 3 de setembro de 2025, trouxe debates sobre os limites legais da acumulação de cargos públicos e a compatibilidade de jornadas em diferentes esferas de governo.
Atualmente, Cláudia Soares responde em liberdade após ter deixado a penitenciária feminina de Orizona (GO), por decisão judicial.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 37, inciso XVI, é proibida a acumulação de cargos públicos, salvo em exceções específicas, como quando se trata de dois cargos de professor, ou de um cargo de professor com outro técnico ou científico. Porém, a legislação exige compatibilidade de horários e respeito ao regime de dedicação.
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No caso de Cláudia Soares, ela possuía vínculo de 40 horas na UEG desde 2019 e, em maio de 2024, havia tomado posse na UFU, também em regime de 40 horas semanais. A inviabilidade de cumprir 80 horas semanais em instituições distintas levantou dúvidas sobre se o cargo na UFU seria de dedicação exclusiva, hipótese que tornaria a acumulação ilegal.
O crime que chocou o Triângulo Mineiro
Na noite de 23 de julho de 2024, vestindo jaleco, crachá e máscara, Cláudia Soares entrou no Hospital de Clínicas da UFU apresentando-se como pediatra. Ela abordou os pais de uma bebê com três horas de vida e levou a criança alegando que precisava alimentá-la. Em seguida, escondeu a recém-nascida em uma mochila e deixou o hospital.

A Polícia Militar rastreou seu trajeto pela BR-365 e localizou a bebê no dia seguinte na residência da médica em Itumbiara (GO). No imóvel, foram encontrados diversos itens infantis, o que indicava a intenção de permanecer com a criança. Cláudia Soares foi presa em flagrante e responde por tráfico de pessoas, falsidade ideológica e sequestro. Sua defesa sustenta que ela sofre de transtorno bipolar e agiu durante uma crise psicótica.
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Trajetória acadêmica
Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Cláudia Soares era especialista em Clínica Médica e Neurologia. Possuía mestrado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Na época de sua prisão, desenvolvia um segundo doutorado na UFU.
Exoneração e lacunas
A UFU fundamentou a exoneração na Lei nº 8.112/1990, destacando a quebra de conduta compatível com a moralidade administrativa. Por estar em estágio probatório, a decisão foi considerada irreversível no âmbito interno. A reportagem solicitou informações a UFU que até o momento, não esclareceu oficialmente como eram geridos os regimes de trabalho da docente.
A UEG comunicou ao Paranaíba Mais que Cláudia Soares Alves manteve vínculo com a universidade até 10 de julho de 2024, quando foi realizada sua exoneração.
O caso segue na Justiça e permanece como um marco de discussão sobre os limites da acumulação de cargos públicos e os mecanismos de fiscalização do serviço público no Brasil.